DO CANADÁ AO BRASIL POR TERRA - DIAS 34/35 |
FINALMENTE! - PARTIDA DE LIMA À TARDINHA
RUMO À FRONTEIRA COM O CHILE
Vasco Oswaldo Santos (Texto e fotos)
José Ilídio Ferreira (Fotos)
Adiaspora.com
António Perinú (Texto e Fotos)
Sol Português/Voice
Santiago, Chile, 11 de Novembro – Com data de ontem, mandámos dizer, em título de “Última Hora”, que havíamos partido de Lima. Assim foi e vamos agora retomar o fio à meada, falando do que se passou logo que recebemos o carro, a 7 de Novembro. Foi assim:
Aqui, a gente ainda não se tinha apercebido do risco.... - António com o Coronel Manríquez
A primeira casa de banho limpa (Chile) desde Toronto - A saída do túnel entupido....
A sete chaves e três portões
Selando um conhecimento de viagem
7 de Novembro – Pelas 9h25 da manhã já o nosso fiel Diego nos havia transportado a Callao, ao escritório da Greenandes. O António Rodriguez estava na Alfândega tentando resolver a questão dos nossos pertences. Também para receber toda a documentação para levantar carro e bagagens. Segundo o Angel, nao valia a pena irmos também para lá, na medida em que tudo estava prestes a resolver-se. Em tipo de compasso de espera, o escriba passou a vista pelas “gordas” do diário “El Peruano”: Um atentado a Norte de Cabul, no Afeganistão, numa área considerada calma; a devolução ao Peru, por parte do Chile, de uma valiosa parte do seu acervo bibliotecário, como presa da chamada grande guerra do Pacífico, em finais do século XIX; Bush a implorar ao Congresso dos EUA autorização para que Peru, Colombia e Panamá adiram ao NAFTA; o andamento das obras em resultado do sismo de grau 7 que recentemente afectou a zona de Pisco, aqui mesmo no Peru; e as terríveis inundações que assolaram Cuba, República Dominicana e Haiti; o Euro em subida...
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A 3.000 metros de altitude - A 300 kms da fronteira com o Chile
Até pareceu mentira
Pelas 11h30, um telefonema animador do Rodriguez. A Alfândega estava apenas a determinar a taxa a cobrar pelas nossas roupinhas. 25 minutos mais tarde volta a telefonar para que nos juntássemos a ele. Estava tudo a andar. Ao meio-dia, o Diego entrava connosco “em tromba”, Alfândega adentro. Estava tudo pronto, não pagaríamos nada, era só carimbar o papel do levantamento. Ao meio-dia e dez, o Zé pagava a conta total, na casa dos US$440.00.
Coloração mineral - Crescente fértil - Tacna, Peru
13h00 – Nada acontece. Continuámos à espera do documento. Meia hora mais tarde vem o balde de água fria – mais um – pois o inspector que ontem nos liberou os pertences errou no que forneceu a base de dados e no computador lia-se que não tinhamos passado a revista!!! O original do mesmo, já nas mãos do Angel mostrava o contrário assim como os carimbos. O funcionário ao guichet manteve-se inamovível: Enquanto o documento correcto não aparecesse no ecrã, não havia nada para ninguém... Somos enviados para a Imupesa, onde tudo se encontrava armazenado.
As dunas do deserto de Tanaka, Peru - Vida no deserto
Uma hora mais tarde o documento continuava a não aparecer no computador. Solicita-se o auxílio do Sr. Quiñones. Nada!
Pelas 14h15, aparece na sala, por acaso, o Sr. Salazar, a quem já haviamos sido apresentados, o director-geral da Imupesa. Ficou estupefacto pelo que nos estava a suceder. Ausentou-se e, passados minutos mandava o Zé e eu segui-lo. Sem embargos, exigiu que na portaria nos entregassem cartões apropriados e capacetes, acompanhando-nos ao carro. Aí o escriba, diplomaticamente “cantou-lhas” e protestou quanto possível. O senhor pediu para esperarmos, voltou a ausentar-se. Quando regressou, informou que estava tudo pronto, altura em que o Angel apareceu com toda a papelada. Consigo trazia duas lembranças para nós, para que não guardássemos má impressão da corretora, acrescentando que a Alfãndega do Peru “é muito problemática” (ah sim?)...
As malas, que eram supostas sair separadamente do carro foram lá metidas e pelas 16h00, o Zé finalmente transpunha o portão de saída para a nossa “liberdade”...
Feitas as despedidas aos incansáveis funcionários da Greenandes, nova corrida para o Hotel em Miraflores onde o Perinú e o Luís foram avisados que iríamos partir para sul, e que estivessem prontos. Saimos pelas 17h20. O Diego foi à nossa frente para nos guiar – era hora de “ponta” - para a Pan-Americana Sul, deixando-nos no bairro de Chorrillos, a 1.400 Km da fronteira com o Peru. Entretanto anoiteceu e o escriba foi vencido pelo sono.
Transporte de minério em Tocopilla - Verificação de rotina
8 de Novembro - Já bem tarde, por volta da 1 hora da madrugada, o escriba é acordado para testemunhar um espectáculo de beleza e pesadelo: dunas de areia, no meio da estrada, brilhavam feéricas com os faróis do carro, num cenário da mais completa escuridão. Ao longe, sentia-se o rugir das ondas do Pacífico a quebrarem-se contra a terra (rochedos? Areia?). Tiraram-se fotos. Era o deserto peruano de Tanaka, a visibilidade não ultrapassava os 30 metros. Pelas 4h00 da manhã o motor “tossiu”. O combustível estava a acabar e as gasolineiras, pelo caminho, estavam todas fechadas. No meio de uma aldeia escura e com fortes vestígios do terramoto do Verão passado, fomos para uma estação de serviço também sem luz. Nem vivalma! O ladrar forte de um cão faz aparecer um vulto que se recortou do edifício branco. Era o funcionário que estava a dormir e acordou com o ladrar do animal. Logo se prontificou a ligar o motor da bomba. As luzes fracas acenderam-se, o depósito encheu-se, a corrida para Tacna, prosseguiu. A gasolina era bem ordinária. Mais adiante, por duas ou três vezes, o carro foi-se abaixo devido à má qualidade do combustível no alto de uma montanha, entre Nenhures de Cima e Nenhures de Baixo. Mas acabou por não nos deixar retidos!
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Vista de Camaná, Peru - Zona ribeirinha de Antofagasta
Neste percurso notam-se os primeiros sintomas do mal-estar do Perinú, tossindo e espirrando. A meio da manhã, numa localidade onde se tomou um café, numa farmácia local, sem quaisquer receitas médicas, a farmacêutica vendeu ao António um antibiótico para a garganta inflamada e umas pastilhas para lhe mitigarem as dores.
Insistiu ele próprio que prosseguíssemos viagem, que ia passar... Continuámos, em pleno deserto peruano, subindo montanhas e planaltos de uma beleza inóspita que nenhum de nós até então havia visto. Mas que se pareciam com trechos do Neguev e do Sinai que o escriba percorreu em 1968, logo a seguir à Guerra dos Seis Dias - que anexou a Jerusalém árabe ao Estado judaico. Mas nada que se compare com este cenário.
Primeira vegetação do deserto - Povoados do deserto chileno
Por estradas pouco dignas no nome, mas praticáveis, continuou a corrida em palco dantesco mas espectacular. Pelas 16h10 atingíamos a cidade de Tacna, perto da fronteira de La Concordia/Santa Rosa. Tínhamos percorrido 1.412 km em 21 horas e meia de condução. Tratada a papelada e cumpridos os trâmites legais (com as nossas coisinhas todas passadas aos raios-X). Prosseguimos viagem por montes e vales, bem desertos, como no Peru, mas com um movimento assaz concorrido de camiões, nos dois sentidos.
Registo do escriba e do António doentinho... - Rochedos cobertos de guano
Arica, a primeira cidade chilena de importância, porto de mar mais a norte do país e capital da província do mesmo nome, foi atravessada ainda de dia. Mas o esforço que nos conduziu até Iquique (outro porto para escoamento de minério de cobre e fosfatos) valeu a pena, na tentativa de recuperação do atraso. Eram 23h30 – e outros 485 km – quando finalmente encontrámos um hotelzito simpático que nos acolheu para um merecido sono em vale de lençóis. O estado de saúde do Perinú ia-se, contudo, agravando. A febre era alta e a tosse muito seca e constante.
Um, dois, três.... - Tira-picos em xadrês!
Porque o hotel só aceitava dinheiro chileno, lá encontramos uma caixa ATM que nos resolveu a situação imediata e nos permitiu comprar alguma comida. Uma noite terrível para o António, a despeito dos medicamentos. Este escriba, por seu turno, ainda de perna inchada, em resultado da flebite, a tomar antibiótico e não cumprindo as ordens da médica peruana quanto a descanso e perna levantada. Uma festa!
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