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LANÇAMENTO DO LIVRO
DE AIDA BAPTISTA

Texto e Fotos: Gabriela Silva
Adiaspora.com


Foi ontem à noite em Coimbra na Livraria Minerva. O livro intitula-se Chão da renúncia. A minha amiga, Dra. Ana Gomes e a irmã, Maria Amália, organizaram a parte cultural com um grupo de fados de Coimbra e um poema que dava introdução ao livro e que é da autoria do excelente poeta Eduardo Bettencourt Pinto, residente em Toronto e nascido em Angola. O texto de apresentação que li era assim: Ao longo da minha vida, ouvi milhares de frases sobre a amizade. Recebi muitas, em discretas mensagens de telemóvel, li outras em powerpoints mais ou menos elaborados com românticas músicas de fundo, adequadas a quem sofre de solidão e bebe num forward tudo o que a amizade parece ter de espantoso e belo. A vida de todos nós aparece hoje cruzada por pessoas que não conhecemos pessoalmente mas que nos enviam milhares de mensagens que falam de amor, de amizade, da necessidade de alguém, do desespero da solidão. São as novas formas, as formas do nosso tempo, para encontrarmos de novo um paraíso de afectos perdidos.

Gabriela Silva apresentando o livro

A vida tem-me ensinado que a amizade não se mede apenas pela presença nos momentos maus. Pelo contrário. É nos momentos de glória que os verdadeiros amigos se revelam. Pode parecer a alguns que esta afirmação contém alguma desconexão com a realidade, mas eu julgo que o tempo nos actualizou as verdades, e hoje em dia tenho a certeza que é mais fácil abraçar alguém que sofre, que abraçar genuinamente alguém que acaba de ter um êxito estrondoso. A amizade é um sentimento que ganha enorme serenidade com o passar dos anos, com o abandono da competição, com a partilha. A minha amizade com a Aida, situa-se nessa área por isso tem vindo a ganhar um espaço cada vez mais especial no meu coração e na minha vida. Estamos aqui esta noite para falar da Aida através de mais um título da «Minerva». Mas não é um título qualquer. É um chão de renúncias, como lhe chama a autora. A autora que também não é uma mulher qualquer. Para mim, a Aida é, ainda para além do fio invisível da amizade que nos gemina, uma mulher especial, parceira dos meus medos, irmã das minhas renúncias, bálsamo das minhas dores. Os termos muito em comum, no percurso académico e nos sonhos, uniu-nos como só o universo pode unir. Mais tarde, acabei por receber pelo correio um Passaporte inconformado, primeiro título que deu à estampa, com crónicas de Toronto. E eu estava lá, no meio da obra, sentada de poltrona, num texto afectivo e lindo que ela me dedicou.
Um amigo é alguém que nos completa, alguém que realiza por nós as tarefas que nos fazem doer, aqueles que escreve as notas do meio da nossa partitura individual. A Aida é a mulher que orienta, que programa, que decide com calma, que planeia, que nos acorda no horário que nos chama à realidade quando a fantasia já tomou conta de nós.

Conheci a Aida numa fase em que ambas estávamos a viver momentos de desconforto. Foi em Toronto, no meio das festas de celebração do aniversário de Adiaspora.com, projecto informático de um amigo comum. E foi um flash fabuloso, porque caímos nos braços uma da outra como se nos tivéssemos conhecido muitos anos antes, na escola, e estivéssemos a celebrar o reencontro, com tudo o que os reencontros têm de bonito e emotivo. Cada uma de nós conhecia na outra, o gosto pela escrita e pela vida, e esse foi o mote para iniciar conversa e amizade. Alguns dias depois, estava no seu apartamento, num jantar delicioso, no meio de uma tertúlia de amigos, porque se há coisa que a Aida não dispensa, são os amigos. Ainda hoje, receber, cozinhar, abrir portas a todos e a segunda pele desta mulher organizada e maravilhosa que me honra com a sua amizade.

Gabriela Silva, Dra. Aida Baptista e a representante da Editora Minerva

Não estou aqui para falar da obra da Aida porque ela nunca publicaria coisas inacabadas. Há uma consistência profunda que atravessa toda a sua obra que diz apenas a verdade e a explica de forma perfeita porque a arquitectura textual nela, não tem falhas. E isso distingue-a de muitos outros cronistas: consequência nas palavras. Ao ler as suas crónicas há um sentimento que nos atravessa em cada uma delas: sentimos dor quando ela fala disso, sentimos prazer quando ela fala de prazer. Há uma crónica em que ela fala de um modesto "golpe" contra as regras no dia em que está no aeroporto, a transpirar, ansiosa por entrar no avião, e, ao lê-la, tem-se a sensação de estar também ali, à espera de quebrar a regra e de se sentar no conforto do ar condicionado de um avião em movimento.
Esta noite, a Aida oferece-nos, à hora do chá, na magnífica cidade de Coimbra, na companhia dos seus e dos meus amigos, o seu Chão de renúncias. O livro podia chamar-se Momentos de glória. Mas não. É o seu Chão de Renúncias porque foi da renúncia que saiu a Fénix renascida que ela é como ser humano. O livro navega por Benguela, numa teia de memórias que tocam os nossos sentidos. Nalguns momentos, senti mesmo calor, o calor húmido de África e a tortura de momentos de dúvida e de insegurança.

Logo no prefácio a Aida dá-nos as coordenadas do seu chão. Mas tem mais: ela fala-nos logo de paixão avassaladora e isso, não são muitas as pessoas que a experimentam na vida. Para sentir paixões é preciso ter alma, imaginação e energia, a mesma energia que fez com que Aida Baptista voltasse ao Chão que pisara na infância para exorcizar os medos e verificar localmente, agora num registo diferente, o local onde fora feliz. Nem todos têm o arrojo de voltar ao lugar onde foram felizes, tanto tempo depois.

Parte da assistência

Chama-lhe paixão mal resolvida, a relação que mantém com essa África árida onde volta agora. Não resisto a fazer, aqui e agora, a leitura de partes da crónica que titula o livro. Não foi uma escolha aleatória mas foi apenas e isso: a minha escolha. A Aida tem uma escrita magnífica, estruturada, limpa de falhas de concordância ou outras, não fosse ela uma mulher da língua portuguesa. Mas tem mais: tem uma escrita rigorosa e perfeccionista mesmo quando espontânea leitura. Daqui a alguns anos, não teremos no mercado da escrita, muitas obras em bom português. Tornou-se chique escrever livros que são álbuns de fotografias de países visitados por celebridades que são prefaciados por outras celebridades e corrigidos ainda por outras, para serem vendidos às resmas para pessoas que não gostam de ler mas gostam ou precisam de comprar, em mega lançamentos nas FNACS que comercializam os livros para seu proveito. Ser editor e apostar numa obra de qualidade só pode ser mesmo uma grande prova de que admite a qualidade da obra em causa. A «Minerva» é uma dessas editoras. Estas editoras deviam merecer o respeito de todos porque são eles que produzem fluxos culturais, que ficarão para os vossos filhos como testemunhos de escrita de qualidade de que este livro é um excelente exemplo. Mais: Aida Baptista tem o mérito de nos transportar numa viagem que nos emociona a um país que, conhecido pelos seus olhos, ganha a dimensão afectiva que nos permite visitá-lo sem lá estar, sem nunca lá ter ido. A chancela da «Minerva» é aqui, merecida e festejada.

Outro aspecto da assistência

Sair de um Portugal evoluído sim, mas cheio de expedientes e técnicas de sobrevivência bem testadas, chegar a Angola e sentir que, mesmo de forma primitiva ainda, onde um passaporte inconformado ou outro qualquer documento que revele importância social, continua a ser importante para facilitar a vida, significa que os povos se auto determinaram, ganharam um novo estatuto, vivem em democracia mas continuam a não tirar proveito do melhor que a democracia devia dar: a liberdade. E como todos nós sabemos, a liberdade tem um preço que muitos, demasiados, nunca quiseram pagar porque implica muita transparência e isso não favorece aqueles que querem a vida facilitada e fácil.
Mas há muita gente a percorrer esta obra. Gente com a alma e os genes de Aida: os seus filhos, os seus grandes afectos, aqueles que fazem transbordar a sua alma e que a enchem de emoções positivas, em quem ela se revê.
Aida, gostava que este momento fosse único para ti mas tu mereces muito e eu tenho apenas o que tenho: admiração, respeito e uma profunda amizade por ti. Pela força, pela coragem, pelo percurso completo que fizeste na vida até aqui e pelo muito que tens ainda a dar a um sociedade onde se reclamam pessoas com a tua energia. O privilégio de estar aqui, a apresentar o teu livro, na companhia destas pessoas fabulosas que vieram estar connosco por vontade, que vão ler o teu livro e beber da tua sabedoria, já é suficiente para mim, que amo a vida e faço dos amigos a razão de ser da minha existência, sem filhos que prolonguem a minha vida para além do tempo e também com muito chão de renúncia pelo meio.

O Fado de Coimbra marcou presença no lançamento do livro

Não seria justo esquecer aqui, as pessoas que ajudaram a Aida a levar este projecto avante porque contribuíram para embelezar e dar alma a esta obra: Eduardo Bettencourt Pinto, um grande poeta, um grande amigo da Aida, um homem de todos os continentes que empresta o seu poema África a esta obra. Também o Marcolino Candeias é o autor desta capa fabulosa. O Marcolino é também um homem da cultura e um amigo da Aida. Estas parcerias que quebram a solidão de cada um dos artistas que intervêm para o nascimento da obra, é fundamental e preciosa.

Mas o patrocínio que mais me surpreendeu e deleitou foi o da Câmara Municipal do Tabuaço, local de nascimento da nossa escritora e amiga. Uma autarquia que apoia os seus munícipes ilustres, mostra a sua qualidade ao serviço da democracia e do desenvolvimento. Sei que a Aida lhes está muito grata, até porque não vive em Tabuaço neste momento, mas eu também estou porque enquanto cidadã de um país democrata, confesso que a Câmara do Tabuaço dá lições de democracia a pequenas autarquias que não se preocupam com o desenvolvimento cultural do seu Município. Tenho paixão pelo norte de Portugal e pelo Douro e já tenho também agora um bilhete-postal virtual do Tabuaço que pretendo visitar e que diz: Aqui cumpre-se o objectivo de libertar pela língua.

Livraria Minerva

Podia acabar com uma frase bombástica ou uma citação grandiosa. Mas não o fiz. Escolhi o poema do Zezito, um aluno que dedicou à Aida algumas das frases poéticas mais bonitas que li na minha vida porque tem a força da terra africana no conteúdo onde a energia marca o compasso de um poema de amor que pode ser um hino à liberdade e àqueles que a Aida libertou. E só liberta quem é livre como ela.

Na sua mão sanguínea está angolanidade
No seu coração está Portugal unido
No desejo, a mudança
No intimo a esperança de Angola moderna
Aida, não é você
É um nome no português das nações reunidas
Sob o conhecimento do português erudito
A sua marca é uma qualidade
Que cose os continentes, ensinando liberdade
País de Camões, lusofonia
Angola pacificada por mãos próprias
o símbolo da história

 

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