Segunda-feira, dia 4 de Novembro de 2002
A noite iniciou com uma palestra sobre o tema
"Sabores da Infância", uma história da
culinária típica dos Açores narrada pelo
jovem membro directivo da Casa dos Açores, Leonel Machado,
um terceirense, e pelo escritor micaelense Fernando Feliciano
de Melo. O Leonel Machado falou da riqueza da gastronomia açoriana
valorizada pela simplicidade e pela sua forma original de que
estão associadas as festas profanas, e principalmente as
de cariz religioso. Esta simplicidade nasce da insularidade e
isolamento geográfico e mais do que tudo, dos factores
económicos. As comunicações entre as ilhas
eram feitas nos velhos tempos por barco, e que eram condicionadas
pelos maus tempos que, no Inverno, obrigava a população
a viver numa economia de subsistência baseada numa agricultura
de minifúndio, não havendo os supermercados de hoje
ou a abundância de dinheiro para adquirir esse produtos
que hoje consideramos indispensáveis. Os pequenos-almoços
nesses tempos, para quem se dirigia para os campos, eram apenas
constituídos por café ou sopas de leite. Para os
almoços os "famosos" chicharros com pão
de milho bem como açorda, muitas das vezes sem ovo. A sopa
de feijão era então muito popular em todas as ilhas
por ser fácil de cultivar e económico. Durante as
festividades de Natal, Páscoa etc. tinha-se, então,
a galinha mas é no calendário religioso que existe
uma maior variedade na cozinha açoriana, tendo no Entrudo
as filhóses, os coscorões, as malassadas, as sopas
fritas servidas de licores caseiros. Na Páscoa as tradições
trazem-nos os folares de massa doce com ovos a enfeitar e o jantar
com carne de galinha conforme as possibilidades de cada família.
As festas de Verão onde se celebram os padroeiros das diferentes
freguesias a gastronomia era mais farta como, por exemplo, a alcatra
na Terceira, o pão-de-ló e o arroz doce. Nas Festas
do Divino Espírito Santo, de grande devoção
dos açorianos, há sempre a sopa tradicional que
varia de ilha para ilha, mas que é servida com carne e
massa doce. A distribuição das pensões, do
bodo e um pouco de carne aos mais necessitados porquanto, nesses
tempos, a vida era muito difícil. No Outono, com as matanças
do porco era dia de festa onde se juntavam as mulheres e se preparavam
as morcelas, chouriços, torresmos, tudo isto guardado em
tigelas ou alguidares de barro com gordura e sal para conservar
e que seria consumido ao longo do Inverno, não esquecendo
as castanhas e o milho cozido. No Natal os mais ricos tinham o
bacalhau e os mais pobres a carne de galinha, os figos e pão-de-ló.
Para terminar esta intervenção este jovem lançou
um apelo aos mais velhos para que ensinassem aos filhos e filhas
estas receitas regionais para que eles, os jovens, se sintam felizes
e orgulhosos da sua cultura que é de uma riqueza ilimitada.
Segue-se, nesta temática, o poeta Fernando
Feliciano de Melo que nos recorda as memórias esvaídas
pelo tempo, falando-nos com muitas saudades, quando jovem, das
sopas de leite fervidas, das natas e dos pedaços de pão
de milhos que lhe eram dadas pelos avós. Continua a fazer
honras a outros deliciosos petiscos da sua Ilha de São
Miguel, cuja gastronomia, pelo que apuramos naquele serão,
é de fazer-nos lamber os lábios e não se
podia trazer relator mais competente que o Sr. Feliciano de Melo
pelo que escutamos interessadamente durante aqueles minutos de
apresentação dos pratos regionais dos Açores.
Gostamos imenso desta intervenção bem elucidativa.
De seguida, uma intervenção do
Sr. Bill Moniz, um natural da Ilha do Pico e residente na cidade
de Toronto há muitos anos onde exerce a sua actividade
com Director do Departamento de Língua Portuguesa na estação
televisiva CFMT no Canal 47, sobre o tema "Açores
Como Destino Turístico". O interveniente confessou
ser bastante viajado, aliás uma das suas grandes paixões
de lazer, citando dentro dos muitos lugares visitados as Ilha
Fiji no Pacífico, os Alpes Suíços e os glaciares
do Norte do Canadá. No entanto, diz-nos que, apesar do
muito que já viu por esse mundo fora, não há
paisagem que competita com os Açores que é simplesmente
extraordinária com uma beleza indescritível. O calor
e a hospitalidade do seu povo é grande trunfo que cativa
os forasteiros de outros países como aconteceu na sua viagem
recente à Ilha de Santa Maria onde encontrou um casal austríaco
que tinha optado pelos Açores em vez das Caraíbas,
mesmo tendo em conta terem pago duas vezes mais por aquela viagem
do que se tivessem ido para aquelas ilhas tropicais. Foi, segundo
nos informou, o sossego, o contacto com a população
local e a panorâmica que os motivou. Por isso, a grande
potencialidade, além da já mencionada paisagem maravilhosa,
o povo açoriano é que é a grande aposta do
turismo da Região Autónoma.
Bill Moniz reafirma que por todos esses lugares
que visitou à volta do mundo nunca encontrou gente tão
hospitaleira quanto a sua. No fim da sua alocução
passou um vídeo seu sobre a Ilha Santa Maria por ocasião
de uma das últimas visitas, onde, além da beleza
natural, mostra-nos a opinião de residentes estrangeiros
e do continente português do que os levou a escolher aquela
ilha como seu lugar preferido. Bom trabalho, e esperamos ver outros
nos próximos eventos.
Seguiu-se uma demonstração do jogo
do pau pelo mestre desta arte, José Dias, natural da Ilha
Terceira com a participação de um jovem muito talentos,
Larry Vieira. É bom que nunca tenhamos que enfrentar no
ringue qualquer deles, pois ficaríamos certamente com muitos
galos na cabeça e com dores no corpo que não é
do reumatismo, obviamente! É deslumbrante o que se consegue
fazer com metro e meio de pau, só vendo para acreditar!
Nesta noite rica em eventos actuou uma jovem
artista, Tiffany Costa, que a todos encantou com a sua bonita
voz. Parece que estamos na presença de um "embrião"
de uma grande carreira, o que confirma mais uma vez a potencialidade
da comunidade portuguesa aqui radicada que tem produzido ao longos
dos últimos anos uma boa fornada de excelentes intérpretes
da nossa música e não só dos quais destacamos
Sara Pacheco, Guida Figueira, Michelle Tavares, Shawn Fernandes
e muitos outros. Somos mesmo ricos.
A noite encerrou com um convívio servido
com petiscos regionais.
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