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DO CANADÁ AO BRASIL POR TERRA - DIA 5

A CAMINHO DA GUATEMALA: O INFERNO DO MAU TEMPO
E A FALTA DE INFRAESTRUTURAS E SINALIZAÇÃO CORRECTAS NO MÉXICO


Vasco Oswaldo Santos (Texto e fotos)
José Ilídio Ferreira (Fotos)
Adiaspora.com
António Perinú (Texto e Fotos)
Sol Português


Tecún-Human, Guatemala, 9 de Outubro – Este foi o primeiro dia de sério temporal. Com o António Perinú fez-se a primeira directa para ser possível mandar as fotos com os textos. De manhã, com tudo mandadinho para os 3 órgãos da informação em Toronto, partimos debaixo de chuva em direcção à fronteira com a Guatemala. A estrada 180 levar-nos-ia directos.
Como de costume, a dança das incríveis portagens nas “autoestradas” mexicanas levou-nos a pagar uma pequena fortuna por caminhos em que deveríamos ser nós a ser compensados, tal a miserabilidade de manutenção na única via possível, através das montanhas do célebre estado de Chiapas, posto no mapa do mundo pela actividade das guerrilhas populares do Comandante Marcos, uma figura de lutador responsável, que até as autoridades governamentais se vêm obrigadas a respeitar perante a opinião pública. A dita 180 é uma estrada miserável, a ser reparada aqui e ali, mas plena de buracos, crateras, desníveis, deslocação de terras e pedregulhos e outras “prendas” pela falta de manutenção.

Obras na estrada principal de Chiapas .........As consequências da chuva torrencial....

Numa encosta de falésia a pico, felizmente que do lado direito da circulação – do outro lado é um precipício profundo – um camião carregado de cota de malha de aço, destinada ao suporte de estruturas planas de cimento, capotou e tombou para a direita. Por sorte apenas o condutor sofreu ligeiros ferimentos.
Logo ali nos informaram que um pouco mais adiante, a descer em sentido contrário, um outro condutor havia sido menos feliz, com uma derrapagem que destruiu completamente o tractor do combinado. Até agora foi o pior troço encontrado: 200 km muito sacudidos em estrada de montanha, com a companhia de bancos de nevoeiro e chuva miúdinha sobre uma terreno lunar, sem espaço de manobra. Só nos rimos na passagem de uma imagem insólita: à porta de um pequeno cemitério à beira da estrada, uma tabuleta com os dizeres peremptórios de “Propriedade Privada”. Ficámos sem saber se as alminhas viviam em regime de condómio – que propriedade horizontal certamente era – ou se o dono do terreno tinha a veleidade de imaginar poder vender um terreno comercial à porta de um jardim de repouso eterno.
Numa bomba de gasolina a altitude respeitável, distribuímos ao simpático pessoal o primeiro quinhão das prendas que três dos nossos patrocinadores nos confiaram para o efeito.

A nossa presença canadiana ficou assim deixada em Chiapas e deu lugar à curiosidade de, dentro de pouco tempo, lembrarmos o gigante das letras guatemaltecas, Miguel Angél Astúrias, Nobel da Literatura, autor de obras como “O Papa Verde”, “United Fruit” e “O Senhor Presidente”. Mas não tinha de acontecer assim tão facilmente! Pelo que escreveu entendemos como no vizinho México, circunstância de pobreza semelhantes criaram a guerrilha em Chiapas, como exemplificaram alguns camponeses que avistámos carregando simultaneamente espingardas e enxadas. A despeito da “directa”, tudo isto mais a constante queda de pedras e a realização de que o “passeio” tinha terminado, foi-se embora o sono e sobreveio a espertina. Mas não tinha de acontecer assim tão facilmente!   
Com visibilidade reduzida a menos de 100 metros tivémos de entrar obrigatoriamente, por má sina nossa, na cidade de Tuxla Guterrez, um aglomerado populacional de quatro milhões de habitantes, com apenas uma estrada de acesso, a 190, que a liga a dois pontos convergentes mas circundantes com o mesmo número indicativo. Sabendo que um desses percursos era muito mau, lógico que escolhemos o melhor. O que acontece é que ele não só não se encontra sinalizado como ainda tem uma única tabuleta, partida, com a seta ao contrário. Acreditem ou não os nossos leitores, perdemos 4 horas e meia, em todos os sentidos da cidade, mal informados até – sobretudo! - pela própria polícia local...
A solução passou pelo contratar de um táxista que nos guiou ao sítio certo, por uma rota diferente e ostensivamente contrária à que estava meio sinalizada!

A caminho da Guatemala, vai um carro aos trambolhões...

Na passagem do México para a Guatemala, voltámos a não ser parados pelas autoridades mexicanas e entrámos na Guatemala travando contacto com o fenómeno dos “auxiliares” das autoridades fronteiriças, mini-“despachantes/corretores” que ajudam os turistas a troco de... uns trocos!

A Equipa da Expedição Canadá-Brasil

Como a fronteira se encontrava quase deserta imaginámos ser fácil e rápida a passagem. Engano total. Mesmo não precisando de vistos, o que se passa é que a Alfândega embica com carros estrangeiros. Os turistas não têm dificuldades de maior. E quando as têm, como havia de ser o nosso caso, é por razões bem distintas. Para encurtar a história, os nossos passaportes foram todos carimbados mas o carro tinha de ser registado e vistoriado pela Alfândega, entidade totalmente separada da Imigração. Além disso, os pagamentos às alfândegas nestas paragens são efectuados directamente no banco vizinho e este encontrava-se fechado.

Como ambas as instituições só abririam às 8h00 da manhã seguinte, conseguimos um belíssimo alojamento num motel muito limpo, tipo das “vilas” dos bairros operários de Lisboa, com arruamento interior e estacionamento seguro. Ali descansámos, especialmente os da “directa” da véspera, e comentámos a frustração experimentada em Tuxla Guterrez, onde nenhum de nós tenciona voltar. Mas dormimos muito bem en tierras del Papa Verde...

Percurso percorrido: 803 kms em 10 horas de condução

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