Com o salão paroquial lotado desta Igreja portuguesa em Toronto, na zona da Bloor Street West e Dufferin St., no passado sábado (dia 19 do corrente mês de Janeiro) pelas 17:30 horas, realizou-se mais uma tradicional festa regional da região dos Açores, desta vez a Matança de Porco. Assim mais de 200 pessoas se concentraram e encheram aquele espaço para participar numa festa tão popular das nossas gentes e que remonta dos primórdios do povoamento daquelas terras que foram descobertas e habitadas no século XV por gente oriunda do continente.
Vista parcial do salão
Como é sabido o gado suíno era criado durante o ano e abatido nos fins do Outono e princípio da estação invernosa para sustento das famílias cuja alimentação básica se apoiava praticamente das carnes e salga do porco. Isto tinha a sua razão de ser derivado que muitas das vezes, durante dias ou semanas, até o peixe escasseava pelo mar agitado pelos temporais que dificultava a faina piscatória. Assim as populações aprenderam a sobreviver apenas com os produtos extraídos do porco que transformavam habilmente nas apetitosas morcelas, torresmos, toucinhos chouriços e outros derivados que, com os condimentos adicionados durante a sua preparação, fazem ainda hoje uma refeição saborosa além de nutritiva. E são estes dons na transformação destes produtos alimentícios que as gentes oriundas dos Açores, não importando a ilha, conseguem agradar incondicionalmente quem queira degustar tais alimentos, e desta maneira estas festas são sempre bem participativas de gente daquela região e não só.
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Vista parcial das mesas
Esta festa de matança foi totalmente organizada, coisa que já vem acontecendo há mais de 20 anos, pela Irmandade do Divino Espírito Santo de São Sebastião, por um pequeno grupo de fiéis daquele culto à Terceira Pessoa da Santíssima Trindade, e por seus Mordomos. Este ano a Mordomia é encabeçada por Manuel Cordeiro, pessoa dinâmica e organizado que, deu um cunho com sabor às Ilhas de Bruma, donde pertence a maioria dos seus membros e benfeitores.
Aguardando o jantar
O jantar contou com sopa de vegetais e batata, seguida de carne de porco, com os apetitosos torresmos, morcelas, chouriço não olvidando os inhames e a batata doce, terminando com uma salada de fruta como sobremesa. Fazemos uma pausa para elogiar as senhoras que labutaram o dia inteiro na cozinha na confecção deste repasto. Não encontramos palavras para descrever a dedicação, sacrifício e disponibilidade de um pequeno grupo de senhoras, e cavalheiros também, cujo número não ultrapassa os 17 elementos, todos voluntários e que são eles a espinha dorsal do exito destas festas onde se tenta preservar e disseminar as nossas raízes tradicionais bem longe do torrão natal que, um dia, nos viu nascer. Fala-se em festas e de tudo que lá acontece mas esquece-se, muitas das vezes, destes pequenos mas importante pormenores que são os incansáveis obreiros que se sacrificam para, desta maneira, para dar continuidade e de manterem bem vivas as nossas tradições. Para eles um MUITO OBRIGADO do fundo do coração.
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As boas-vindas com o Vinho do Porto
Antes da refeição, e como é da praxe, foi tempo de orar em agradecimento ao Todo Poderoso pela refeição prestes a ser servida pelas mesas. Para este acto esteve presente naquele salão, o pároco daquela Igreja, o padre João Mendonça.
Terminada a refeição iniciou-se, de imediato, uma surpresa daquela noite pois não estava no programa, pelo menos foi o que nos indicaram, a entrada no salão de um tradicional Rancho de Matança formado por um pequeno grupo composto por cantores e músicos não faltando um casal de foliões. Este rancho auto intitulado "Grupo de Amizade" actuou e agradou a quantos enchiam aquele já citado salão de festas cujas quadras aqui reproduzimos:
Refreão
Cantar connosco
Vem adultos e crianças
Pra festejar
Nestes dias de matanças
Cantar connosco
Com boas festas e feliz ano novo
I
Ó malta que já cheguei
à vossa porta cantar
Mas ainda eu não sei
Se nos querem aceitar
II
Já entrei na tua rua
Nós entramos a pensar
Não tinha licença tua
Será que eu posso entrar?
III
Ouvi que tinham matado
Não sei se é certo ou não
E se acaso for verdade
A preparar o queijeirão
IV
Ó que matança tão bela
Que agora estou a ver
A deliciosa morcela
E o bom vinho pra beber
V
Já abriram o portão
Vamos todos cantar
Mas que diga sim ou não
Se podemos cá entrar
VI
À matança não resiste
Alegria desta gente
Dá felicidade ao triste
Saúde a quem está doente |
Vieram outras quadras, todas de autoria de José Paulo Farramenta, com o título Alegria, Alegria.
É verdade, alegria, de se conviver com as nossa sagradas tradições que por muitos anos que passem não as olvidamos:
Coro
Alegria, Alegria
Neste dia de matanças
Alegria, alegria
Prós velhinhos e crianças
I
Senhora a tua presença
Senhora bem delicada
Diz-nos se tu dás licença
Entrar em tua morada
II
Viemos vos visitar
Já que foi lembrança minha
Também pra saborear
Morcela e uma pinguinha
III
Vamos todos festejar
Que chegou o Natal
Pró Menino abençoar
Os filhos de Portugal
IV
Família que está vendo
Uma era já passada
E aqui vamos trazendo
A tradição desejada
VI
Divino Espírito Santo
Ó Senhora da caridade
Pões o Seu bendito manto
Em toda a sociedade
VII
Parabéns à Mordomia
Última quadra que resta
Sem eles que não havia
Matança e bonita festa
VIII
Viemos cá trazer
Algumas recordações
O recordar é viver
Viver nossas tradições |
Foi lindo ver e ouvir este Rancho de Matança uma tradição bem antiga das gentes açorianas e que continua bem latente no nosso seio e que auguramos muitos e muitos mais anos de presenças neste tipo de eventos. Há até quem diga que matança de porco sem Rancho de Matança não é...matança.
Oração pelo Padre João Mendonça
A noite continuou com arrematações da carne de um dos dois suínos expostos sendo o outro porco "sobrevivente" sido sorteado pelos presentes. A receita desta angariação de fundos destina-se a cobrir despesas com eventos futuros.
Foi celebrada uma pequena cerimónia de agradecimento pela ajuda monetária prestada por quatro casais de benfeitores que, com a esta caridade, contribuiram na realização duma cantoria realizada no dia 22 de Novembro do ano findo. Foram eles o José Pimentel, António Simas, João Quintal e Rui Luís e, obviamente, as respectivas esposas.
Outra vista mais ampla do salão
O sector de entretenimento esteve a cargo do conhecido Duo Santos, formado pelo casal John e Lisa Santos, que mais uma vez fez jus da óptima reputação granjeada ao longo destes anos todos e que "empurrou" uma multidão para a pista de dança para ali se abanar e fazer a digestão de tão delicioso repasto. Actuou também, acompanhada pelo já mencionado Duo Santos, uma jovem artista, a Kyla Brito, cuja melodiosa voz também atraiu a atenção dos presentes.
Queremos agradecer as atenções que nos foram dispensadas por todos os elementos da Irmandade do Divino Espírito Santo daquela Igreja e ao seu Mordomo, o sr. Manuel Cordeiro. Bem hajam.