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Entre as Montanhas Rochosas e a Costa do Pacífico

Romagem pela Colúmbia Britânica
revela colonização portuguesa

José Ferreira
Adiaspora.com


(Agosto de 2003)

Ao contrário do habitual, este ano, as férias de verão não foram passadas na ilha azul, o Faial, a terra que me viu nascer. Resolvi dedicar o tempo de ócio do verão à descoberta do país que me deu o ser, o nosso bem amado Canadá. Como povo atlântico que somos, existe em nós uma propensão quase inata de nos virarmos, vezes sem fim, para o oceano que, ao longo dos séculos, alimentou e engrandeceu o espírito do nosso povo.
Vivemos o nosso quotidiano, sem, por vezes, nos debruçarmos sobre a infinitude de riquezas que este vasto, mas ainda despovoado país, nos oferece. Há que parar um pouco para reflectir e valorizar os tesouros que esta terra, que nos deu o pão, ainda tem para nos presentear.
Indubitavelmente, a concentração maior de imigração lusa encontra-se na Província do Ontário e na sua maior metrópole, Toronto, ponto de encontro de raças e credos, votando ao esquecimento, por norma e mau hábito, os nossos pioneiros que desbravaram para a lusitanidade as trilhas da imensidão infindável da região ocidental, e por lá ficaram, prestando o seu contributo, como nós, para a multi-etnicidade que caracteriza as sociedades hodiernas do Canadá.
Assim, fiz as malas, dobrei os calções, calcei as sapatilhas, enchi os bolsos de rolos fotográficos e apanhei o avião para Vancouver, na costa oeste do Canadá. Dali, parti de automóvel para

Merritt

Merritt é uma pacata vila situada a nordeste de Vancouver. Descobrimos que, em tempos mais fartos, trabalhou ali grande número de compatriotas na indústria da madeira. Mas com o decurso dos anos, muitas destas famílias migraram para outros centros nos arredores em busca de melhor vida. Contudo, ao passarmos pelas suas ruas, reparámos que a imigração latina ficou assinalada na sua toponímia...Garcia Street, Garcia Lake. Hoje, restam apenas uns quantos aglomerados familiares portugueses em Merritt.

Kelowna

Cidade que tem sido alvo de muitas reportagens televisivas nos últimos dias pelo grande fogo florestal que aqui deflagrou, resultando em avultadas perdas materiais. Ao aproximarmos da urbe, ainda na periferia ocidental, o denso fumo que emanava dos montes dificultava o respirar do mais forte. Mas lá avançámos, por entre a negra e pesada fumaça, entrando logo no centro da cidade. Há que o notar que o incêndio devastou cerca de 250 habitações, algumas pertencentes aos nossos conterrâneos.

Kelowna é uma cidade vibrante com cerca de 100,000 habitantes, sendo grande parte destes aposentados, pois a cidade oferece óptimas e salutares condições para o lazer e repouso. Circundada por montes, com estonteante beleza paisagística, Kelowna hoje goza de uma florescente economia, com os sectores do turismo e vinicultura marcando agressiva presença nos mercados nacionais. O centro da cidade oferece aprazíveis zonas comerciais, e animada actividade artística e cultural.
Residem por cá cerca de 430 famílias portuguesas. Os nossos compatriotas exercem profissões em quase todos os sectores.

Summerland

Lá recuperámos o fôlego e arredámos caminho em direcção a Summerland. Esta povoação, situada nas margens do Rio Okanagan, com uma população de 12,000 habitantes, possui uma particularidade interessantíssima: o estilo arquitectónico Tudor quinhentista, e ex-líbris oficial da cidade, transportam-nos para uma outra dimensão espaço-temporal, a da velha Europa em tempos de Henrique VIII e suas seis mulheres, e de sua filha, a “rainha virgem” Isabel I.
De uma esplendorosa beleza cénica, Summerland oferece ao veraneante magníficas trilhas, praias fluviais e, para os que se inclinam para o campo das artes e letras, uma dinâmica vida cultural. O turismo rural e a fruticultura são os sectores predominantes neste pequeno éden.
Existe na vila uma pequeníssima, mais próspera, comunidade portuguesa composta por cerca de uma dezena de famílias.

Penticton

Quem chega a Penticton nunca mais deseja partir! A origem do nome desta vila situada na pequena planície entre os lagos Okanagan e Skaha é aborígene: (Pen-Tak-Tin) lugar onde ficar para sempre. E foi quase o que me ocorreu pois, logo ao entrar naquela localidade, o mapa parou de fazer sentido, e eis-me perdido, pois buscava eu o Clube Português de Penticton de que ouvira falar em Vancouver. Restou-me parar o automóvel para solicitar ajuda, quando olhando para o lado se me deparou a quinta dos "Furtados". Como acontece em qualquer parte do mundo, não se anda muito sem dar de caras com um dos nossos! Saí do automóvel e dirigi-me à casa da quinta donde logo surgiu sorridente, a Dona Maria Furtado, portuguesa de gema. Olhando para o meu rosto acalorado e roupas empoeiradas, teve piedade e logo me convidou a entrar. De seguida, o seu esposo, Humberto apareceu e, claro, como mandam as regras da boa hospitalidade portuguesa, depressa tratou da fome do cansado e aflito viajante ao ofertar-me uma bela caixa de pêssegos sumarentos. Logo me proporcionou uma visita guiada da sua vasta quinta onde se dedica à cultura de maçãs e pêssegos. Humberto Furtado, um terceirense que ao emigrar para o Canadá em 1969, ali construíra a sua vida.

Informou-nos que existem 250 famílias portuguesas radicadas em Penticton que, na sua maior parte, se dedicam à vini e fruticultura. Outros, todavia, estabeleceram-se no ramo do comércio. Falou-me um pouco do Clube Português de Penticton, indicando-me o seu local.

Após a nossa interessante conversa com a família Furtado, dirigimo-nos ao centro da cidade em busca de albergue para pernoitar. Passámos pelo Rotary Park, onde nos ressaltou à vista a bandeira portuguesa e uma placa honrando todos aqueles que contribuíram para a salvaguarda da liberdade. Mas à frente, uma outra, onde figuram alguns nomes portugueses, entre vários outros, em reconhecimento dos que prestaram os seu contributo para a edificação e manutenção do referido parque.

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