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MATANÇA DE PORCO
NA IRMANDADE DE SÃO SEBASTIÃO

Texto e Fotos: Carlos Morgadinho
Adiaspora.com


Com o salão paroquial lotado desta Igreja portuguesa em Toronto, na zona da Bloor Street West e Dufferin St., no passado sábado (dia 19 do corrente mês de Janeiro) pelas 17:30 horas, realizou-se mais uma tradicional festa regional da região dos Açores, desta vez a Matança de Porco. Assim mais de 200 pessoas se concentraram e encheram aquele espaço para participar numa festa tão popular das nossas gentes e que remonta dos primórdios do povoamento daquelas terras que foram descobertas e habitadas no século XV por gente oriunda do continente.

Vista parcial do salão

Como é sabido o gado suíno era criado durante o ano e abatido nos fins do Outono e princípio da estação invernosa para sustento das famílias cuja alimentação básica se apoiava praticamente das carnes e salga do porco. Isto tinha a sua razão de ser derivado que muitas das vezes, durante dias ou semanas, até o peixe escasseava pelo mar agitado pelos temporais que dificultava a faina piscatória. Assim as populações aprenderam a sobreviver apenas com os produtos extraídos do porco que transformavam habilmente nas apetitosas morcelas, torresmos, toucinhos chouriços e outros derivados que, com os condimentos adicionados durante a sua preparação, fazem ainda hoje uma refeição saborosa além de nutritiva. E são estes dons na transformação destes produtos alimentícios que as gentes oriundas dos Açores, não importando a ilha, conseguem agradar incondicionalmente quem queira degustar tais alimentos, e desta maneira estas festas são sempre bem participativas de gente daquela região e não só.

Vista parcial das mesas

Esta festa de matança foi totalmente organizada, coisa que já vem acontecendo há mais de 20 anos, pela Irmandade do Divino Espírito Santo de São Sebastião, por um pequeno grupo de fiéis daquele culto à Terceira Pessoa da Santíssima Trindade, e por seus Mordomos. Este ano a Mordomia é encabeçada por Manuel Cordeiro, pessoa dinâmica e organizado que, deu um cunho com sabor às Ilhas de Bruma, donde pertence a maioria dos seus membros e benfeitores.

Aguardando o jantar

O jantar contou com sopa de vegetais e batata, seguida de carne de porco, com os apetitosos torresmos, morcelas, chouriço não olvidando os inhames e a batata doce, terminando com uma salada de fruta como sobremesa. Fazemos uma pausa para elogiar as senhoras que labutaram o dia inteiro na cozinha na confecção deste repasto. Não encontramos palavras para descrever a dedicação, sacrifício e disponibilidade de um pequeno grupo de senhoras, e cavalheiros também, cujo número não ultrapassa os 17 elementos, todos voluntários e que são eles a espinha dorsal do exito destas festas onde se tenta preservar e disseminar as nossas raízes tradicionais bem longe do torrão natal que, um dia, nos viu nascer. Fala-se em festas e de tudo que lá acontece mas esquece-se, muitas das vezes, destes pequenos mas importante pormenores que são os incansáveis obreiros que se sacrificam para, desta maneira, para dar continuidade e de manterem bem vivas as nossas tradições. Para eles um MUITO OBRIGADO do fundo do coração.

As boas-vindas com o Vinho do Porto

Antes da refeição, e como é da praxe, foi tempo de orar em agradecimento ao Todo Poderoso pela refeição prestes a ser servida pelas mesas. Para este acto esteve presente naquele salão, o pároco daquela Igreja, o padre João Mendonça.

Terminada a refeição iniciou-se, de imediato, uma surpresa daquela noite pois não estava no programa, pelo menos foi o que nos indicaram, a entrada no salão de um tradicional Rancho de Matança formado por um pequeno grupo composto por cantores e músicos não faltando um casal de foliões. Este rancho auto intitulado "Grupo de Amizade" actuou e agradou a quantos enchiam aquele já citado salão de festas cujas quadras aqui reproduzimos:  

Refreão

Cantar connosco

Vem adultos e crianças

Pra festejar

Nestes dias de matanças

Cantar connosco

Com boas festas e feliz ano novo

I

Ó malta que já cheguei

à vossa porta cantar

Mas ainda eu não sei

Se nos querem aceitar

II

Já entrei na tua rua

Nós entramos a pensar

Não tinha licença tua

Será que eu posso entrar?

III

Ouvi que tinham matado

Não sei se é certo ou não

E se acaso for verdade

A preparar o queijeirão

IV

Ó que matança tão bela

Que agora estou a ver

A deliciosa morcela

E o bom vinho pra beber

V

Já abriram o portão

Vamos todos cantar

Mas que diga sim ou não

Se podemos cá entrar

VI

À matança não resiste

Alegria desta gente

Dá felicidade ao triste

Saúde a quem está doente

Vieram outras quadras, todas de autoria de José Paulo Farramenta, com o título Alegria, Alegria.

É verdade, alegria, de se conviver com as nossa sagradas tradições que por muitos anos que passem não as olvidamos: 

Coro

Alegria, Alegria

Neste dia de matanças

Alegria, alegria

Prós velhinhos e crianças

I

Senhora a tua presença

Senhora bem delicada

Diz-nos se tu dás licença

Entrar em tua morada

II

Viemos vos visitar

Já que foi lembrança minha

Também pra saborear

Morcela e uma pinguinha

III

Vamos todos festejar

Que chegou o Natal

Pró Menino abençoar

Os filhos de Portugal

IV

Família que está vendo

Uma era já passada

E aqui vamos trazendo

A tradição desejada

VI

Divino Espírito Santo

Ó Senhora da caridade

Pões o Seu bendito manto

Em toda a sociedade

VII

Parabéns à Mordomia

Última quadra que resta

Sem eles que não havia

Matança e bonita festa

VIII

Viemos cá trazer

Algumas recordações

O recordar é viver

Viver nossas tradições 

Foi lindo ver e ouvir este Rancho de Matança uma tradição bem antiga das gentes açorianas e que continua bem latente no nosso seio e que auguramos muitos e muitos mais anos de presenças neste tipo de eventos. Há até quem diga que matança de porco sem Rancho de Matança não é...matança.

Oração pelo Padre João Mendonça

A noite continuou com arrematações da carne de  um dos dois suínos expostos sendo o outro porco "sobrevivente" sido sorteado pelos presentes. A receita desta  angariação de fundos destina-se a cobrir despesas com eventos futuros.

Foi celebrada uma pequena cerimónia de agradecimento pela ajuda monetária prestada por quatro casais de benfeitores que, com a esta caridade, contribuiram na realização duma cantoria realizada no dia 22 de Novembro do ano findo. Foram eles o José Pimentel, António Simas, João Quintal e Rui Luís e, obviamente, as respectivas esposas.

Outra vista mais ampla do salão

O sector de entretenimento esteve a cargo do conhecido Duo Santos, formado pelo casal John e Lisa Santos, que mais uma vez fez jus da óptima reputação granjeada ao longo destes anos todos e que "empurrou" uma multidão para a pista de dança para ali se abanar e fazer a digestão de tão delicioso repasto. Actuou também, acompanhada pelo já mencionado Duo Santos, uma jovem artista, a Kyla Brito, cuja melodiosa voz também atraiu a atenção dos presentes.

Queremos agradecer as atenções que nos foram dispensadas por todos os elementos da Irmandade do Divino Espírito Santo daquela Igreja e ao seu Mordomo, o sr. Manuel Cordeiro. Bem hajam.

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