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AS DANÇAS DO ENTRUDO DE 2006
NA ILHA TERCEIRA
Por Carlos Morgadinho
Adiaspora.com
Dança de Pandeiro
O festejar do Entrudo é uma tradição
bem peculiar do povo da Ilha Terceira cuja origem se perde no
tempo. Estas danças, por todos nós conhecidas
por Danças Carnavalescas e que anualmente se realizam
em quase todas, senão todas, as freguesias daquela Ilha
da Região Açoriana, e que envolve uns largos milhares
de participantes entre autores dos temas, compositores das musicas
apresentadas, músicos, dançarinos, actores, mestres
das danças, alfaiates e costureiras. Além disto
atrai também àquela Ilha muitos, quiçá
centenas ou milhares, de turistas provenientes não só
das outras ilhas como do continente e de estrangeiros o que
é o mesmo que dizermos que tudo isto gera e fomenta o
turismo naquele lugar dos Açores.
Este ano o Portal “Adiaspora.com”
esteve presente, na Ilha Terceira, para registar estes dias
de autêntica folia que se iniciou na sexta-feira, dia
24 de Fevereiro, só terminando na terça-feira,
dia 28, bem de madrugada, em alguns lugares pelas 7 horas da
manhã. Neste ano actuaram 77 danças e bailinhos
incluindo sete vindas das comunidades da diáspora, quatro
dos Estados Unidos da América do Norte e três do
Canadá.
Dança e Acrobacia
Algumas freguesias apresentaram-se com duas
e mais danças das quais destaco a Ribeirinha, Praia da
Vitória, Fonte do Bastardo, Feteira, S. Sebastião,
Lajes, Porto Judeu, Vila Nova, Biscoitos, Terra Chã,
Doze Ribeiras, Altares, Santa Barbara, São Bento, Fontinhas,
S. Bartolomeu e Angra do Heroísmo. Os tipos destas danças
variaram desde o típico Bailinho às Danças
de Espada não esquecendo, obviamente, as acrobáticas
Danças de Pandeiro. Sobre os temas apresentados foi um
sem fim de assuntos muitos deles hilariantes ou de escárnio
e outros de carácter dramático (as Danças
de Espada).
Embora estivessem a actuar 77 danças
neste Carnaval só nos foi possível, infelizmente,
assistir a metade delas devido ao facto de andarmos, naqueles
dias, em digressão de salão em salão, pelas
freguesias e, desta maneira, termos perdido muitas das danças.
No entanto daquelas que assistimos ficámos deleitados
tanto pelos enredos apresentados como pela coreografia das suas
danças que, sinceramente, nos agradou pela excelência
dos seus trabalhos.
As mulheres marcaram presença forte
neste carnaval
Sabíamos que não ficaríamos
desapontados pelos resultados que colhemos nesta nossa digressão
pela Ilha Terceira nesta época de Carnaval dado que,
aqui em Toronto, onde residimos há mais de 30 anos, termos,
ano para ano, observado estas festividades nos Clubes e Associações
de raízes açorianas, e que, segundo as palavras
de muitos terceirences aqui residentes – “serem
apenas umas amostras das Festas que se realizam na Ilha Terceira”!
E é verdade. Mesmo no Continente estas festividades não
têm, nem de longe, a pujança das que se realizam
naquela Ilha. O teatro de origem popular até há
alguns anos atrás era encenado ao ar livre mas hoje está
confinado aos pavilhões e teatros existentes nas cidades,
vilas e freguesias da Ilha Terceira, por vários factores
um dos quais devido às condições atmosféricas
daquela região atlântica onde a chuva, fortes ventos
e nevoeiro se faz sentir fortemente e que obrigava a alterar
ou cancelar aquelas festas no passado. Segundo alguns entendidos
destas festas referem-se que as mesmas têm a haver com
o teatro tradicional ou clássico da época de Gil
Vicente e que era então encenado nos palácios
reais ou da nobreza e trazido para aquela ilha com os primeiros
habitantes. Das danças existem registos nos anos de 1622
e 1752. Outros afirmam ser um derivado das festas religiosas
em cujos cortejos eram incorporados foliões que espalhavam
a boa disposição com as suas brincadeiras, palhaçadas,
ditos e troças mas que foram proibidas ou censuradas
posteriormente por incompatibilidade com as autoridades de então,
a religiosa ou civil, isto é, a nobreza e o clérigo.
Verdade? Não sabemos ao certo a veracidade destes rumores
mas o que afirmamos é que tais folias perduraram até
aos nossos dias através da apresentação
de peças teatrais e danças que agrupavam, nas
suas freguesias, trabalhadores rurais e artesãos que,
nas suas horas de ócio, encenavam ao longo do ano para
que, naqueles dias de Carnaval, se comemorasse vivamente, com
um teatro verdadeiramente popular, as festividades da época
e onde se troçava de tudo e de todos. Era ali, no Carnaval,
onde se dizia - “No Carnaval ninguém leva a mal”
- que se brincava e criticava as autoridades, os patrões,
vizinhos e o próprio clero com impunidade. E isto continua,
nos nossos dias, onde ninguém escapa à crítica
aguçada de quem escreve estes enredos carnavalescos e
que um bom observador poderá, sem muita dificuldade,
aperceber-se dos maldizeres durante as cenas no palco.
Clicar p/ ver
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Assim estas danças deste ano “mexia”
com a vaga de assaltos que vem acontecendo às residências
na Ilha Terceira com os proprietários ausentes ou não
e à ineficácia da polícia para por cobro
a esta onda de crime que vem afectando e preocupando a população
terceirense. Outra crítica, embora cómica, é
direccionada ao sistema de saúde e aos hospitais não
escapando o sistema de Justiça e os seus Tribunais com
a lentidão na solução dos processos, aos
seus longos períodos de férias enquanto os casos
se avolumam às “toneladas” nos gabinetes
dos seus funcionários. Os políticos não
escapam a estas brincadeiras e é comum vê-los andar
aos “trambolhões” com nomes e tudo. Enfim
é nestes dias que o povo dá “asas”
às suas frustrações e aproveita para, no
palco, zurzir sem “dó nem piedade”, naqueles
que ele pensa serem causadores das más condições
da situação económica, da carestia da vida
e dos problemas de segurança publica, social e da saúde,
etc., etc. No meio vem a sátira às esposas, ou
esposos infiéis, às reformas obrigatórias
aos 65 anos de idade, aos enredos das criadas domésticas
espertalhonas que só arranjam intrigas e confusões,
dos bebés incógnitos ou trocados; aos amores de
“perdição” com burras misturadas;
dos jograis com as suas quadras mais afiadas que “punhais”;
dos ladrões que viram vigilantes e defensores do cidadão
comum pois o crime já não compensa por haver tanta
gente naquele “ofício”; de “bombas”
implementadas que acabam por se revelar ser uma lancheira esquecida
da própria polícia (tirada de uma notícia
do ano de 2005 da Praia da Vitória); dos mexericos das
comadres e vizinhança que “matam” o marido
duma delas; das touradas e seus heróis forcados com um
destes a ser levado em ombros pelos seus fãs após
uma pega de frente num touro terrível; das mulheres “fáceis”
que desencaminham os extremosos maridos; às agências
de divórcios em crise e vai aí de procurar “clientes”
usando artimanhas e sedução; as piadas às
danças de espada, um congresso de super heróis
dos filmes e banda desenhada com o Super-Homem, Super-Mário,
Homem Aranha, Homem Morcego, Jim das Selvas, Robim dos Bosques,
Rambo, Tarzan, Zorro, Asterix, Billy The Kid, Pancho Vila, D’Artagnam
dos Três Mosqueteiros e, vejam só até a
Branca de Neve (sem os Sete Anões) e muitas mais que
seria cansativo descrever todos os temas e enredos apresentados
naqueles quatro dias de festas.
As "peripécias" da Ofélia
"mataram" o povo à gargalhada
Gostaríamos aqui de deixar alguns temas
das danças e bailinhos que este ano fez o gáudio
de quantos encheram os salões das freguesias da Ilha
Terceira:
A freguesia da Ribeirinha com 5 Danças: “O Andor
das Agonias”, “Namoro à Moda Antiga”,
“Livrai-nos dos Mexericos”, “Alice no País
das Maravilhas” e “A Conquista do Sexo”. A
freguesia da Feteira com 3 Danças “Afinal o Morto
está Vivo”, “Inês de Castro”
e “Um Concurso de Capinhas”. A freguesia de Porto
Judeu com 3 Danças: “Mulheres e Toiros e Paredes
Altas”, “De Ladrões a Heróis”e
“Velhas em Digressão”. A freguesia de S.
Sebastião apresentou-se com 2 Danças: “As
Peripécias de uma Vidente” e “A Memória
da Carmina”.Porto Martins com “Justiça Privada”.
A freguesia de Fonte do Bastardo com duas Danças: “Intoxicação
de Massa Malagueta” e “Uma Vingança do Destino”.
A freguesia do Cabo da Praia com “Escola do Nada”.
A Praia da Vitória com duas Danças: “Uma
Noite Escaldante” e uma outra cujo nome olvidamos. As
Fontinhas com duas Danças: “A Internet em Acção”e
a “Força da Lei”. A freguesia de S. Brás
com “Um Presépio Vivo”. A freguesia das Lajes
com 5 Danças: “O Voo 337”, “O Carnaval
em Turbulência”,”Fiel ou Infiel”, “Consequências
de um Sonho”, “A Princesa e o Dragão”.
A freguesia de Vila Nova com duas Danças: “As Peripécias
da Ofélia” e “O Enterro do Ti Agostinho”.
Agualva com “Uma Escola de Artistas”. A freguesia
da Casa da Ribeira com “O Escadote do Amor” e a
dos Biscoitos com duas Danças: “Policias, Ladrões
e Milícias” e “Primeira Companhia”.
A freguesia dos Altares com duas Danças: “Dois
Gémeos em Apuros” e “À Procura da
Sorte”. O Raminho com a Dança “A Força
do Amor Antigo” e a Serreta com “Segunda Feira da
Serreta”. A freguesia do Juncal com “Uma Noite Escaldante”e
a das Doze Ribeiras com 3 Danças: “A Morte do Óscar”,
“Escuteiros de Portugal”e o “Regresso da Múmia”.
A freguesia de Santa Barbara com 3 Danças: “Uma
Escola de Toureiros”, “Sorvetes da Baia”e
“A Velhacaria da Velhice”. A freguesia de S. Bartolomeu
com duas Danças: “Uma Herança Desastrosa”e
“Quem é o Pai da Criança”. A freguesia
de Terra Chã com 3 Danças: “Sem Comentários”,
“Este Bento é Azarento” e “Entrevista
Curiosa”.A freguesia de S. Bento com 3 Danças:
“Subsídio para uma Dança”, “Congresso
dos Super Heróis” e “Uma Estranha Doença”.
Angra do Heroísmo esteve representada por 2 Danças:
“As Paixões de Carminha” e “Tá
Tudo Doido”. A freguesia de Cinco Ribeiras com ”O
Milagre da Genética” e São Mateus com “A
Partilha”.
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