JOSÉ CARLOS TEIXEIRA –
UM AÇORIANO DE VALOR
QUE HONRA A COMUNIDADE PORTUGUESA DO CANADÁ
Começo por saudar todas as Casas
dos Açores presentes na pessoa do Presidente José
Ferreira dos Santos, da Casa dos Açores de Winnipeg.
Sinto uma enorme satisfação por ter sido convidado
pelo Professor-Doutor Carlos Teixeira para intervir na cerimónia
em que o Conselho Mundial das Casas dos Açores (CMCA),
durante a sua VIII Assembleia Geral, na Casa dos Açores
de Winnipeg, lhe atribui a sua Medalha de Mérito. Encarreguei
o meu colega de direcção, Dr. Ponciano de Oliveira,
de ler esta minha intervenção, dado que não
me é possível estar presente, como desejaria.
Conheci o José Carlos – permitam-me que o trate
assim, é um dos meus grandes amigos – durante
o IV Congresso das Comunidades Açorianas, na Horta,
em 1995. Desde logo me senti atraído pela vivacidade,
pela intensidade e pelo entusiasmo das suas intervenções.
Não se limitava a expor o resultado das suas investigações
e trabalhos universitários. Transmitia o seu pensamento
a quem o ouvia duma forma tão convicta e apaixonada,
que mais não era do que a consequência do seu
amor às suas raízes, à sua terra, às
suas ilhas, à gente açoriana e portuguesa. Quando
o José Carlos nos diz alguma coisa (e o que ele diz
são ensinamentos) não é só a sua
voz que ouvimos, é também o seu coração
de ilhéu e a sua alma de português. Por isso,
quando fala, parece que todo o seu corpo vibra e fala também.
É por isso que, muitas vezes, quando termina as suas
intervenções, está feliz, mas cansado,
às vezes esgotado fisicamente. Mas ele é assim.
Assim o vi sempre em todos os encontros, reuniões,
congressos e conferências, fosse na Horta, em Angra,
em Ponta Delgada, em Lisboa ou em Toronto. E assim é
em tantas cidades e universidades americanas, brasileiras,
canadianas e portuguesas, onde continua a entusiasmar os mais
diversos públicos de diferentes origens e línguas,
onde continua a enaltecer o nome de Portugal.
José Carlos Teixeira nasceu na Ribeira Grande a 18
de Outubro de 1959. Veio para o Canadá em 1978 para
prosseguir estudos a nível universitário. Inicialmente
tinha a ideia de regressar aos Açores, mas acabou por
ficar por cá. Aqui casou com Zinha Teixeira, natural
de Rabo de Peixe, mas vivendo neste país desde os 9
anos de idade, onde desempenha funções de quadro
técnico superior de elevada competência. Estão
casados há 22 anos e sentem-se felizes, embora não
tenham filhos. Os pais, Carlos Teixeira e Maria de Deus Almeida
vivem na Ribeira Grande e a irmã, Natália Teixeira,
em Ponta Delgada. Tive oportunidade de conhecer também
a sogra de José Carlos, já falecida, mas a quem
presto a minha homenagem, uma senhora de Rabo de Peixe, atenta
à cultura, sensível e educada, embora sem estudos.
José Carlos nunca deixou de estar ligado à sua
ilha, que visita anualmente e onde, de vez em quando, ainda
joga um jogo de futebol com os seus amigos da primária,
entre os quais o músico Horácio Medeiros e Ricardo
Silva, actual presidente da Câmara da sua querida Ribeira
Grande. Gosta de regressar sempre ao convívio de familiares
e amigos e aos passeios pelos caminhos da sua infância
e juventude. E José Carlos tem uma característica
especial que define bem a sua maneira de estar na vida: optou
por não possuir viatura própria e, no entanto,
isso não o impede de conhecer todos os recantos das
cidades e países onde vive ou onde vai em viagens de
estudo ou de prazer. É mestre na utilização
dos transportes públicos. Se todos fizessem isto, o
mundo seria menos poluído… Em 1996, na minha
primeira viagem ao Canadá, fiquei na sua casa de Toronto.
Cheguei tarde, por volta das 10 da noite (muito tarde, porque
o casal deita-se cedíssimo e levanta-se de madrugada).
Estavam, portanto, a dormir. José Carlos tinha-me dito:
“A chave está num envelope branco, na caixa do
correio”. Estranhei, mas ao chegar lá estava,
no exterior da casa, uma carta branca a espreitar da caixa
do correio. E lá dentro estava a chave, com que abri
a porta. Isto numa grande cidade! Com a maior segurança!
Entrei, descalcei-me e lá fui, tentando não
fazer barulho, enfiar-me na bela divisão do sótão,
onde tinha tudo preparado para dormir. Poucos dias depois,
descobri uma nova faceta do José Carlos: convidou-me
para ir com ele descobrir Toronto. Durante toda uma manhã
e toda uma tarde, andámos para cima de 30 km a pé
e em passo rápido e percorremos todos os recantos encantadores
da baixa de Toronto. Ele não tem genica só a
falar, mas também a andar! Cheguei ao fim cansado,
mas satisfeito com este notável cicerone. Em jovem,
tinha tido o sonho de ser professor de Educação
Física e esteve sempre muito envolvido na vida desportiva.Foi
jogador do Sporting Club Ideal da Ribeira Grande e monitor
de futebol infantil. Foi corredor dos 100 e 200 metros. Daí
ainda conservar o seu andar atlético.
Peço-lhes desculpa destes apartes, derivados duma grande
amizade.
Após ter frequentado o Liceu Nacional Antero de Quental,
em Ponta Delgada, José Carlos emigrou com 18 anos para
este país. Foi para Montreal, onde tinha um tio (Augusto
Rego), pioneiro da emigração açoriana
para o Canadá. Ali fez estudos colegiais e ingressou
na Universidade du Quebec, em Montreal, onde obteve os graus
de B.Sc. em 1983 e M.Sc. em 1986, com uma tese de mestrado
sobre a comunidade portuguesa ali radicada, cujo título
era “La Mobilité residentielle intra-urbaine
dês Portugais de première generation a Montreal”.
Entretanto casou, foi viver para Toronto e prosseguiu a carreira
universitária na Universidade de York, onde, em 1993,
obteve o Ph.D. em Geografia. A tese de doutoramento tem por
título “The Role and the Impact of “Ethnic”
Sources of Information in the Relocation Decision-Making Process:
A Case Study of the Portuguese in Mississauga”. Nesta
tese, Carlos Teixeira não só estudou a estrutura
e a evolução (a nível residencial, comercial,
institucional) da comunidade portuguesa de Toronto, mas também
se debruçou sobre a mobilidade residencial/suburbunização
desta mesma comunidade para os subúrbios de Toronto,
sobretudo para Mississauga. Sendo as comunidades de Montreal
e Toronto maioritariamente açorianas, José Carlos
sentiu e viveu de perto, durante cerca de 20 anos, o pulsar
dos nossos emigrantes. Como académico, tenta estar
sempre próximo das nossas gentes, daí ter tido
sempre um grande envolvimento na vida da comunidade portuguesa
e açoriana (conferências, mesas redondas, trabalho
voluntário, etc.).
Conseguiu algumas importantes bolsas do Governo do Canadá
para prosseguir os seus estudos sobre os portugueses no Canadá.
De salientar a que recebeu em 1993-1994, da “Social
Sciences and Humanities and Research Council of Canada”
e em 2000 a do “Joint Centre of Excellence for Research
on Immigration and Settlement – Toronto”. Deu
aulas na Universidade de York de 1994 a 1996, passando depois
para a Universidade de Toronto, onde leccionou nos campus
de Scarborough e St. George até 2003. A sua área
de especialização é a “geografia
urbana e social”. A partir de Janeiro de 2004 passou
a dar aulas na Okanagan University College, leccionando nos
campus de Vemon e Kelowna. É autor de vários
artigos científicos publicados em revistas da especialidade
e foi director da publicação “The American
Ethnic Geographer”. Desenvolve trabalho de investigação
em áreas ligadas ao estudo da população
urbana, geografia social, migrações comunitárias,
com particular atenção para a evolução
das comunidades portuguesas no Canadá.
O professor-doutor Carlos Teixeira é autor ou co-autor
dos seguintes livros: “Os Portugueses no Canadá:
uma Bibliografia 1953-1996” (1998), com Gilles Lavigne,
“Portugueses em Toronto: uma Comunidade em Transição”
(1999), “The Portuguese in Canada: From the Sea to the
City” (2000), com Victor Pereira da Rosa e “Jovens
Portugueses e Luso-Descendentes no Canadá: Trajectórias
de Inserção em Espaços Multiculturais”
(2004), com Manuel Armando Oliveira.
Tanto o Vale de Okanagan como a cidade de Vancouver são
as actuais áreas de estudo de Carlos Teixeira, nomeadamente
as comunidades portuguesas ali residentes. Daqui sairá
talvez mais um livro, ele é que sabe…
O Estado Português soube reconhecer o valor deste açoriano,
que honra a comunidade portuguesa do Canadá ao atribuir-lhe,
no passado dia 15 de Outubro, a Ordem do Infante D. Henrique.
Numa cerimónia pública, realizada na própria
Universidade UBC Okanagan e a que se associou a própria
Direcção da Universidade, porque um dos seus
estava a ser alvo de homenagem. José Carlos Teixeira
recebeu esta honrosa e merecida distinção das
mãos do Cônsul Português. Durante a cerimónia
foi realizado um inédito Festival Português com
Mesa Redonda, filmes, música e dança. Penso
que todos nós ficámos sensibilizados e satisfeitos
com a Ordem do Infante D. Henrique atribuída a José
Carlos Teixeira.
Mas as Casas dos Açores, reunidas na VIII Assembleia
Geral do seu Conselho Mundial também resolveram homenagear
José Carlos Teixeira, aprovando a feliz proposta da
Casa dos Açores de Winnipeg de atribuir-lhe este ano
a Medalha de Mérito do CMCA. Lembro que esta Medalha
foi resultado duma parceria da Assembleia Regional dos Açores
com o CMCA e que tem gravada numa das faces a seguinte frase:
“Os Açorianos no mundo prestam-lhe homenagem”.
É esta a homenagem que também o CMCA presta
a José Carlos Teixeira, em nome das Casas dos Açores
espalhadas pelo mundo, em nome dos Açorianos.
Obrigado, José Carlos, pela tua dedicação
aos Açores e às suas gentes.
Porto, 7 de Novembro de 2005
José Manuel Tavares Rebelo
Presidente da Casa dos Açores do Norte
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