Está em apreciação pública o Plano de Ordenamento Turístico regional.
Elaborado por um grupo de trabalho ou comissão ad-hoc, parece que cobre todas as ilhas, mesmo aquelas que não foram consideradas “Ilhas da Coesão”. No entanto, as “Ilhas Maiores” são sempre as mais beneficiadas nestas iniciativas governamentais. É caso para se trazer aqui o velho ditado: Quem está ao pé do lume é que se aquece.
Quando se “implantou” no Arquipélago o regime da autonomia, propalou-se, à laia de propaganda eleitoral, que o projecto previa o desenvolvimento harmónico das nove ilhas. E porque, naturalmente, foi propaganda, por aí se ficou…
Passados trinta anos é o que se vê: As ilhas onde se situavam as antigas capitais, continuam a progredir. Todos os novos serviços por elas ficam. Ao contrário, as outras vão sendo defraudadas e diminuídas.
Resulta daí que os poucos jovens que ainda existem nas ilhas secundárias são atraídos pelas colocações que os novos serviços ou o aumento dos existentes lhes oferecem. E não foi isso que se prometeu!
Ao serem extintos os distritos, ficou acordado – mas a palavra de cavalheiro só existiu nos tempos em que não havia nem tinta nem papel… - que a Ilha seria uma unidade politico-administrativa, com um representante do Poder que circularia pelos concelhos, tal como antigamente os chamados Juízes de Fora e hoje acontece com a Presidência da Comunidade Europeia. Não seria, pois, norma inventiva de insucesso.
Todavia isso não aconteceu. Os maiorais distribuíram o “bolo” entre si como lhes aprove e deixaram para os mais pequenos somente as “migalhas”.
É o que se vê agora, mais descaradamente, com o Turismo. E o verdadeiro Turismo, no caso concreto do Arquipélago, não passa, afinal, da exploração das riquezas naturais de cada uma das ilhas. Nesse aspecto até umas são mais “ricas” do que outras. A umas a Natureza favoreceu mais generosamente. E não se esqueça que é essa riqueza natural que o turista, na generalidade, procura e, consequentemente, se deve aproveitar e
explorar.
O POTRAA, como é designado o Plano, prevê para a ilha do Pico a exploração da baleia e, ainda, a vinha, o queijo, a montanha, o vulcanismo e o pedestrianismo; e como zona de vocação turística a faixa entre São João e Silveira, ou melhor dito, o “Mistério” da Silveira.
Enquanto que, para outras ilhas, se indicam as Festas do Espírito Santo, do Pico nada se refere… Esqueceram-se que é precisamente na Ilha do Pico que tais festividades têm maior expressão e “arrastam” imensos forasteiros, mesmo da Ilha do Faial. É a ilha onde os Impérios, cumprindo votos seculares, se mantêm com mais forte tradicionalismo, como está a acontecer no presente ano no lugar das Terras, subúrbio desta Vila.
Fala-se de campos de golfe mas esquece-se que na ilha foi há anos iniciada a construção de um, no Mistério da Silveira, que agora o Plano classifica como zona forte e que ficou a meio. Não seria ocasião azada para se concluir tão importante elemento de atracção turística, agora que se projecta para a mesma zona a construção de uma unidade hoteleira?
Apetece perguntar: quando, por um lado, se reconhece à Ilha uma forte aptidão para o desenvolvimento do turismo, por outro se recusa nela implantar os equipamentos indispensáveis ao desenvolvimento dessa actividade ?
Não poderia o Município , ou a recentemente criada empresa municipal, chamar a si a conclusão do campo de golfe ?
A população do Pico está praticamente envelhecida. O seu rejuvenescimento foi evitado com a saída da juventude. Ela não regressa porque não lhe dão os meios próprios para uma condigna fixação. Será que o turismo virá a ser essa panaceia que tanto se ambiciona e espera? Se assim é, ou parece ser, que fazem as entidades oficiais para que na ilha se estabeleçam actividades que promovam o seu desenvolvimento? Poderão responder que isso não lhes compete. Mas, então, para que serve a pesada máquina governamental? Só para arrecadar impostos e manter uma estrutura administrativa de função meramente burocrática?
Afinal, valerá a pena insistir? Já tantas vezes escrevi sobre este tema, sem quaisquer resultados… Um dia, porém, alguém me dará razão. Pode é vir tarde!
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