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As Festas da Silveira


Estamos com o verão em casa. É a época das festas mais apetecidas.

Outrora, os lajenses tinham como festas principais as chamadas Festas de Verão da Silveira. Era então a Silveira a estância de veraneio. Todos para lá se transferiam, ou para as próprias adegas do “Caminho de Baixo” ou para casas de velhos amigos. Raros eram os que dispensavam uns dias na Silveira, sobretudo para aproveitar melhor a apreciada água da Fonte e gozar a frescura do lugar, com um clima excepcional.

Mas a Silveira tem um encanto especial para os lajenses, que Amâncio Victor (P. Francisco Vieira Soares), um dia, em artigo publicado na antiga revista “Eco Cedrense”, (25 - IV – 1929) que ele próprio havia fundado na freguesia dos Cedros, da Ilha do Faial, onde se encontrava como coadjutor do Pároco, assim exaltou: “Fresca e vistosa, com as suas casitas brancas de neve cercadas de luxuriantes latadas, donde pendem os mais saborosos cachos a vigiar-nos por detrás da verdura das folhas com um risinho malicioso, abraçando-nos em desejos e submetendo a uma duríssima prova o nosso respeito pelo alheio, a Silveira do Pico é, sem dúvida, o melhor lugar da Ilha onde, com sossego, depois de quase um ano de trabalho extenuante, nos podemos entregar nos braços da natureza durante uns dois meses de verão, a renovar forças e a fazer novas provisões de vida e saúde para novos trabalhos”.

E a Silveira, subúrbio da Vila das Lajes, sempre assim foi. Normalmente, ia-se para a Silveira nos primeiros dias de Julho para aproveitar as Festas de Santo Cristo, que tradicionalmente se realizam no primeiro domingo do mês.

A 15 de Agosto celebrava-se, como ainda hoje, a festa da Mãe de Deus, por certo a maior da localidade. A seguir, no dia 24 a do Padroeiro, S. Bartolomeu.

“O Dever” a 13 de Setembro de 1930 , a propósito da Imagem de Nossa Senhora de Fátima, dá a seguinte notícia: “No dia 13 de Agosto de 1930, à noite, houve uma importante e encantadora procissão de velas com edificante piedade e pregação ao ar livre (no Largo do Beleza e no balcão de José Naia) em honra de Nossa Senhora de Fátima. A primeira Imagem chegada à Ilha foi entronizada na igreja da Silveira, onde se realizou a festa a que se refere a notícia. Esta passou a realizar-se no mês de Setembro."

Procissão com a imagem da Mãe de Deus na Silveira -Pico

Durante alguns anos dei o meu modesto concurso nas Festas da Igreja de S. Bartolomeu da Silveira. Mas nisto tudo há uma história algo rocambolesca.

O Pároco da Silveira era o lajense, Pe. Manuel Vieira Feliciano, que ali exerceu o seu múnus desde o falecimento do Pe. Jerónimo, em 1904, até ao seu falecimento, em 26 de Março de 1962. Embora a Silveira fosse um curato sufragâneo da Matriz das Lajes, o Pe. Feliciano, seu cura, administrava-o como paróquia dado o óptimo relacionamento e amizade que sempre existiu entre ele e o Pároco, P. José Vieira Soares, colegas de curso. A ele se ficou a dever o restauro completo da Igreja de São Bartolomeu, pasto de um pavoroso incêndio sucedido na noite de 23 para 24 de Junho de 1924.

Restaurada a igreja, e adquiridas as respectivas imagens dos santos ali venerados, foram recomeçadas as festas e organizada a respectiva capela sob a regência de Francisco Vieira Beleza, uma notável voz de baritono e que havia sido companheiro do Pe. José d’Ávila nas aulas do grande mestre Pe. João Pereira da Terra.

O Pe. Feliciano tinha por hábito servir o jantar (hoje seria almoço…) aos colegas sacerdotes e aos músicos da Capela que tomavam parte nas festividades. Estava-se nos primeiros anos da Ditadura Militar. A acção dos partidos políticos ainda não havia terminado. Durante o repasto de uma das festas, discutiram-se assuntos políticos e sobretudo a acção do Governador que, como então acontecia, se “encostara” a um dos partidos. No dia imediato o Governo Civil estava informado do que se passara em casa do P. Feliciano e, imediatamente, os sacerdotes foram chamados à Policia da Horta para declarações. Nada resultou. No entanto Pe. Feliciano, não tolerando o desrespeito da sua casa, acabou com a capela e o Beleza e seus companheiros deixaram de colaborar nas festividades de S. Bartolomeu.

Novo como era e alheio a toda a politiquice da época, passei a colaborar nas festas da Silveira com músicos de S. João, David Ferreira, João Barroso, Tomás Ganhado, sob a regência de Gil Xavier Bettencourt. Chegámos os dois a ir na moto de João de Brum Bettencourt, uma possante moto que trouxe dos E.U. e que nos levava e trazia (os três).

Com a chegada à freguesia do Prof. Manuel José dos Santos, excelente músico, organizou ele uma capela na Silveira e assumiu a sua regência. Era organista D. Angélica Vieira. O orgão, que o segundo incêndio veio a destruir, fora construído pelo organeiro Manuel Serpa da Silva, em 1890 para a igreja dos Biscoitos, São Jorge, e fora vendido para a igreja da Silveira porque a Igreja dos Biscoitos era muito húmida e estava a estragá-lo.(P. M. Azevedo Cunha, in “Notas Históricas” - 1924).

E já agora uma nota: No frontispício da Igreja de São Bartolomeu existe uma placa onde se lê:. “Construída com esmolas do povo. Começada em 1879 . Concluída em 1888”.

Eram concorridos e alegres os arrais das festas da Silveira. Lá se encontravam as primeiras frutas da época, escolhidas e de óptimo aromo e paladar, algumas até, provenientes de espécies raras.

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