Página: 1
/ 2 / 3 / 4
/ 5 / 6 / 7
/ 8 / 9
5º. Dia – Segunda-feira,
14 de Agosto – Estas coisas são muitas
vezes uma questão de sorte. Os cubanos são um
povo estóico, alegre mas compenetrado, consciente do
seu papel de anfitrião ao mundo que procura as suas belezas
naturais. Mas, tal como em tudo na vida, há excepções
à regra. O representante turístico que nos calhou,
não serviu. Não será identificado. Mas
falou muito e informou pouco. Denegrindo até os seus
próprios concidadãos. O que não está
bem. Mas como há sempre males que vêm por bem,
a sua falta de profissionalismo obrigou-nos a outra estratégia,
que foi a de alugar um táxi na recepção
do hotel. O bom do Lázaro, impecável de profissionalismo,
atenção e conhecimento do seu métier,
foi uma mais-valia absoluta.
Oficinas de caminho-de-ferro em Central
Austrália
A excursão que com ele fizemos durou,
sem pressas, das 9h30 às 19h00. Foram cerca de 500 km
percorridos em novas auto-estradas, de bom piso, de bons acessos
e com um dia espectacular.
.....
Locomotiva alemã, Henschel
& Sohnen, 1920
e Locomotiva de Montanha (?) – EUA (c. 1930)
O destino final era a Baía dos Porcos,
um dos lugares mais venerados da revolução castrista
onde, no ano de 1961, uma força armada de refugiados
cubanos, treinados e indoctrinados nos Estados Unidos, “encorajados”
pela administração do presidente John Kennedy
e com o completo apoio logístico da CIA e das forças
armadas americanas – especialmente a força aérea
e marinha – empreenderam uma invasão de Cuba para
derrubar o governo saído da revolução liderada,
entre outros, pelas quatro figuras mais carismáticas
do movimento: Fidel Castro, Camilo Cienfuegos, Ernesto “Che”
Guevara e Raul Castro, irmão do presidente.
.....
Aldeia Taina de Guamá (entrada)
e aspecto das Cubatas
Ao contrário do que se poderia esperar,
a invasão* deu-se no lado oposto da ilha (virado a sul)
e não da parte norte que se encontra a umas escassas
50 milhas da Flórida.
Em menos de três dias a vitória pertenceu às
forças cubanas.
Ritual da pintura sagrada
Nesta nossa visita ao local do desembarque,
após muitos quilómetros de plantações
de milho, tabaco, frutos e herdades estatais de agro-pecuária,
a primeira paragem foi numa unidade fabril desactivada, a Central
Austrália, na vila do mesmo nome - agora dominada por
uma moderna fábrica de sumos de frutos – onde Fidel
Castro e os militares cubanos estabeleceram o quartel-general
que dirigiu a batalha contra os invasores.
Clicar p/ ver fotos
de Guaná
........
Mas a grande surpresa – e há 12
anos eu não me havia apercebido disso – foi a existência
de uma oficina de locomotivas a vapor, no terminal de uma linha
de caminho-de-ferro regional. Deslumbrado com o material circulante,
tentei fotografar através da vedação, a
despeito da rede fina diminuir a qualidade das fotos. Subitamente,
de uma área que parecia abandonada, surgiu um indivíduo
sorridente, que abriu o cadeado do portão que dava para
a rua e nos convidou a entrar e fotografar. Era um dos maquinistas
e, ao mesmo tempo, um dos engenheiros da unidade.
Escribas em cerimónia de iniciação
Duas delas, uma norte-americana, não
identificada, mas parecendo uma locomotiva de montanha de rodado
2-2-4-4, e outra alemã da célebre firma metalúrgica
Henschel & Sohnen, de 1920, estavam acabadinhas de ser restauradas
a pintadas nas devidas cores, apenas com a excepção
dos bujões frontais haverem levado tinta cor-de-rosa
e a válvula traseira à lanterna de topo ter levado
uma camada de azul-celeste. Inaudito mas de belo efeito. Outras
duas aguardam a sua vez e uma quinta estava estacionada, mais
adiante, atrelada a uma composição de vagões
abertos, com bancos laterais, muito simples e de ‘sumapau’
(como se brincava em Portugal para referir os bancos de madeira
da III Classe) para transporte de pessoal.
Um regalo para a vista deste escriba, cujos
primeiros 7 anos de vida foram passados em frente a uma estação
de caminhos-de-ferro.
Devastação pelo furacão
ainda bem patente
____________________________________________________________________
Em Janeiro de 1959, a revolução
Cubana saiu vitoriosa contra a ditadura de Fulgêncio Baptista.
O presidente Eisenhower surpreendeu-se ao tomar conhecimento
que a revolução cubana era de cariz social e não
apenas a mudança de um regime por outro. Rapidamente
as relações com os Estados Unidos começaram
a deteriorar-se. A 17 de Março de 1960 Eisenhower aprovou
um plano secreto de acção contra Cuba que incluía
“uma poderosa campanha de propaganda”, e a organização
de uma força paramilitar de exilados cubanos para invadirem
a ilha. O ataque, levado a efeito a 17 de Abril de 1961, iniciou-se
com o bombardeamento aéreo dos aeroportos principais,
dois dias antes, na tentativa de incapacitar a Força
Aérea Cubana. O desembarque nocturno foi imediatamente
detectado e comunicado às autoridades. Em três
dias, as forças desembarcadas foram desbaratadas. 1.189
invasores foram feitos prisioneiros e 4 pilotos americanos perderam
a vida em combate. O plano arquitectado pela CIA foi um completo
desastre na prática e razão para embaraçar
o presidente John F. Kennedy, tanto no areópago das Nações
Unidas como perante a comunicação social da época.
Os prisioneiros foram julgados maciçamente perante a
televisão e muitos foram libertados mediante o pagamento
de 53 milhões dólares americanos em géneros
alimentares e medicamentosos, no prazo de um ano. Em resultado
deste fiasco, e do escândalo diplomático que se
seguiu, o presidente americano demitiu Allen Foster Dulles,
o veterano director da CIA, o seu adjunto Charles P. Cabell
e o director responsável pela operação,
Richard Bissell. As operações clandestinas prosseguiram
mesmo assim. Contudo, um conjunto de documentos trazido à
luz em 2000 revelou a existência de um plano (aprovado
pelo secretário da defesa norte-americano Robert McNamara)
que pretendia dar a ideia que Cuba havia atacado navios americanos
da base naval de Guantánamo. Este pretexto abriria as
portas para uma invasão massiva dos Estados Unidos a
Cuba. (J.A.Sierra, historyofcuba.com)