Charles Darwin, nasceu há duzentos anos e faleceu em 1882, há pouco mais de cem anos. Foi um teórico evolucionista, estudioso naturalista e biólogo, explorador e observador atento das vivências então aceites, dos senhores e dos escravos, dos colonizadores e dos colonizados. Contribuiu de forma decisiva para a quebra de tabus tão enraízados na sociedade do seu tempo, de que é paradigma a sua obra "Sobre a origem das espécies por meio de selecção natural”, que quando foi colocado à venda em 22 de Novembro de 1859, esgotou as 1250 cópias rapidamente. Naquela época, o termo "evolucionismo" implicava criação sem intervenção divina e, por isso, Darwin evitou usar as palavras "evolução" ou "evoluir", embora o livro terminasse anunciando que "um número incontável das mais belas e maravilhosas formas evoluíram e estão evoluindo". O livro só mencionava brevemente a ideia de que seres humanos também deveriam evoluir tal qual outros organismos. Darwin escreveu de forma propositadamente atenuada que "luz será lançada no tocante à origem do homem e sua história". Imaginamos a polémica que tal declaração terá produzido na elite conservadora e dirigentes religiosos e políticos daquele tempo… Mas a sua sensibilidade social era deveras evoluída para a época, por isso, as suas viagens pelos vários continentes forneceram-lhe outras visões sociais, políticas e antropológicas sobre as regiões que ele visitou e aqui refiro apenas uma: Três nativos foram trazidos de volta pelo Beagle (barco à vela) para a Terra do Fogo. Tinham sido "civilizados" na Inglaterra nos dois anos anteriores, ainda que os seus parentes parecessem selvagens pouco acima de outros animais. Num ano, entretanto, aqueles missionários voltaram ao que eram e, de fato, preferiam esta condição uma vez que não quiseram retornar à Inglaterra. Esta experiência somada à repulsa de Darwin pela escravidão e outros abusos que ele viu em vários lugares, tais como o tratamento desumano dos nativos por colonos ingleses na Tasmânia, persuadiram-no de que não há justificativa moral para maltratar outros homens baseado no conceito de raça. Estávamos em 1842…
A evolução de conceitos, a evolução de hábitos, usos e costumes tem sido constante, queira-se ou não, goste-se ou não, é a realidade.
Por estes tempos que vivemos, observamos quão diferente são as maneiras de ocupação dos tempos livres. Aos fins de semana os locais de diversão nocturna já não são os tradicionais bailes das sociedades recreativas mas os karaokés em qualquer snack-bar, restaurante, esplanada ou as madrugadas profundas e frenéticas nas Discotecas, animadas com famosos DJ,s vindos propositadamente de Lisboa, como aconteceu no último fim-de-semana, para animação especial, registe-se, do “Dia dos Namorados” e tudo isto nesta pacata ilha. A discussão e interpelação ora lançada na sociedade portuguesa da possibilidade de se preceituar por lei que as uniões de facto, já aceites na legislação portuguesa, evoluam (grosso modo) para casamento entre cidadãos do mesmo sexo, está a ditar a esperada fractura entre conservadorismo e evolucionismo social. Numa sociedade que por se dizer moralista pouco o era, mais um tabu que se quebra e dá lugar à aceitação social do direito à afectividade e sexualidade, como formação plena da personalidade, também entre cidadãos do mesmo sexo, novos conceitos sociais, ora desassombradamente assumidos por minorias sempre votadas aos guetos sociais, porque não enquadráveis no socialmente correcto.
Se recuarmos no tempo, em 1497, neste nosso país, foram os judeus, que já viviam nas judiarias, obrigados a mudar de religião, sendo-lhes retirados assim direitos que hoje seriam impensáveis.
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Charles Darwin
Mais tarde, em Portugal, há 150 anos, o que terá acontecido quando a lei permitiu o casamento ao civil, como ficou conhecido o casamento não católico, já que até então apenas era reconhecido pela lei portuguesa o casamento católico? Que casamento era reservado aos cidadãos que, já nessa altura existiam em elevado numero das outras religiões? Não se podiam casar? Eram então postos à margem duma sociedade para a qual contribuíam também com os seus impostos? Parece que era assim. Também aí se evoluiu em tolerância e em liberdade pela diferença. A escravidão era tão natural para os colonos brasileiros, embora gostassem que os seus escravos fossem baptizados… Ora sobre a escravatura, Barak Obama, de raça negra, novo presidente americano, não deixou escapar uma referência simbólica a essa terrível segregação humana, quando lembrou que os seus bisavós, escravos negros, há pouco mais de cem anos, não poderiam entrar nos restaurantes dessa cidade, que agora o aclamava livremente seu presidente.
A evolução social encontrou sempre resistências, tal como no tempo de Charles Darwin, ontem tão criticado pela hierarquia da igreja e de outros líderes da sociedade do seu tempo e hoje tão enaltecido pela comunidade científica internacional, destes novos tempos.
Somos pela evolução de mentalidades com respeito pelas diferenças, pela dignidade humana e pelo exercício de uma livre e plena cidadania de cada indivíduo…
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