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Tempos que já não voltam

 

Quando se chega a uma certa idade passa-se a viver de recordações. Recordações dos tempos idos e que não voltam. E tão diferentes que eram! Piores? Melhores? Diferentes!

As famílias eram mais unidas. E tão unidas eram que a saída de um membro, que emigrava, ou de um que resolvia constituir o seu lar, provocava um vácuo, deixava uma saudade enorme e, se antes era para estranhas terras, quase o luto se apossava dos familiares que ficavam. Longe da casa paterna, os que a haviam deixado, não raro a recordavam com quantas saudades! Saudades tenho saudades,/ saudades tenho de alguém,/ saudades da minha terra,/ saudades da minha mãe”.

Actualmente são outros os cantares... As saudades da terra natal e das pessoas de família, normalmente são ténues ou não existem.  Outros meios, outros amigos se encontram, outras vivências mais aliciantes se descobrem... E todo o passado esquece.

Os que agora emigram para o estrangeiro, normalmente, levam consigo toda a família; idosos, filhos adolescentes ou bebés de colo. Raros deixam algum  membro da família atrás. E, quando decorridos os anos,  e depois de conseguirem  estabilidade económica, só cá voltam de visita, por escassas semanas, pois o “trabalho” os espera e o “bosse”, não permite atrasos no regresso.

Pior ainda os que daqui partem para continuar estudos. Matriculam-se em cursos que, quase sempre, não têm “saídas” por cá... Depois, arranjam ligações, conhecimentos vários e instalam-se definitivamente nos novos meios. Os pais vão enviando, ou depositando regularmente as verbas necessárias para as matrículas, livros, hospedagem e alguns “extraordinários” e, no fim do ano lectivo, as passagens de regresso a casa.

E alguns deles com quantos sacrifícios!  Mas, muitas vezes esse “regresso” é de escassas semanas, pois têm de preparar, dizem, uma “cadeira” que deixaram para segunda época...

A Vila das Lajes

As famílias, em silêncio, sofrem as ausências. As terras, ficam empobrecidas de valores e vão caindo na decrepitude. Concluídos os cursos procuram instalar-se nos meios “padrastos” e por lá se fixam. Não podem vir a férias porque o trabalho passa a ser muito. Raramente dão notícias às famílias. E, anos decorridos, quando encontram algum conterrâneo e falam da terra é para “lamentar” o atraso em que ela se encontra, pois na Terra já não há ninguém capaz de alguma coisa fazer. E é verdade! esquecem que nessa terra houve ou ainda existe, Alguém que lhes pagou os “estudos”, com avultadas quantias conseguidas com sacrifícios tamanhos, sem que eles se lembrassem, talvez, de “restituir” as verbas que gastaram durante os longos anos da Universidade. E que aqueles que trabalhavam foram desaparecendo, sem que houvesse, localmente, alguém que os substituísse...

Não serão eles que, abandonando as terras de origens, a maioria das vezes contribuem para a sua degradação e atrofiamento? Quantos já pensaram nisso?
Mas aqui deixo muito sinceramente uma palavra de reconhecimento e de estímulo  àqueles, poucos, que, concluídos os cursos, tiveram a coragem de voltar!

Acresce lembrar que moradias, outrora sumptuosas e imponentes, caiem na degradação. As ervas daninhas e os arvoredos selvagem vão-se assoreando dos espaços livres, e nem cabras existem para debicar os rebentos.

As estatísticas vão trazendo a público a mísera população que ainda existe. E, ao examiná-las, uma dor imensa nos invade para logo surgir a pergunta: Amanhã, um amanhã que não está distante,  o que serão estas terras, estas ilhas? Terras bravias, onde “habitarão” os cagarros e os garajaus, tão somente!...

A navegação passará ao largo e os aviões nem se atreverão a cruzar os céus das ilhas, mas farão cruzeiros mais curtos, para alcançarem as grandes cidades.

Em 1866 a Ilha do Pico tinta 26.977 habitantes; em  1960 a população havia descido para 21.837. Presentemente não ultrapassa os 14.850 viventes.
E a propósito de estatísticas, permito-me transcrever, com a devida vénia, de um

estudo de Manuel Moniz, publicado no “Diário dos Açores”, de 26 de Julho, o seguinte comentário: “O concelho que mais cresce é o de Vila Nova do Corvo, com 1,9% (488 habitantes), seguindo-se a Lagoa com 1,4%, a Ribeira Grande com 1,33 %, e S. Roque do Pico com l, l %. Só há 4 concelhos que perderam habitantes: as Lajes do Pico perdem , l, 08%, a Calheta de S. Jorge perde 0,54%, Ponta Delgada perde 0,24% e Angra do Heroísmo  0,15%.”

Não será motivo para uma reflexão muito séria? Só o concelho das Lajes, em cinquenta anos, perdeu metade da população! Dá que pensar!

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