Crónica de um seu “irmão” que embora não o fosse biologicamente falando, era-o bem do fundo do coração. Com a partida deste seu “irmão”, o autor destas linhas, pode afirmar que ficou mais triste e mais solitário no seio do seu circulo de bons amigos, camaradas de luta contra as prepotências e à falta de justiça social, e no seu esforço titânico e afinco de enraizar, por estas terras de acolhimento, tudo de bom que a nossa cultura lusitana tem para oferecer e patentear e exteriorizar o amor sublime à pátria que o viu nascer e àquela que, por opção, adoptou anos mais tarde.
God saw you getting tired when a cure was not to be.
So He closed His arms around you and whispered “Come to me”.
With tearful eyes we watched you pass away, although we loved you dearly,
we could not wish you to stay
Cada ano que passa a nossa comunidade portuguesa vai ficando mais pobre com o desaparecimento físico de muitos obreiros e voluntários que nos habituamos a ver durante os muitos eventos que semanalmente acontecem no nosso meio. São esses voluntários, que investem horas sem conta para o bem do seu grupo étnico e do meio social geral onde estão inseridos, que fazem com que as suas raízes culturais não se percam nas brumas dos anos corridos e que sejam, ao mesmo tempo, passada, essa riqueza cultural, às gerações vindouras.
Uns são por razões das suas crenças religiosa, como as Irmandades do Divino Espírito Santo, Senhor Santo Cristo dos Milagres, Senhor da Pedra, São Bento da Porta Aberta, Nossa Senhora de Fátima e outras mais. Outros estão virados para o folclore com os seus trajes típicos e até com músicos e charangueiros a acompanhar as exibições com os seus instrumentos alguns dos quais até classificados de artesanais. Outros há que se envolvem na formação de associações e clubes de cariz regional e até em grupos desportivos com a formação de equipas tanto de adultos como de jovens.
Mas há também aqueles que estão mais virados para a justiça social que criticam e se envolvem em tudo que acreditam que os direitos humanos, a liberdade e a democracia esteja em perigo ou a ser espezinhada como é o caso da defunta e saudosa Associação Democrática e a presente Associação Cultural 25 de Abril de Toronto.
Para estes que acreditam nos valores democráticos e que há muito que se envolveram e prestaram um trabalho soberbo, aqui, no Canadá, quando dos tempos em que a ditadura fascista estava implantada em Portugal, essa luta continua, cada dia mais redrobrada, pois não pode ser arquivada nestes momentos tão criticos para a Paz e para os Direitos Humanos neste malogrado e sofredor mundo onde vivemos para assim, deste modo, se manter de pé os sagrados valores e a chama eterna da Liberdade e da Democracia que, a cada momento que passa, poderão, com as desculpas mais esfarrapadas que se conhece, vir a ser cerceada, em parte ou totalmente.
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Muitos nomes teria que que os deixar registados neste espaço limitado mas apenas me refiro a alguns como o Walter Lopes, Liberal do Couto, Manuel Sanchez, Mário Lebre e agora, a engrossar a lista dos seus nomes, o desaparecimento de Silvino Nazaré, que após breve luta com uma doença incurável partiu, de vez, para o Reino do Criador, isto para aqueles que acreditam que há Deus.
Foi tudo tão repentinamente, no encerrar de quinta-feira, dia 11 deste mês de Dezembro, quando aquele nosso membro comunitário, fechou os olhos para sempre após ser levado poucas horas antes para o banco de urgências de um hospital não muito longe onde vivia.
Tudo foi feito pela equipa médica de serviço para o salvar mas infortunadamente não teve o sucesso que tão ansiosamente se esperava. O Criador teve a Sua ultima palavra levando o Silvino do nosso convívio.
A popularidade do Silvino Nazaré não era um mito mas sim uma realidade incontestada e a prova do que dizemos foi a afluência de povo que lotou, durante horas, o espaço, bem dilatado, da casa funerária, "Fratelli Vescio Funeral Homes”, sito no 8101 da Weston Road, em Maple, onde no passado domingo o féretro do Silvino esteve em câmara ardente para ser visitado pelos muitos e muitos amigos que granjeou ao longo da sua permanência entre nós.
Na segunda-feira, realizou-se, pelas 10 horas da manhã, uma missa de corpo presente na Igreja de St. Clare of Assisi, localizada a poucos metro das traseiras da casa onde viveu até há poucos meses, na LaRocca com a Weston perto da Ruthford Road, após que seguiu para o crematório, por respeito pelos seus desejos manifestados enquanto em vida.
À família enlutada a redacção deste portal formula desejos de sentidos pêsames vinculando que o Silvino Nazaré embora não mais esteja mais fisicamente entre nós, está, no entanto, bem dentro de nós, em espírito, como aquele velho adágio nos diz - “O Homem morre mas a sua obra fica”.
E foi o que aconteceu com aquele coração tão orgulhoso de ser português e, acima de tudo, de amar as suas raizes e a sua cultura além do seu envolvimento na comunidade que pertencia, desde o momento em que pisou o chão deste grande país de acolhimento, o Canadá, um belo exemplo a apontar a todos, sem excepção, novos e menos novos.
Adeus e até um dia... Silvino.
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