Depois de muitos clamores e penares por terra e mar, chega-nos a notícia de que a Ilha do Pico vai voltar a ser a terra natal para as gerações futuras. Mas quando? - perguntamos nós.
Não é há muitos anos que a ilha do Pico foi interditada a nascimentos e… quase óbitos. É ver, com olhos bem abertos, o que se passa.
O nascer na ilha passou a ser um “crime” punível pelas leis regionais. E precisamente quando a taxa de natalidade, por circunstâncias várias, baixava drasticamente. Senão vejamos : No final do último quartel do século dezanove nasciam e eram baptizados na Matriz da SS. Trindade mais de 100 (cem!) neófitos naturais da paróquia. Na década de cinquenta o concelho registava somente cerca de cem nascimentos. E actualmente?
Nesse período raro, raríssimo era o óbito de um recém-nascido ou mesmo de uma criança de tenra idade.
Enquanto não houve serviço hospitalar no concelho os nascimentos tinham lugar nas residências das próprias mães, como aliás em toda a parte, e raramente eram assistidos por médico. Só a partir de 1960, com a entrada em funcionamento do antigo hospital concelhio (agora é Centro de Saúde), as parturientes começaram a utilizar, ainda em pequeno número, os serviços hospitalares, até que todas se convenceram que ali eram melhor assistidas, dado que o Médico Municipal tinha essa especialidade. E, para tal, foram sendo admitidas enfermeiras especializadas. Mas, chegou o dia em que era, talvez, necessário dar mais movimento, pois outra razão nunca encontrei, para que as parturientes fossem atendidas no Hospital Walter Bensaúde. Aí principiou a tragédia das travessias no canal, os nascimentos, casuais, a bordo das lanchas e das ambulâncias e sobretudo a deslocação para fora de casa das futuras mães com todos os inconvenientes que isso sempre acarretou.
Entretanto surge uma lei que permitia o registo de nascimento nas residências das mães. Mas quantos, por conveniência de aproveitarem os subsídios da Previdência, os faziam ( ou fazem) nas Conservatórias das cidades? Ou mesmo nos próprios hospitais, como parece que agora é permitido?!
Não é menos angustiosa a situação dos doentes e sinistrados. Porque não há médicos especialistas na Ilha, lá vão eles, de barco, de avião ou de helicóptero para o chamado hospital central da Horta e, quando este não o pode atender, para o de Angra e/ou Ponta Delgada. E depois para Lisboa… E por aí acontecem os desenlaces e, depois, as trasladações para aqueles que as podem suportar.
Há dias chamavam-me a atenção para uma estatística recentemente publicada, que indicava o número de consultas de especialidade feitas nos Centros de Saúde da Ilha do Pico. E via-se a triste realidade: o concelho das Lajes éra o que acusava menor número de consultas naturalmente à falta de médicos especialistas. Talvez esse o motivo, pois todos sabemos que as populações vão envelhecendo dia-a-dia e as carências aumentam constantemente.
São bem poucos os clínicos especialistas que se deslocam ao concelho das Lajes. Está para detrás da ilha e é cómodo ficar pelos outros concelhos onde as comunicações com o exterior são mais rápidas. Será esta a razão forte, ou outra ou outras existem para justificar a ausência de especialistas no concelho? Além disso, até há pouco havia dois consultórios particulares nesta Vila - hoje existe um – e neles podiam ou podem exercer, facultativamente, médicos especialistas vindos de outras ilhas ou até do continente. Mas essas consultas, com certeza, não são registadas nas estatísticas oficiais.
Estou somente a lembrar o que por aí vai sobre a saúde dos lajenses. E a propósito, pessoalmente, só tenho a registar o meu reconhecimento pela maneira gentil e atenciosa como sou recebido e tratado de meus achaques, que já não são poucos, pelos Médicos lajenses, a quem devo esta palavra de gratidão.
Sei que mais não podem fazer. Os meios auxiliares de diagnóstico de que dispõem são primários, uma legislação que lhes coarcta a actividade e umas instalações que já se encontram obsoletas. E não se fala, nos meios políticos, em outras conseguir ou as actuais melhorar.
O centro de saúde de S. Roque é de construção recente. O edifício antigo foi restituído à Misericórdia local, sua proprietária.
Anuncia-se que a Madalena vai ter novo centro de saúde.( Há quem diga que será o hospital de ilha. Mas essa hipótese já foi posta quando se construiu o de São Roque…)
No das Lajes não se ouve falar. Nem sequer os representantes do Povo, possivelmente atarefados em outros sectores…
É realmente uma lástima (para usar uma expressão popular) o que nos está a acontecer para estas bandas do Sul.
Quando é que temos políticos lajenses que se interessem pela sua terra e que façam valer, com dedicação e isenção, perante as entidades públicas, os direitos dos povos que os elegeram, se bem que compreenda que, para alguns, será difícil essa missão ?…
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