Embaixada de Portugal Otava
Intervenção do Embaixador J.
P. da Silveira Carvalho
Conselho Mundial das Casas dos Açores
Winnipeg, 13 de Novembro de 2005
Senhor Presidente do Conselho Mundial das
Casas dos Açores,
Senhor Presidente da Casa dos Açores de Winnipeg,
Senhora Directora Regional das Comunidades Açorianas,
Caros e Caras compatriotas
Em primeiro lugar gostaria de saudar os organizadores
e manifestar-vos as minhas felicitações por
terem levado a cabo mais um encontro do Conselho Mundial das
Casas dos Açores espalhadas pelo Mundo e regozijo-me
particularmente que se realiza no Canadá, país
que acolhe uma das maiores comunidades da diáspora
açoriana e representa a maioria da Comunidade Portuguesa
neste vasto país.
Esta iniciativa revela certamente a dinâmica dos portugueses
dos Açores que, através das suas Casas dos Açores
espalhadas pelo Mundo, preservam as suas tradições
e valores num são convívio que me honra partilhar.
Realçaria pois a vivência activa
das tradições culturais, dos valores e da religiosidade
intensa manifestada nas Festas do Espírito Santo e
do Santo Cristo do Povo Açoriano e que constituem um
enriquecimento da nossa cultura e da nossa maneira de estar
no Mundo.
As conclusões dos trabalhos hoje aqui
apresentadas podem contribuir para aumentar visibilidade das
Comunidades nos países de acolhimento, para manter
a sua coesão social e cultural e continuar a passar
o seu testemunho às novas gerações.
Regozijo-me pois por ter sido convidado para
encerrar os trabalhos deste Conselho Mundial.
Gostaria pois fazer-vos um balanço
da presença da Comunidade Portuguesa maioritariamente
originária dos Açores e da sua contribuição
para o desenvolvimento do Canadá e da sua terra de
origem, bem como expor-vos as minhas linhas de actuação
nesse sentido.
Desde que assumi funções como
Embaixador no Canadá, em Novembro de 2003, que tenho
visitado várias Comunidades Portuguesas espalhadas
por este grande e vasto país que acolhe centenas de
milhares de portugueses. A província de Manitoba e
Winnipeg em especial, foram também centros de recepção
dos portugueses que aqui chegaram nas décadas de 50
e 60 do século passado.
Não dispomos de dados estatísticos,
nem da parte canadiana nem da parte portuguesa, de forma a
saber rigorosamente o número de portugueses de acordo
com as suas regiões de origem. No entanto, com base
nas inscrições consulares, que ainda não
estão totalmente informatizadas e da actualização
complexa sobretudo porque os utentes não comunicam
regularmente as alterações ocorridas com o seu
estado civil ou mudanças de residência. Podemos
no entanto avançar que a maioria dos nacionais portugueses
são originários dos Açores – entre
os 60 e 70%. Esta realidade é confirmada pela observação
empírica que cada um de nós pode fazer no seio
das Comunidades Portuguesas dispersas pelo Canadá.
Sabemos, de acordo com o Censo Canadiano da população
de 2001, foram identificadas 360.000 pessoas com uma origem
portuguesa, o que nos coloca num 15º lugar no mosaico
multicultural canadiano, dos quais cerca de 50% terão
já nascido no Canadá.
Na Província de Manitoba, segundo
os dados estatísticos que atrás citei, haverá
cerca de 11.000 portugueses e luso-descendetes com a sua grande
concentração na cidade de Winnipeg.
Como sabem, em 2003, comemorou-se o 50º
aniversário do início da emigração
portuguesa organizada para o Canadá, tendo então
ficado demonstrado o reconhecimento das Autoridades Canadianas
pelo esforço que a Comunidade Portuguesa tem realizado
para o progresso deste país.
É sobejamente conhecido e tem sido
repetido vezes sem conta que a Comunidade Luso Canadiana é
respeitada – os Portugueses são reconhecidos
como trabalhadores, competentes, honestos e dedicados.
É também largamente conhecido
que os Portugueses contribuíram activamente para o
desenvolvimento da Economia Canadiana e para o Património
Multicultural Canadiano.
Em todos os sectores encontramos académicos,
cientistas, homens de negócios e profissionais proeminentes.
No entanto, para que a Comunidade Luso-Canadiana
continue a progredir e prosperar, é necessário
que se integre completamente e portanto seja cívica
e politicamente activa, com representantes em todos os níveis
do poder: local, provincial e federal.
Nas últimas eleições
federais, a Comunidade Luso-Canadiana conseguiu eleger o seu
primeiro Deputado Federal para a Câmara dos Comuns no
Parlamento em Otava, Mário Silva, que nasceu nos Açores.
É necessário que os Luso-Canadianos perseverem
e que nas próximas eleições consigam
que os Partidos Políticos incluam Luso-Canadianos nas
suas listas de várias Províncias onde se concentra
a Comunidade Luso-Canadiana. É igualmente importante
que está participação se efective a nível
das Províncias e das Câmaras Municipais e dos
Conselhos Escolares.
Mas também ao nível económico
a Comunidade Portuguesa necessita de se afirmar. Sendo prioritário
o desenvolvimento bilateral das relações económicas
e financeiras entre os nossos países e em que os agentes
económicos Luso-Canadianos poderão ter um papel
preponderante.
O sonho dos portugueses que chegaram ao Canadá
entre os anos 50 e 90 à procura de uma vida e de uma
educação melhores para os seus filhos concretizou-se,
mas neste mundo global e cada vez mais competitivo e exigente
é necessário que encorajemos e apoiemos os jovens
luso-descendentes a prosseguirem os seus estudos no ensino
superior, em todos os níveis e em todas as áreas
do saber.
Só 6% do total de portugueses e luso-descendentes
(21.565) dispõe dum diploma universitário de
licenciatura, mestrado ou doutoramento e 40% com mais de 15
anos de idade (142.425) concluiu o ensino secundário
ou possui um diploma profissional. Devemos melhorar esta situação
e para tal é indispensável que os pais e os
jovens estejam consciencializados para lhes incutir o desejo
e esforço, que vale a pena e faz a diferença,
de prosseguirem e completarem a sua formação
superior para se tornarem cientistas e profissionais altamente
especializados, indispensáveis ao progresso da nossa
Sociedade e do Mundo.
Hoje, o Português é cada vez
mais um importante instrumento de trabalho e mais valia neste
nosso Mundo globalizado, para facilitar a comunicação,
para promover as relações económicas
e comerciais, bem como na cena política internacional.
O Português é também
uma importante língua de trabalho em muitas organizações
e fóruns internacionais.
O Português é a língua
oficial de Portugal, Brasil, Angola, Cabo-Verde, S. Tomé
e Príncipe, Guiné-Bissau, Moçambique
e Timor Leste.
Portugal é um país com 10 milhões
de habitantes residentes e calcula-se que mais de 4 milhões
de Portugueses vivem fora, sendo o Canadá um dos países
que acolhem uma das maiores Comunidades Portuguesas no Mundo.
A Língua Portuguesa é pois
particularmente relevante para o Canadá, que tem ainda
importantes relações com o Brasil, no contexto
das Américas, bem como os Países Africanos de
Língua Oficial Portuguesa.
O interesse pela Língua Portuguesa
demonstra-se no número crescente de Canadianos de todas
as origens que estão a aprender Português. Os
Luso-Canadianos, especialmente os mais jovens devem ser consciencializados
dos potenciais da língua portuguesa, que faz parte
da sua identidade e da sua herança cultural.
Os pais deveriam aproveitar a realidade multicultural
e multilinguística do Canadá e transmitir o
orgulho e o desejo por aprenderem e falarem Português.
Também não podemos esquecer
a terceira idade, para que todos aqueles que o desejem e necessitem
tenham o descanso e o conforto merecidos na última
caminhada de suas vidas, no ambiente, na língua e na
cultura de origem. Conhecidos e activos grupos de voluntários
identificaram já algumas das necessidades e estão
a ser concretizados projectos de criação de
mais lares a tempo inteiro, de lares de dia e de assistência
em casa, com cariz português.
Estou certo que o nosso conhecido espírito
de solidariedade e de generosidade, de dedicação
e de esforço de todas as grandes instituições
luso-canadianas e de voluntários empenhados nestes
projectos, conseguiremos garantir o bem estar e uma vida digna
para a terceira idade portuguesa no Canadá.
Devo ainda salientar o trabalho de solidariedade
social para com os carenciados em geral, tanto no plano material
como de saúde física, mental e espiritual, desenvolvida
pelas organizações instituídas e novamente
por inúmeros e generosos voluntários anónimos.
Tenho consciência que muito já
foi conseguido pela nossa Comunidade a todos os níveis,
mas também que há bastante por fazer.
Reconhecendo a importância, valor e
relevância da Comunidade Portuguesa no Canadá,
no dia em que apresentei as minhas credenciais à Governadora
Geral do Canadá, fiz-me acompanhar, para além
dos que é habitual – minha mulher e meus Colaboradores
– dos representantes da nossa Comunidade, entre os quais
estavam dois Pioneiros de Otava.
Para terminar, gostaria de sublinhar que
Portugal, na totalidade e na diversidade das suas regiões
e do seu povo e o Canadá têm muitas coisas em
comum: - temos excelentes relações e pertencemos
ao mesmo Mundo, baseado em valores democráticos de
respeito dos direitos humanos, baseado num espírito
de abertura, modernidade, diversidade cultural e de empenhamento
e responsabilidades internacionais.
A minha deslocação a Winnipeg
por ocasião do Conselho Mundial das Casas dos Açores
demonstra a importância que atribuo à Comunidade
Portuguesa de origem açoreana e a relevância
que o seu papel pode revestir no Canadá dos nossos
dias.
Muito obrigado pela vossa hospitalidade.
Página
Inicial
|