No ano de 1981 visitei os Estados Unidos da América com minha falecida mulher, de
saudosa memória, Olga Lopes Neves, que havia sido convidada para tomar parte no festival comemorativo do cinquentenário do curso liceal (High School) do “Dartmouth High School”. Vários amigos, familiares ali residentes e antigos colegas tiveram a gentileza de nos convidar para almoços, quer nas próprias casas quer em restaurantes.
Uma antiga professora liceal, da família, convidou-nos para almoçarmos na sua residência nas margens do rio Taunton, onde foi encontrada a célebre Pedra de Dighton. Depois do almoço a nossa anfitriã dirigiu-se para a margem do rio – bastava atravessar a rua – levando um recipiente com os restos do repasto. E qual não foi o meu espanto quando vimos que, da outra margem, um bando de patos se dirigia para o local onde a Senhora se encontrava. Deitou a comida à água e os patos , que eram duas ou três dezenas, fizeram o seu repasto, voltando em seguida para a outra margem.
Passando pela ponte do rio, que ficava ali perto, fomos ver a cabine que guardava a célebre Pedra de Dighton. Os patos já faziam a sexta, no relvado do parque, sob o olhar atento do Guarda Florestal.
Em parêntesis, registo que nos foi agradável ver este cuidado, tanto da senhora como do funcionário florestal, pelos patos que, com o seu esvoaçar lento, davam uma nota de vida e alegria ao ambiente.
Não menos agradável foi estar junto da célebre Pedra que, segundo o Dr. Manuel Luciano da Silva, “Tem gravado o nome de Miguel Corte Real, as Armas de Portugal e a Cruz da Ordem de Cristo”. E uma inscrição que parece dizer que o Miguel foi ali rei dos índios. A pedra contem de facto uns arabescos. Decifrá-los?
No seu livro “Os Pioneiros Portugueses e a Pedra de Dighton”, o Dr. Manuel Luciano Da Silva informa que “Até Agosto de 1963 , a Pedra de Dighton jazia na margem esquerda do rio Taunton, mergulhada entre a corrente da praia-mar e da baixa-mar.” Em 1963, o Departamento dos Recursos Naturais de Massachusetts pôs fim a uma tão longa controvérsia, demonstrando que a rocha era um bloco de seixo e não de recife.
Os patos da Lagoa de Cima
A pedra foi retirada do rio e colocada sobre um paredão resguardado mas actualmente (quando a visitámos) já se encontrava recolhida numa cabine dupla, completamente fechada. No entanto, por permissão do guarda que nos acompanhava, tive o privilégio de me sentar sobre o célebre monumento.
Todavia o que mais importa neste escrito são os “nossos” patos da Lagoa do porto desta vila das Lajes. Tarde soube da sua existência, mas, depois, agradava-me observá-los nas suas voltas no varadouro e rua adjacente. Interessante mesmo vê-los seguir pelo passeio da muralha e, só então, onde existe a passadeira que permite passar dali para o relvado em frente do Museu, eles atravessavam a rua para ir debicar e descansar na relva.
Num dos meus raros passeios àquela zona, presenciei um(a) deles fazer o dito percurso com um rancho de patinhos atrás de si. Fiquei encantado. Lembrei-me dos patos do rio Taunton e, regozijei-me com aquela simpática presença. Mas foi por pouco tempo...
Mais tarde tive conhecimento, com mágoa, que um qualquer energúmeno havia destruído os simpáticos bichos e ainda a grande maioria dos adultos. E, que eu saiba, minguem se atreveu a contestar a proeza.
Fiquei contristado e só tive pena de não existir por cá uma Sociedade Protectora dos Animais, como as há em outras terras civilizadas, que velasse pela existência dos patos da Lagoa, e promovesse as acções necessárias à penalização de quantos lhes causassem dano.
Deixem viver e “fazer a sua vida” os patinhos da Lagoa, que ali apareceram nem sei como, mas que são um sinal de civilização. Já foram a S. Francisco da Califórnia, como aliás a outras cidades americanas, e já se encontraram, na beira rio, com as centenas de aves que andam nos largos e ruas, sem que haja alguém que se atreva a molestá-las? Porque se o fizer, conte com a acção enérgica da Polícia que por lá anda. Disso dou testemunho.
Estes são os que restam e foram escorraçados para a maré
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