Pe. Idalmiro numa celebração eucarística
A última vez que com ele estivemos, nada transparecia em seu rosto que estivesse acometido de qualquer doença, no entanto a doença da moda, está a ceifar cada vez mais vidas humanas e não há meio de a debelar. São Roque, toda a Ilha e todos aqueles que com ele privaram, choram hoje a sua partida. Ontem como hoje os valores Picoenses vão-se apagando e o Pico está a ficar cada vez mais pobre de GENTE COM VALOR, que se vão da lei da morte libertando. Ontem foi Dias de Melo, hoje foi o Pe. José Idalmiro como era conhecido por todos aqueles que tiveram a dita de escutar a sua palavra, quer nos sermões quer nas palestras que fez não só na Ilha, como também fora dela e até na Diáspora. O seu espólio foi entregue à Biblioteca Concelhia de São Roque e é necessário que haja alguém que o vá inventariando e estudando com todo o cuidado, porque parte da história da Ilha ali está religiosamente guardada e preservada. Esta homenagem é um preito de gratidão ao homem e padre que soube sê-lo nos momentos mais difíceis duma carreira a todos os títulos notável.
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Pe. Idalmiro agradecendo os aplausos do público
Já alguém dizia no tempo em que fui criado: Morre o homem e fica a fama! O Pe. Idalmiro era um padre que arrebatava multidões com a sua palavra. Ele fazia chorar pedras e cativava os humildes e altos dignitários. O elogio que agora aqui escrevo a ele o disse muitas vezes. Ele conseguia com o seu olhar penetrante e com o seu sorriso franco e aberto atrair tudo e todos que à sua beira se juntavam só para o ouvir. A sua dicção fluente e vernácula era entendida, porque a sua pronúncia era correcta e o seu repertório era bastante vasto.
Pe. Idalmiro na homenagem a Dona Josefina
A sua fala de elevada ascese transmitia o que, bem lá no fundo, a sua alma lhe ditava. Para que tudo corresse bem por último lia os seus sermões, como foi o caso do último, que proferiu na proa dum bote baleeiro, por ocasião do sermão da Pesqueira à passagem da procissão em honra da Senhora de Lourdes, padroeira dos baleeiros. Mas sempre era convidado para fazer palestras em sessões culturais, porque aquilo que fazia tinha erudição. Tudo isto vai faltando na nossa sociedade e cada dia que passa aumenta esta lacuna.
Pe. Ildamiro com Álamo de Meneses
Mas valendo-me dum escrito de Rui Pedro Ávila e com a sua devida autorização transcrevo algumas passagens do dito: Bandeiras a “meia haste” por toda a vila… querem homenagear o Pe. Idalmiro. Momento único este, que testemunha gratidão e memória… feliz do povo que as têm, pois assim afirma-se como uma “comunidade de valores e com valores”. Não esquecer, principalmente não deixar esquecer, é a única resposta coerente perante a grandiosidade do exuberante “percurso de vida” – pleno de realizações – do amigo Sr. Pe. José Idalmiro. Assim o testemunharam várias instituições do concelho, hasteando reverentemente seus símbolos heráldicos, nomeadamente: Câmara Municipal (era cidadão honorário), Junta de Freguesia de S. Roque, Santa Casa da Misericórdia de S. Roque, Filarmónica União Artista de São Roque e Filarmónica Liberdade do Cais do Pico.
Bandeira hasteada na Sede da Sociedade União Artista
Inúmeros amigos compareceram às cerimónias religiosas, da véspera, presididas pelo Bispo D. Arquimínio e de “corpo presente”, presididas pelo prelado diocesano D. António S. Braga, bem como ao cortejo até à sua última morada terrena, aos acordes da marcha Adeus Miranda, que ele tanto apreciava (na morte do Mestre Sr. Miranda, o Sr. Cristiano pediu ao jovem adolescente, o Pe. Idalmiro, que enquanto compunha as partes instrumentais restantes fosse levando à casa do ensaio da União Artista, próximo da sua casa paterna, as partes que ia urdindo) interpretada, como há anos não se assistia, pela centenária “menina dos seus olhas”, a Filarmónica “União Artista”...
Bandeira hasteada no Polivalente de São Roque
Padre à frente do seu tempo; Dedicado, mesmo depois de reformado (capelão do Lar de Idosos e entusiasta incentivador dos Centros de Dia de Idosos); Professor e animador cultural, até ao fim, já que, ainda há poucas semanas participava nas “tertúlias com café” promovidas pela edilidade; Orador, palestrante e historiador; Colaborador de Jornais por toda a ilha e por toda a Região, Américas e Canadá; Poeta (autor da letra do actual Hino do Padroeiro São Roque, com música do promissor compositor e nosso conterrâneo Prof. Antero Ávila); Escritor e “guardador de papéis velhos (espólio do P. Zeferino)” publicou: “Esta Terra Esta Gente” em 1992 com 2ª edição em 2002, Convento de S. Pedro de Alcântara – mosaicos da sua história em 1996, Património Religioso do Concelho de São Roque em 1999, Sinfonia dos 120 anos da Filarmónica União Artista em 2000, Notas Históricas – Santo António do Pico em 2005, e União Prainhense – Partitura de Sons, Arte e Cultura em 2008.
Bandeira a meia haste no Edifício da Misericórdia de São Roque
Em 1992, nas comemorações dos 450 anos do Município de São Roque, a edilidade concede-lhe o título de Cidadão Honorário e a Medalha de Prata do Município e em 1999, o Presidente da República, Dr. Jorge Sampaio, confere-lhe o Grau de Comendador da Ordem de Mérito da República Portuguesa... É imperioso que “outros” cidadãos surjam e se afirmem, para bem do progresso sociocultural e reivindicativo d’ESTA TERRA e d’ESTA (s) GENTE(s). Citação.
Esta foi a nossa homenagem sentida e reverente ao Sacerdote e ao homem que marcou um determinado tempo na Ilha Montanha
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