Festas do Senhor Santo Cristo dos Milagres
na cidade de Brampton
Natividade e Carlos Ledo (Texto e Fotos) Adiaspora.com
Costuma-se dizer que tarde é o que nunca chega, e o que chega nunca é tarde. Sendo assim, segue aqui a nossa reportagem sobre as Festas do Senhor Santo Cristo dos Milagres, realizadas na cidade de Brampton, na província do Ontario, Canadá.
A comunidade de expressão portuguesa residente na cidade de Brampton e arredores esteve em grande festa, por ocasião das celebrações em honra do Senhor Santo Cristo dos Milagres, uma fé e devoção do povo açoriano. Estes ilhéus, ao atravessar as fronteiras dos mares, transportaram consigo, nas suas malas de bagagem e, sobretudo, nos seus corações entristecidos, a imagem do Senhor Santo Cristo dos Milagres, guardando-a num lugar muito especial, com o máximo respeito e carinho.
A Santa e Venerável imagem do Senhor Santo Cristo encontra-se albergada numa capelinha da Igreja de Nossa Senhora de Fátima, nesta mesma cidade, onde, pela segunda vez consecutiva, se celebra estas grandiosas festividades, as quais reflectem a fé de um povo, a fé de todos os portugueses, sejam estes provenientes do Continente, da Madeira, ou dos Açores. Não obstante as suas origens açorianas, as Festas do Senhor Santo Cristo é de todos quantos Nele acreditam e depositam a sua fé e confiança.
Esta grande manifestação de religiosidade e fé perante a imagem do Senhor Santo Cristo decorreu, nos dias 5,6,7 e 8 de Setembro de 2008, tendo iniciado, na
sexta-feira, dia 5, pelas 19 horas da tarde, com a celebração da Missa de
“Cura” e a bênção especial dos doentes, que afluíram, em grande número, para
participar naquela missa. A celebração da Eucaristia foi presidida pelo
Monsenhor Agostinho Tavares, que se deslocou, propositadamente, do Santuário da
Esperança, em Ponta Delgada, Açores, para assistir a estas grandes celebrações. Antes da Missa, a venerada imagem saiu da sua capela em procissão, transportada aos ombros de oito robustos homens. Posteriormente, foi depositada, cercada por um lindo mar de flores, junto ao altar situado mesmo em frente ao recinto em que os enfermos se encontravam e oravam, fervorosamente, pelas suas melhoras e cura.
Em seguida, deu-se a inauguração e a bênção da nova Capa e Coroa do Senhor Santo Cristo. Nesse dia, a igreja, que é bastante espaçosa, tornou-se pequena para acolher tantos devotos do Senhor Santo Cristo, que ali, acompanhados pelo coro local, entoavam os mais belos cânticos. As cerimónias do dia encerraram com a “Bênção do Santíssimo Sacramento”, e a bênção especial de todos os participantes.
O arraial tradicional e um espectáculo, protagonizado por bandas de música e artistas locais, decorreram no exterior da igreja, onde também não faltaram as barraquinhas, com bons petiscos, um bazar e, ainda, um exposição de artesanato e artigos regionais.
No sábado, dia 6, pelas 17 horas, deu-se a trasladação da Santa Imagem e a procissão, em torno do adro da igreja. A Santa Cruz seguia à frente do cortejo, seguida de um contingente de homens e mulheres trajando opas, e de muitas centenas de fieis que, ali, pagavam as suas promessas, enquanto outros, empunhando terços, oravam ao Senhor, em agradecimento por graças recebidas.
Acompanharam o cortejo os actuais párocos da igreja em festa, os Padres Manuel Quintal e Andrzej Chilmon - sendo este último mais conhecido entre os seus paroquianos por Padre André - e, ainda, o Monsenhor Agostinho Tavares, o qual proferiu as homílias ao longo destas festas.
A “Banda de Musica Lira de Brampton” e “Banda do Senhor Santo Cristo de Toronto” acompanharam a procissão, à qual se seguiu a habitual missa, onde, novamente, a igreja se apinhou com centenas de pessoas, que chegaram a ocupar os corredores laterais, o corredor central e o átrio. Ao entrar no templo após a procissão, os Romeiros estendiam os seus xailes no chão, para formar uma Guarda de Honra do Senhor.
No domingo dia 7, pelas 13 horas, deu-se continuidade à festa, com a celebração de uma Missa Solene. Pelas 15 horas em ponto, o guião saía pelas portas principias da igreja, para integrar mais um lindo cortejo, que contou com a participação de alguns sacerdotes, entre os quais o Padre André, Padre Octávio Cidadão, Padre Manuel Quintal, Padre António Teixeira, Padre Agostinho, Monsenhor Eduardo Resendes, Monsenhor Agostinho Tavares, e, ainda, o Bispo John Boissonneau.
A procissão percorreu algumas artérias das áreas circundantes, ao compasso das bandas “Lira de Brampton”, “Divino Espirito Santo de London”, “ e, ainda, a “Banda do Senhor Santo Cristo deToronto”, como era de esperar. Participaram naquele cortejo diversos grupos da paróquia, os representantes das autoridades e do Estado, e alguns ranchos folclóricos, enquanto as ruas nas imediações da igreja se enchiam com milhares de espectadores. Ao passar o andor, os estudantes universitários colocavam as
suas capas académicas no chão, num gesto de respeito e veneração ante o Senhor.
Depois da procissão ter recolhido, realizou-se um forte arraial, animado por bandas
de música e um espectáculo protagonizado por algumas das mais conhecidas vozes do meio artístico comunitário, entre estas João Pimentel, (vindo do Winnipeg) Tony Câmara, Tony Rebelo (Conjunto Boa Esperança), Os Alegres, as simpáticas Lucy e Bela Melo, Victor Martins. Este último, para além de animar a festa com as
suas cantigas, desempenhou também as funções de Mestre de Cerimónias. Os Ranchos
Folclóricos do Clube de Mississauga, do Madeira Clube, e de Brampton ajudaram a abrilhantar o evento, ao qual não faltaram algumas surpresas, mormente o talento revelado pelo Padre José Celestino, que deliciou todos os presentes, com a sua voz e as suas belas canções.
No domingo, ao raiar da manhã, o dia já se revelava tristonho, com os céus escuros e sombrios, e fortes chuvadas a cobrir toda a cidade. Muitos devotos, desapontados por ser aquele domingo o dia de Festa do Senhor Santo Cristo e haver tal temporal, ainda contemplaram ficar em casa. Mas a sua fé e grande devoção pelo Senhor Santo Cristo prevalecia, e meteram pés ao caminho, apesar da grande tempestade que se fez sentir todo o dia.
Todavia, valeu a pena acreditarem na força do Senhor e nos seus poderes milagrosos, pois o milagre acabou, na verdade, por acontecer. Quando o guião saiu à rua, a chuva ainda teimava em molhar a multidão, que, entretanto, não arredava pé do adro da igreja. Porém, quando o andor transportando a imagem do Senhor Santo Cristo saía pelas portas principais da Igreja de Nossa Senhora de Fátima, que, por norma, a alberga, os céus abriram em escassos segundos, surpreendendo os fiéis, que, entretanto, olhavam os céus e davam graças por aquele milagre.
O registo do Senhor Santo Cristo percorreu algumas ruas nas imediações da igreja, seguido de um séquito de devotos, maravilhados pelo acontecimento.
Na segunda-feira dia 8, pelas 18 horas da tarde, houve o tradicional cortejo de oferendas, e logo a seguir, deu-se a celebração da Santa Missa de Acção
de Graças, após a qual o arraial continuou, com arrematações, uma actuação da “Banda Lira de Brampton” e com um espectáculo do “Grupo os Alegres”
Havemos de louvar a boa vontade do Joalheiro Paulo Vale, que acatou o pedido de um grupo de imigrantes residentes na cidade de Brampton. Em Setembro de 2008, Paulo Vale fez chegar a esta igreja um número de réplicas de peças de joalharia, as quais passaram a integrar o conjunto de acessórios do Registo do Senhor Santo Cristo de Brampton. Estes adornos vindos de Ponta Delgada, nos Açores, e que incluem a Coroa, o Relicário, a Corda, o Ceptro e o Resplendor, são fiéis reproduções de peças originais eximiamente executadas. Doravante enriquecerão a Santa e Venerável Imagem do Senhor Santo Cristo dos Milagres, na Igreja de Nossa Senhora de Fátima, em Brampton, Canadá.
Mais uma vez presenciámos o orgulho da nossa Comunidade em preservar as nossas tradições religiosas. O empenho das nossas gentes, visível tanto na sua participação nestas lindas e majestosas festas, como no esforço dos que disponibilizaram voluntariamente o seu trabalho, foi deveras notável.
A Comunidade Portuguesa de Brampton está de parabéns por esta inesquecível festa, assim como os paroquianos da Igreja de Nossa Senhora de Fátima, e os seus actuais párocos, os Padres Andrzej e Manuel Quintal, que, ao longo do tempo, se têm revelado incansáveis e bons amigos, no desempenho das suas funções pastorais.
