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Oliver
Com as energias repostas por uma bela noite
de sono, foi tempo de enfrentarmos a manhã solarenga
e a estrada. A sul aguardava-nos a tranquilidade de vilazinha
de Oliver, retiro de aposentados e amantes da calma e paz. As
terras do Lago Vaseux, que se situa ali perto, albergam o pastorício
de ovinos de raça bighorn.
Também aqui se faz sentir a presença portuguesa,
representada por 300 famílias, que actuam nos sectores
do comércio e agricultura. O espírito comunitário
destas gentes também aqui se faz manifestar, tendo a
comunidade o seu próprio Clube, onde os portugueses locais
se agregam para conviver nas horas de lazer.
É de salientar, que, nos anos 1970-1990, a comunidade
portuguesa controlava 75% das fazendas frutícolas entre
Oliver e Osoyoos. Embora ainda muito visível, o elemento
português diminuiu nesta região, pois muitos agricultores,
ao atingirem a idade de aposentação, migraram
para os centros urbanos. Grande parte dos seus herdeiros decidiram
não dar continuidade à tradição
agrícola de seus pais, tendo optado por profissões
liberais nas grandes cidades.
Tivemos ocasião de parar numa quinta vinícola,
Tinhorn Wineries, para uma prova de vinhos, pois de português
sedento pouco se aproveita! Travando conversa com alguns anglófonos
locais, foi-me dito que estes nutriam grande apreço pelos
portugueses, pelo seu contributo ao desenvolvimento socio-económico
da região. Falaram da hospitalidade e riqueza gastronómica
da cozinha portuguesa que conheciam ao frequentarem os casamentos
portugueses, os quais, segundo estes, proporcionam sempre festa
rija, boa pinga e fartos manjares!
Na borda da estrada para Osoyoos, ainda visíveis as placas
coloridas com nomes portugueses, tais como Ávila, Souto,
Fernandes, Fortunato, Quintal, Martins, Ferreira Fruit Stand,
Hilários, Silva, Tavares e outros, assinalando a origem
lusa dos proprietários destas quintas.
Mais uma paragem. Desta feita, na quinta do
Sr. João Tavares, um fruticultor natural de Castelo de
Branco. Com produção própria, João
Tavares, e seu filho John, dispõem de uma linha industrial
de embalagem de frutas, com distribuição por toda
a Província da Colúmbia Britânica.
Mais adiante esperava-nos Osoyoos.
Osoyoos
Situada na zona limítrofe da Região
de Okanagan, a vila de Osoyoos é um verdadeiro oásis
no deserto. Esta zona constitui um micro ecossistema, denominado
de Osoyoos Arid Biotic Zone (Zona biótica árida
de Osoyoos), sendo o prolongamento do Deserto Sonoran do Norte,
que se estende para norte do México. Com um índice
de precipitação menor do que nas zonas circundantes,
o seu clima único favorece a viticultura. Contudo, a
fruticultura, sector onde se insere muitos portugueses, tem
vindo a registar grande produção. Segundo Maria
Agostinho, co-proprietária de Jack and Maria Agostinho's
Fruit Stand: * "A fruta este ano é soberba, dá
para todos, assim, ninguém pode queixar-se."
Dona Maria Agostinho, como boa portuguesa que
é, não nos deixou prosseguir viagem sem nos providenciar
um grande saco de bela fruta, não fosse a fome nos apoquentar
pelo caminho. Natural de Silvares, na Beira Baixa, D. Maria
reside em Osoyoos com o seu esposo Jack há trinta anos.
Quer-nos parecer que o seu sorriso aberto e contagiante é
o segredo do seu sucesso e da sua muita clientela.
Na “baixa” de Osoyoos encontrámos indícios
de uma próspera comunidade lusa nas diversas lojas e
comércios portugueses. Também aqui a comunidade
dispõe de clube próprio.
Tivemos ainda a oportunidade de travar conhecimento com o Sr.
António José Pires e sua esposa francesa, Marie-Lou,
cuja eloquência na língua de Camões muito
nos surpreendeu. São o Senhor e Senhora Pires os proprietários
de uma loja de curiosidades de nome "Portuguese Reflections".
Radicados em Osoyoos há cerca de trinta anos, o casal
Pires e suas 3 filhas encontraram, nesta sonolenta e pacata
localidade, o sentido de suas vidas.
O simpático casal facultou-nos um breve
historial do sítio, informando-nos que ali existem por
volta de 320 famílias e 30 estabelecimentos lusos. Segundo
estes, a população portuguesa de Oliver e Osoyoos
consiste de 50% de continentais e 50% açorianos
Keremeos
Munidos de vários sacos de deliciosa
fruta dirigimo-nos para noroeste, tomando a rota de regresso
para Vancouver. Após uma hora e tal de viagem por terreno
montanhoso e estrada tortuosa, deparámo-nos com a pequena
aldeia de Keremeos, anichada como uma criança adormecida
no Vale Similkameen.
Sede de uma crescente comunidade de agricultores, tem vindo
a angariar reputação nos sectores da fruti e horticultura.
Foi pioneira na província da Colúmbia Britânica
no campo dos produtos orgânicos certificados. O local
tem vindo a atrair gente que busca a calma e pacatez nos últimos
anos de suas vidas. A alguns quilómetros da aldeia, um
dos poucos moinhos de grão existentes no país,
vestígio de uma comunidade que floresceu noutros tempos.
Aqui residem cerca de 6 famílias portuguesas. Encontrámos
uma loja de conveniência, mesmo à beira da estrada,
que ostentava, no seu exterior, pilhas de caixas de fruta, algumas
das quais com nomes bem portugueses como Fernandes e Ferreira,
entre outros. Pois até nesta remota e isolada povoação,
a diáspora lusa marca presença.
Princeton
Princeton
Mais adiante Princeton, povoação com uma população
de cerca de 5,000, sendo o maior empregador da zona a Weyerhauser,
uma grande serração de madeiras. Nesta lindo local,
cercado por belos rios, lagos e montanhas, residem cerca de
10 famílias portuguesas.
Hope
O Condado de Hope situa-se na zona leste do
Vale do Rio Fraser. Intersecção das quatro auto-estradas
de acesso às terras mais baixas da Província,
Hope é hoje uma comunidade de 7,000 almas que se dedica
principalmente à agricultora, turismo, construção,
silvicultura e serviços. O elemento português desta
interessante vila é de cerca 10 famílias.
Em 1965, Hope foi palco de um grande e devastador cataclismo
natural, o chamado Hope Slide. O movimento das placas tectónicas
da Cordilheira Canadiana provocou um desabamento de terras,
de tal dimensão que não foi possível recuperar
os corpos das vítimas nem dos veículos soterrados.
Assim, prosseguimos caminho, por entre vales
e verdejantes encostas, em direcção a Vancouver,
deixando para trás os hospitaleiros compatriotas que
ali vivem entre as maravilhas naturais do Vale do Rio Okanagan.
* Tradução de citação
retirada do artigo Fruit Industry booms this year,
– Osoyoos Times, Edição de 20 de Agosto
de 2002
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Adiaspora.com deseja agradecer a todos os nossos
conterrâneos que, por aquelas terras, mostraram grande
e generosa disponibilidade, facultando-nos dados e informação
valiosa a respeito das nossas gentes que ali se radicaram.
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