DO CANADÁ AO BRASIL POR TERRA - DIA 24 |
LIMA, CAPITAL DO PRIMEIRO VICE-REINO ESPAÑOL
CIDADE DESLUMBRANTE E DE ARQUITECTURA ÍMPAR
Vasco Oswaldo Santos (Texto e fotos)
José Ilídio Ferreira (Fotos)
Adiaspora.com
António Perinú (Texto e Fotos)
Sol Português
Miraflores, Lima, Peru, 28 de Outubro – Nao pensem os leitores que a gente escreve estas coisitas no ar. Nenhum jornalista pode funcionar hoje em dia sem pesquisar os assuntos dos seus escritos. Tal como os professores, que auferem de tempo para preparar as suas lições, também nós temos que o fazer de forma cuidada e esclarecedora, cuidando sempre por respeitar os direitos autorais. Preparámos para vós esta breve história desta maravilhosa capital peruana, uma Lima deslumbrante, que fomos este domingo visitar conduzidos pelo cuidadoso Diego, um taxista conscencioso, seguro e avisado.
A Catedral de Lima - Arcadas de Lima
A Plaza no seu esplendor
A primeira paragem – e a principal – foi, como não podia deixar de ser, na Plaza Mayor. Ora bem: é preciso explicar aqui que nos países colonizados pelos espanhóis, as plazas mayores, a despeito da diferença das suas dimensões, contém sistematicamente componentes fixas – o palácio do governo, a residência do governador, a catedral e o município. Destes países que o escriba já visitou, a de Lima é absolutamente espectacular, quer pela manutenção dos edifícios, quer pelo jardim central, quer pela harmonia de um conjunto, muito mais difícil de se conseguir, em termos arquitectónicos, devido às proporções gigantescas do mesmo.
A Santa - Arquitectura colonial
Bem protegidos! - Dai de beber a quem tem sede....
As famosas varandas de madeira na fachada dos principais edifícios são um trabalho precioso de marcenaria fina, de tom escuro a contrastar com o cinzento-pérola das edificações em que se inserem. E porque Lima está em festa, no meio das suas celebrações anuais, em que se inclui uma das maiores e mais importantes procissões do mundo católico, a do Señor de los Milagros, as ruas estavam apinhadas e os templos concorridos por fiéis. Mas isto de ruas apinhadas também tem a sua vertente laica, numa cidade de nove milhões de habitantes. Uma delas, sempre vedada ao tráfego automóvel, as lojas estavam abertas e a reportagem resolveu comprar sapatos. Eram lindos e a nosso gosto. Se não durarem muito, também foram baratinhos. Logo se verá...
Lima-Plaza Mayor - Palácio do Governo
Na rua das compras - Perinú e Zé Ferreira na Plaza Mayor
A procissão do Senhor dos Milagres data da segunda metade do século XVII quando um violento terramoto arrasou Lima em 1655, cem anos antes do que destruiu Lisboa. O andor com a imagem principal, pintada em tela, é acompanhada por um séquito em que predominam as vestimentas de cor púrpura real, um simples rôxo.
Município de Lima
Reciclando o milho para os pombos e rolas - Rua pedonal e muito comercial
Um pormenor curioso foi a de vermos uma favela a irromper pela montanha acima e que se avistava ao fundo de uma avenida. O Zé sugeriu ao Diego que passasse por lá para podermos colher algumas imagens. Diplomático e circunspecto, o taxista “deixou caír” a deixa, aportou a outras ruas e evitou a solicitação. Nem de perto a gente por lá passou...
Rendilhado de madeira e pedra
Santuário de Nuestra Señora de la Soledad
Em Acho, Lima
Feira Taurina do Señor de los Milagros
Como se diz em gíria portuguesa, “o que se come em uvas não se bebe em vinho”, o que vem precisamente ao encontro do facto que na hora em que se estava a realizar a primeira corrida da Feira Taurina do Señor de Los Milagros estávamos nós na Plaza Mayor de Lima. Corrida esta que, segundo o jornal “El Comercio”, com toiros desiguais em tarde fria e diestros que não se entregaram.
Vicente Barrera
Esta primeira corrida de Abono, na praça de Achos, em Lima, foram lidados e estoqueados pelos matadores Vicente Barrera, Eduardo Gallo (espanhóis) e Fernando Roca Rey (peruano). Os toiros pertenceram à ganaderia mexicana de Reyes Huerta, seis, e outro da ganadaria peruana de Salaqual de Cajamarca, dando pelos nomes de Taquito (500 kg), Camperito (510), Tequireto (495), Pampera (485), Chirrito (520) e Chilango (515), todos, menos um, da ganaderia mexicana. Dado que o Chirrito partiu o piton directo contra o burladero, foi substituído por Gitano (475) da ganadaria de Salaqual. A praça registou quase que lotação esgotada.
O matador valenciano Vicente Barrera, já apelidado de Toureiro de Lima pelas suas actuações nestas paragens, começou, no seu primeiro com passes por baixo, desenhando depois bons derechazos. Assim, como rubricou séries de naturais, finalizando com a espada.
O seu segundo da ordem procurou o diestro e Vicente Barrera despachou-o não obtendo qualquer apéndice.
Eduardo Gallo, que fez a sua apresentação perante o público de Lima, e logo com o capote se fez aplaudir por um vistoso quite por chicuelitas. Com a muleta, começou com passes por alto, seguido por um trincherazo e rematou com um molinete, prosseguindo depois com uma série de naturais, citando com a muleta adiantada. Foi então aparatosamente levantado ao ar pelo toiro. Valente e destemido, prosseguiu com um afarolado rematado com um passe de peito, mas não se fica por aqui. Continuando com a faena, desenhou passes de todas as marcas, até molinetes de joelhos. Após a estocada deu volta ao ruedo.
No segundo do seu lote, o diestro de Salamanca, ao lidar o toiro da ganadaria de Salaqual – por o anterior haver partido o corno – não teve a sorte consigo, embora o toiro, bem apresentado de cornadura, era de investida incerta e o matador despachou-o com uma estocada. No final, silêncio.
Fernando Roca Rey, recebeu o seu primeiro com duas largas afaroladas, de joelhos, junto às tábuas. Toureou depois à verónica; com a muleta pouco fez. Além de vários passes de peito e alguns muletazos, esteve um pouco enrolado com a flanela. Embora entrando bem a matar, não cortou qualquer orelha.
No sexto e último da corrida o matador peruano, com o capote, desenhou uma série de cinco verónicas, e rematou com meia, que foram ovacionadas pelo público. No tércio de bandarilhas voltou a receber uma grande ovação. Iniciou depois a faena de muleta com estatuários e seguiu com um trincherazo, derechazos e largos passes de peito, muletazos e um ronda de naturais. No final da lide entrou a matar e escutou dois avisos.
Assim foi, esta tarde, a primeira corrida da Feira dos Milagros que teme em disputa o Escapulário de ouro do Señor que dá o nome à feira, a ser entregue ao matador que venha a realizar a melhor faena da feira, e o de prata à ganadaria do melhor toiro lidado. |
Historial de Uma Cidade em Franco Crescimento
Subitamente...art deco! - Senhor dos Milagres
Em 1900, Lima tinha pouco mais de 100.000 habitantes. Cinquenta anos mais tarde, este número cifrava-se num milhão. Em 1990 tinha já para cima de 5 milhões e no fim do século passado 8 milhões. Em 1900 apenas 3% da população do país vivia na capital ao passo que em 1990 esta percentagem passava por pouco os 25%. Hoje, estima-se que vivam na capital 9 milhões de almas. Este incremento populacional provocou uma degradação no centro histórico da cidade, transformando-o numa autêntica favela. Isto causou uma mudança gradual dos residentes para novos bairros periféricos vizinhos, tais como Miraflores, San Isidro, Barranco, La Molina, etc.
Venda de relicários
Localizada na costa central do País, virtualmente equidistante das fronteiras com os seus vizinhos do Norte e do Sul (Equador e Chile), a cerca de 1.400 km para cada lado, Lima fica aninhada num estreito vale entre as montanhas e o oceano Pacífico, nas margens do Rio Rímac, no sopé da colina da San Cristóbal. Capital da República e do departamento (província) do mesmo nome, a urbe disfruta da maior parte da cadeia andina, na região costeira, com uma elevação abrupta das praias para os mais elevados picos (cumes) que se aproximam da costa formando imensas falésias.
Casa onde Pizarro nasceu em Trujillo, Espanha
Devido às suas características geográficas, a capital peruana dispõe de belas e vastas praias de areia acinzentada – a lembrar a sua origem vulcânica – assim como vales ensolarados (?), no meio de montanhas na vizinhança mais imediata.
Lima é o centro de toda a actividade política, cultural e económica do país, assim como o principal meio de comunicação para o resto do país. Aqui, a parte norte da Estrada Pan Americana, que corre ao longo da costa do Pacífico e vem da fronteira norte com o Equador, muda de nome para sul. Esta estrada principal – a que nós vamos sempre seguindo na expedição – atinge depois a fronteira com o Chile. Mas existem, claro, outras vias que ligam a capital às cidades montanhosas do interior.
A antiga capital do Vice-Reino é o produto de 500 anos de história. Desde que foi fundada, até aos nossos dias, Lima sofreu muitas transformações, como é lógico. Hoje é composta de um grande número de bairros, muito diferentes uns dos outros, cada um deles com características próprias e em resultado da sua própria evolução histórica.
Entra Francisco Pizarro
El Conquistador - Túmulo de Francisco Pizarro
Francisco Pizarro nasceu em Trujillo, na Extremadura espanhola, mais ou menos a meio caminho entre Badajoz e Madrid, filho do capitão Gonzalo Pizarro e de D. Dora Francisco González, julga-se que a 16 de Março de 1468, mas sem garantias. Aos 36 anos gozava da fama de soldado valoroso e experimentado. Corria o ano de 1504 quando Pizarro viajou para as então Índias Ocidentais e gozava dos favores reais. Ocupava-se em preparar os navios que o conduziriam ao país dos Incas e que lhe viriam a garantir fama e glória.
Em 1522 conhecia-se vagamente no Panamá a existência, para Sul, de um poderoso império, rico em artefactos de ouro e prata, cujos monarcas se chamavam Incas, razão para a qual se iniciou uma série de procuradores de tal império.
Finalmente depois de muitos incidentes, Pedrarias, governador do Panamá, deu a Pizarro a oportunidade, Almagro e Luque para que tentassem localizar o Peru, a troco de alguns favores por estes prestados no passado. A partida para a aventura, rumo ao Sul, ocorreu a 14 de Novembro de 1524, com uma comitiva de 80 soldados e 4 cavalos.
A fome e a miséria apoderam-se da empresa quando os homens se encontravam na Ilha de Gallo, onde Pizarro achou por conveniente levar a sua tropa, longe dos nativos, obrigando muitos soldados a regressarem ao Panamá. Francisco Pizarro, que desejava proseguir, teve uma inspiração: com a ponta da espada traçou sobre a areia da praia um risco a indicar a metade do caminho e dirigiu-se aos seus soldados assinalando que na direcção do Panamá só encontrariam pão amargo. Apontando para a ilha prometeu que se tivessem hoje fome e miséria, no dia seguinte encontrariam riqueza e fama. Foi assim que este aventureiro se dirigiu para sul, seguro da lealdade dos 13 famosos e dando início à conquita do império inca.
Em 1532 Pizarro entrava em Cajamarca fazendo prisioneiro o monarca inca Atahualpa. Mais tarde mandou executá-lo consolidando ali a sua conquista. Tendo recebido informações acerca da fertilidade das terras, abundância de águas, a proximidade do mar e outras circunstâncias que bafejavam o vale do Rímac, dispôs-se Pizarro a fundar a cidade dos Reyes, a capital, a 18 de Janeiro de 1535.
As disputas que surgiram por causa das terras e dos tesouros do império Inca, contribuíram para as divergências entre Pizarro e Almagro, começando assim as guerras entre os dois conquistadores. Morto Almagro Pizarro apoderou-se das 900 léguas de terras desde o Equador ao Chile, conhecendo assim as primeiras recompensas e primeiras horas de repouso na sua grande e convoluta existência. Mas os vencidos não desarmaram. Na madrugada de domingo, 26 de Junho de 1541 os almagristas atravessaram toda a praça, de espadas desembaínhadas, dispostos a matar Pizarro. Eliminando os amigos e servidores do conquistador, irrompem pelo palácio. Pizarro defende-se com valentia, matando um inimigo. Foi uma luta entre ele, já com 70 anos de vida, e seus quatro acompanhantes contra 19 soldados inimigos.
Pizarro bateu-se até que uma enorma ferida na garganta o deitou por terra. Pediu a confissão e com o dedo molhado no seu sangue fez uma cruz na terra, beijou-a e expirou, ficando o seu cadáver abandonado sobre um charco de sangue. Os seus restos mortais repousam na abóbada da catedral de Lima.
Lima pós-Pizarro
A cidade tornou-se em 1542, capital do Vice-Reino do Peru. Toda a América do Sul, com excepção do Brasil, ficou dependente desta urbe, até meados do século XVIII, quando dois novos Vice-Reinos se formaram. Até às reformas da dinastia espanhola dos Bourbons, em finais do século XVIII, Lima – tal como Vera Cruz do Atlântico, hoje no México – teve o privilégio de constituir o único porto do Império espanhol na América. El Callao era o único porto de mar que não comerciava com regiões domésticas, ponto de entrada e saída de todos os navios que transportavam as mercadorias importadas e exportadas para a Espanha.
Em resultado desta hegemonia como centro administrativo, comercial e financeiro, a servir de ponto de encontro para os interesses de áreas bem distintas e afastadas do mapa, a capital tornou-se no maior centro urbano – à frente de Potosí – e o sítio onde se encontravam as maiores fortunas do Vice-Reino.
Tudo isto saltou à vista das potencias europeias que combatiam o império espanhol e que procuravam pôr termo ao monopólio comercial de Espanha, introduzindo um contrabando de grande amplitude em ambas as costas do Vice-Reino.
A pirataria inglesa e holandesa, era evidente nas costas de Lima. Assim, a cidade teve de ser fortificada em 1670. De qualquer modo, a invejável posição económica detida pela cidade, durante cerca de dois séculos, começou gradualmente a declinar, a seguir à reorganização imperial dos finais do século XVIII, como acima se mencionou.
Por esta mesma altura, outros acontecimentos de vulto se desenrolaram: o monopólio do comércio foi desmantelado e a exclusividade do porto subsequentemente eliminada pela criação do Reino do Rio de La Plata (hoje Argentina e Uruguai). Para agravar a situação, o comércio de Potosí, assim como o dos seus metais preciosos, foram também transferidos para o novo Vice-Reino e introduziu-se o comércio livre.
As modificações que se deram durante os anos da independência do Peru, que veio a ocorrer em 1821, um ano antes da do Brasil, também não foram particularmente favoráveis. Só dentro do século XIX é que a nação enveredou pelos seus projectos mais ambiciosos para renovar e modernizar a cidade de Lima. Isto em resultado do rendimento gerado pela exportação do guano (excremento de aves marinhas, utilizado como fertilizante) para os países industrializados, assim como os empréstimos estrangeiros resultantes deste produto. Para ajudar, o Peru também se envolveu no movimento migratório transoceânico que teve lugar a partir dos finais do século XIX, inícios do XX.
A Contribuiçao Dos Imigrantes
A maioria dos imigrantes estabeleceu-se por terras da América Latina, enquanto que poucos hajam escolhido a região peruana. Contudo, as comunidades imigrantes – chinesa, japonesa, italiana, inglesa, norte-americana, alemã, etc. – que escolheram a capital peruana, lá deixaram os seus vestígios assim como alguns bairros próprios cujas características são hoje bem evidentes.
Elas introduziram novos produtos alimentares e receitas variadas que exerceram uma enorme influência na vida quotidiana dos peruanos. Abriram lojas com produtos e artigos que alteraram os costumes e integraram novas modas.
Os imigrantes foram também responsáveis pela criação de instituições de solidariedade que serviram para recrear os laços da coesão. Fundaram ainda instituições culturais e académicas, não só para os seus membros respectivos mas também para a educação de certos sectores de futuras gerações dos residentes de Lima.
Estas circunstâncias contribuiram largamente para que a imagem de Lima se transformasse completamente durante a parte final do século XIX e nas primeiras três décadas do século XX. Muitos foram os projectos iniciados e concluídos neste período: demolição das muralhas coloniais (1870), canais de irrigação, iluminação pública a gás, alamedas, escolas de Belas Artes, hospitais, a casa da moeda, caminhos de ferro e outros melhoramentos urbanos (praças e avenidas).
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Estátua em Trujillo
Mas, como sempre acontece, as maiores beneficiárias destas significativas metamorfoses urbanas foram as classes média e alta. Na realidade, tais projectos estavam ainda bem longe de outros fenómenos de progresso e grande amplitude trazidas no advento do século passado: a aparição das chamadas cidades-novas (pueblos jóvenes) na periferia da capital, resultantes da imigração massiva de antigos residentes das áreas montanhosas, que aqui desembocavam diariamente em busca de novas oportunidades de emprego. É em resultado destas modificações que Lima se transformou de uma urbe rodeada de pequenas quintas e fazendas numa metrópole cosmopolita.
Contudo, e a despeito de tais modificações, a maioria dos escritórios governamentais e instituições bancárias permaneceram localizadas nessas áreas. E, mesmo a despeito da deterioração de alguns dos seus antigos edifícios coloniais e republicanos, durante a década de noventa, o governo empreendeu uma série de obras de reabilitação e restauro de praças, ruas e edifícios, com excelentes resultados.
O Clima
Já devem os nossos pacientes e tolerantes leitores ter reparado que desde que aqui chegámos não deixamos de mencionar que o sol não se deixa ver, que está sempre céu cinzento, que nunca chove e que faz muito fresco a despeito das temperaturas do dia serem amenas. Pois bem, existe uma explicação para isto e a gente vai partilhá-la convosco.
Os visitantes de Lima que esperem por um clima tropical quedam-se frequentemente surpreendidos quando descobrem que em meados do ano, em Junho, por exemplo, os dias são muitas vezes ou húmidos e frescos, ou positivamente molhados, ou ambas as coisas. A razão para este este estranho clima foi pela primeira vez cientificamente identificado pelo viajante alemão, autor e filósofo, Alexander von Humboldt. Em finais de 1803, Humboldt e a sua companheira Aimé Bonpland, chegou a Lima e, graças à sua inalienável curiosidade científica verificou a temperatura do mar no porto vizinho de Callao. Humboldt descobriu que a água era mais fria do que esperava, em relação à latitude, e conjecturou correctamente que a frieza da água era a razão para as extranhas condições atmosféricas. Como qualquer bravo nadador, decidido a experimentar estas águas pode testemunhar, a água é fria e, por vezes, muito mais fria que a temperatura de terra. Isto causa uma situação pouco usual na qual o ar frio, ao invés do habitual ar quente, rola para terra, vindo do oceano. Ao atingir a terra morna a temperatura do ar sobe e, em vez de se condensar, transformando-se em chuva, este agora ar seco absorve a humidade e cria um deserto.
Ocasionalmente, o deserto peruano oferece a visão extraordinária de um nevoeiro tão denso que “abafa” os faróis dos carros, ainda que a terra à sua volta esteja gretada de seca. Mais extrordinário ainda que o efeito é a causa, que não pode ser vista, bem nas profundezas da terra. No tempo de Humboldt muito pouco se sabia sobre a estrutura interna do nosso planeta e a conexão entre os vulcões e a frieza dos mares logicamente que lhe escapou.
Hoje em dia, os geólogos sabem que o fundo do mar da costa Oeste da América do Sul está tão abaixo da superfície das águas quanto os cumes dos Andes lhe estão acima. É a água fria subindo das grandes profundezas que provocam esta esquisita temperatura e os canyons submarinos, eles próprios, marcam a junção das massiças placas da crosta terrestre da superfície da Terra. Ao longo da costa do Pacífico da América do Sul, a placa de Nazca encontra-se com a Placa Americana com uma força elevatória muito activa que está ainda a criar as montanhas dos Andes.
Vista do espaço, a cordilheira é longa e estreita, como a coluna vertebral do continente ou, talvez, se pareça mais com uma gigantesca verruga, sempre em movimento. Os vulcões cospem fumos e lavas, as montanhas crescem, a terra treme e chocalha enquanto que a costa se vai aproximando da Austrália à razão de 6 centímetros por ano. Em resultado disso, a maior parte das cidades costeiras do Peru e muitas das suas terras altas tem sempre experimentado danos cíclicos em virtude dos sismos.
Enquanto que isto vai acontecendo por debaixo do deserto, a superfície parece estática, quase que imutável. Só ocasionalmente a temperatura do mar se eleva ao longo da costa peruana e esta é invadida por uma incursão de águas quentes vindas do norte. Tempestades de chuva súbitas obrigam o deserto a florir e pragas de insectos e roedores invadem as fazendas. A indústria das pescas, atraída por grandes variações, normalmente enfrenta cataclismos devido à morte dos peixes e, paralelamente as aves marinhas, sem ter alimento disponível, morrem aos milhões. Localmente, esta mudança é conhecida por “El Niño”, ou “A Criança”, em função do Natal, uma vez que este fenómeno só ocorre por volta da época natalícia.
Bibliografía: All Peru, Neus Escandell-Tur and Alexandra Arellano, Editorial de Oro, S.A.; Cúneo Vidal, R.Vida del Conquistador del Perú, Barcelona: Maucci, 1925.; Peru – Country of Contrasts, Tony Morrison, SBS Publishing; El Comercio, Miraflores.
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