Dentro de poucas semanas, três somente, chegaremos à Primavera. Ela, porém, não se advinha de feição. As chuvas continuam e as geadas caiem de vez em quando, obrigando-nos a aumentar as roupas de agasalho.
Para os campos já pouco interessa que chova ou faça sol, porque são poucos os terrenos aproveitados. Infelizmente.
Importa-se tudo, até a fruta. E de que qualidade? Por onde anda o sabor da fruta picoense que diariamente era levada, pelas mulheres da Fronteira, para a Ilha Vizinha? E, no verão, nos iates à vela e, depois, motorizados, para as ilhas Terceira e, principalmente, São Miguel, onde era disputada pelos naturais, apesar de por lá existir o ananás, classificado como rei da fruta? Mas, esse mesmo não escapou à arremetida feroz de frutos que, de ananás, pouco têm, como seja o abacaxi!...
As nossas quintas estão praticamente abandonadas. Ao menos por estes lados.
É uma pena o que está a acontecer. Desapareceram, creio, as figueiras de Santa Luzia e, com elas, a aguardente que era vendida pela ilha, porta a porta, por homens e mulheres. E não só na ilha, pois não havia fiscalização que impedisse o comércio. E quantas vezes trocada por cereais e outros géneros alimentícios?!
Por cá, o mesmo acontecia, pois a aguardente era apreciada, principalmente nos dias de inverno, quando o frio era intenso e a roupa pouca...
Tudo está mudado. Mudam as pessoas os hábitos e os costumes tradicionais.
Mudam os ventos e as chuvas. Mudam o frio e o calor. E que friorento vai este Inverno que estamos a passar?! A Montanha, de dias a dias, mostrava-nos o seu manto alvinitente, belo, a espelhar um sol brilhante mas que mal aquecia os corpos. E foi agradável ver cair, um ou outro dia, a geada a bater fortemente nas janelas e a esbranquiçar as ruas.
Dizem que os tempos estão mudados. Pode acontecer que, num futuro próximo, o verão seja inverno e o inverno, verão. A natureza é caprichosa por vezes e não são as teorias e invenções do homem que a alteram, mesmo ele que tenha de caminhar apressadamente para Marte ou para a Lua...
Por enquanto vamos seguindo as previsões dos técnicos da Meteorologia e os almanaques, os antigos, que nos indicavam com subtileza o que poderia acontecer no ano, mas ressalvado pela sigla: Deus super omnia!
Melhor será termos a cabeça fria e os pés bem assentes no chão e aguardar aquilo que Deus nos enviar.
Há um preceito evangélico que diz: Põe a tua mão e Eu te ajudarei!... Que assim seja!
Vamos esperar pela Primavera com calma e esperança. Entretanto, vamos seguindo a nossa trajectória na vida, enquanto nos for permitido.
Aí vem a Primavera e, três meses depois, estamos no Verão. Nessa altura o Pico, agora quase desabitado, ficará cheio. Algumas das residenciais já estão apalavradas ou reservadas como soe dizer-se, por visitantes estrangeiros.
Que eles cheguem e nos tragam, com o seu convívio são, uns dias de conforto e bem-estar. E que venham também aqueles que nossos são: da Diáspora, os emigrantes que um dia daqui partiram para nos deixarem mais pobres; dos Centros Universitários, os nossos jovens para estarem com as famílias e amigos e reatarem uma ligação, que seja forte, às terras de origem.
Vamos esperar com calma e serenidade que o Bom Tempo chegue e a todos conforte e alegre.
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