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Excelentemente recebidos pelo presidente da ACM, José de Ribamar Barbosa Belo, a delegação lusa foi apenas composta pelo Dr. Carlos Corvelo. A do Maranhão, pelo já citado líder; pelo Dr. Ronaldo Braga, em representação do governo estadual; Edilson Baldez das Neves, vice-presidente da ACM; Dras. Ester Marques e Gisélia Castro, do Chamamaré/UFMA; Maria do Socorro Araújo, do Departamento de Turismo de São Luís; duas assessoras a secretariar e a “delegação do Canadá” a reportar. E se pensam que o individualismo a que foi o Dr. Carlos Corvelo forçado lhe deu estatuto minoritário, esqueçam-se! Foi mais uma vez de grande conhecimento e erudição, de uma coerência total, reforçando o que de manhã havia dito na conferência e historiando a importância que o Governo regional dos Açores presta a estes acontecimentos, a esta “ronda de encontros com políticos e empresários do Maranhão, à semelhança do que já foi feito noutros estados [do Brasil] – disse – para reforçar a nossa história”. Continuando, o governante açoriano, lembrou que este “I Encontro é quasi-exploratório, a que outros certamente se seguirão. Para dar a conhecer os elementos de uma parceria que se celebrou para este evento a que o G.R.A se associou através da Secretaria Regional das Comunidades Açorianas.” E prosseguiu: “Estamos a abrir perspectivas, num processo de promoção”. Depois, voltou a focar de salto qualitativo e da boa gestão do seu governo quanto aos subsídios da União Europeia, quer na área dos investimentos públicos quer privados”.

Referiu ainda o Dr. Corvelo serem os Açores “uma sociedade muito jovem, vocacionada para a reforma do investimento tradicional e para incremento da competitividade de Região, atenta a mercados que absorvam o que produzimos, o factor de primeira fronteira com a Europa, em relação ao Brasil, a disponibilidade para a abertura das portas para a UE ao Maranhão e promoção de encontros de conhecimentos mútuos”.

Em resposta, José de Ribamar Belo, “saiu” com uma “boa notícia”: um grande projecto com a face do Maranhão consistindo numa feira alimentar entrosada nos elementos Turismo/Cultura/Artesanato, em Alcântara e um projecto de ida aos Açores e a França, fundadores, respectivamente, da cidade e do estado. O estado já cedeu o terreno para edificar o edifício promocional e Carlos Corvelo aproveitou para lembrar aos anfitriões a promoção dos diversos tipos de turismo ambiental no Maranhão.

O Dr. Braga agradeceu a Carlos Corvelo o convite para visitar os Açores e pela oferta de cooperação na área do turismo e da oceanografia “onde ambos os governos partilham uma grande tradição”, havendo amplo espaço para uma profunda troca de conhecimentos.

Numa curta intervenção, Baldez das Neves, industrial de hotelaria, lembrou que em São Luís “não queremos correr, antes promover uma turismo de qualidade e não de massas”.


O Dr Carlos Corvelo entregando à Dra. Ester Marques uma lembrança
do Governo Regional dos Açores

A terminar, Ester Marques explicou os objectivos do Instituto Chamamaré, uma entidade cultural não afiliada nem política da UFMA, definindo-a como “uma primeira célula de pesquisa e alvitrou um segundo Encontro para a discussão de um “protocolo de intenções, em que a cidade de Belém do Pará – este um alvitre bem definido de Carlos Corvelo – se encontra interessada. “Porque o povo – rematou – começa a compreender as dinâmicas turísticas partilhadas com regiões vizinhas mais desenvolvidas em termos turísticos, tais como Natal, Fortaleza, etc.

O encontro saldou-se com a passagem de um bem urdido vídeo sobre as atracções turísticas do Maranhão. Nele se mostraram também nomes curiosos da toponímia de São Luís, como a Rua da Bosta e a Rua do Quebra Bunda, antes do convite final: Nossa casa fica aguardando os senhores!!!

Recepção no Consulado Honorário de Portugal em São Luís
e Sociedade Humanitária 1º. De Dezembro

No equador, amanhece e anoitece repentinamente. Só não abrandam o calor e a humidade, e aquela chuva, ora miudinha ora torrencial que dá cabo da vida da gente...

Era já noite cerrada quando chegámos às instalações da Associação 1.º De Dezembro do Maranhão, num edifício próprio, com um belo jardim interior, piscina e alpendre para espectáculos culturais. Anfitriões foram os amabilíssimos Senhores Abraão Freitas Valinhas, Cônsul Honorário de Portugal; Eng.º José Pinheiro Marques; Manuel Faria, dirigente da Comunidade Luso-Brasileira do Maranhão e Manuel Alves Ferreira, presidente da Sociedade Humanitária 1.º De Dezembro.


O Cônsul Honorário de Portugal, Abraão Valinhas (quinto a contar da esquerda,
na primeira fila) rodeado dos seus convidados

A mesa estava belamente posta para receber os congressistas, as melhores cerâmicas em exposição, pátio da piscina lindamente iluminado. Foi neste ambiente de sonho que tocou e cantou magistralmente o Manuel da Costa tendo o concerto anunciado do Vítor Castro e do Paulo Cunha sido cancelado por indisposição do primeiro. Os Quatro Oitavas colmataram a brecha e junto a um enorme quadro a óleo de D. Luís I, rei de Portugal na dinastia última, de Bragança, o cônsul honorário conduziu o escriba a uma breve visita ao seu gabinete, gentileza que muito nos sensibilizou.

A noite acabou tarde, num restaurante local, onde se festejou, como só portugueses e brasileiros sabem, no altar da boa mesa, um dia pleno de bons acontecimentos.

Quarta-feira, 10 de Maio de 2006 – Na ausência da Directora Regional das Comunidades (GRA), Dra. Alzira Maria Serpa Silva, colmatou (muito bem) a brecha o Dr. Miguel do Canto e Noronha, já indigitado para o fazer com a sua directora. Na mesa, sentou-se como auxiliar no eventual debate a discreta e eficientíssima Sra. Nélia Andrade, da mesma Secretaria Regional e do Dr. Paulo Teves o “benjamim” da mesma.

"Os Açores no Mundo - de Emigração a Imigração"
- um relatório à altura da Secretaria Regional das Comunidades


Dr. Miguel Noronha

Passada que foi uma bem urdida demonstração em power point (deve ter um nome em português, mas confesso que não sei qual é, e nunca tive oportunidade de perguntar...) Miguel Noronha dissertou amplamente acerca do trabalho desenvolvido por este multifacetado departamento, verdadeiro “cavalo de batalha” em prol das comunidades açorianas (e não só) espalhadas pela Diáspora, preservação de todos os seus valores culturais, folclore, lançamento de livros, difusão do que a cultura açoriana tem de mais nobre, valioso e contemporâneo. No aspecto social, uma atenção especial aos repatriados que chegam aos Açores sem família ou uma simples palavra de Português; a recepção aos imigrantes ilegais recentemente expulsos do Canadá; um acompanhar de perto da Dra. Alzira Silva ao Ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal, Prof. Dr. Freitas do Amaral em conversações com o novo governo federal canadiano; promotora do ensino e manutenção da língua e cultura portuguesa, uma missão que não faz parte do seu pelouro mas que ofusca, de longe, a do governo central; constante organização de regresso às raízes dos jovens nascidos noutros países; encontros de jornalistas da diáspora lusa, enfim, um nunca mais acabar de iniciativas que “agarram” os jovens às origens maternas e um recompensar daqueles que no fim de vidas de muito trabalho podem olhar com orgulho uma parcela de Portugal que nada tem a ver com a que há muitos e muitos anos foram obrigados a deixar para sobreviver. Já para não mencionar a admiração justamente conquistada de todos os outros portugueses, não nascidos nos Açores, para uma iniciativa governamental digna do seu nome e dos parâmetros delineados pela Constituição da República Portuguesa.

 


Drs. Paulo Teves, Miguel Noronha e Nélia Andrade durante o debate sobre
o tema "Da Emigração à Imigração"

Finalmente, a visão sobre uma nova realidade que é a da Imigração dos estrangeiros que, no arquipélago, começam a contribuir com o seu saber, trabalho, esforço e dedicação, para o desenvolvimento da Região, comutando brechas e trabalhando em profissões menos comuns. Foi neste tema de apoio e ajuda, no estabelecimento familiar dos imigrantes que o Dr. Miguel Noronha finalizou a sua excelente palestra.

E se os oradores açorianos transmitiram o seu trabalho com a modéstia de quem está apenas a cumprir a sua missão, permita-se que o escriba – para além de jornalista, cidadão interveniente – acrescente que se os portugueses do Continente pudessem contar com apoios deste calibre, todos estaríamos muito melhor. Como o Governo Regional dos Açores não tem competência para dar medalhas, faço-o de muito bom grado e ao abrigo de me ser imputada qualquer tendência para “namorar” uma ordem ou comenda...

Projecto Arquitectónico de São Luís
- A preservação do Património Material e Imaterial

São Luís, capital do Estado do Maranhão, como já se disse e escreveu constitui Património da Humanidade, desde 1972, reconhecido pela UNESCO. O seu centro histórico, de traça pombalina, por haver sido edificado durante o reinado de D. José I de Portugal e seu primeiro-ministro Sebastião José de Carvalho e Melo, Marquês de Pombal e Conde de Oeiras. Lisboa havia sido arrasada em 1755 pelos piores terramoto e maremoto (tsunami) da sua história. O processo de reconstrução foi exemplo de arquitectura urbana, na altura. Contudo, o traçado urbano era já baseado em modelos existentes de cidades portuguesas do século XVII espalhadas pelo mundo. São Luís não foi excepção. Após a batalha de 1615, o engenheiro militar Francisco Frias planeia os arruamentos e praças que deveriam orientar o crescimento da cidade, semelhante aos desenhos que deram origem às cidades espanholas, com desenhos traçados em quarteirões regulares e duas grandes praças de onde partiam as ruas, transformadas com o tempo e conhecidas na actualidade sob a toponímica de Praça D. Pedro II e João Lisboa, como também explica Ananias Martins.


Dr. Luis Filipe Andrés: explicar a recuperação de São Luis
com uma fluência académica notável

Foi esta temática que nos foi mostrada pelo excelente gráfico apresentado pelo segundo conferencista da manhã, Luís Filipe Andrés, coordenador do projecto Praia Grande e a primeira pessoa que, por nós instada, explicou a ‘gaffe’ da existência de uma estação fluvial impraticável várias vezes ao dia, por causa da baixa-mar e do assoreamento do golfo, a tal barragem a montante que não permite o escoamento das ‘coroas’ ou acumulação de areias e lodos das marés equatoriais.

Em 1805 foi consolidado o Centro da Baixa, o primeiro terreiro público para comércio de mercadorias regionais: farinhas, feijão, gergelim, camarão e outros. O início do processo de renovação urbana da cidade ocorreu no mesmo período que Lisboa destruída, razão pela qual São Luís é considerada uma cidade de arquitectura pombalina, disse Filipe Andrés.


Dra. Maria do Socorro Araújo (Turismo Municipal)
e Arq.º José Marcelo do Espírito Santo (UFMA)

Hoje em dia, passada a ponte que liga o centro histórico para leste, ergue-se a nova urbe, à beira-mar, caracterizada por edifícios de apartamentos e hotéis ao longo das praias atlânticas, viradas a norte, e uma lagoa interior cuja saía para o mar também se encontra algo comprometida pelos aluviões já referidos. É nessa área que está prevista a construção de um cais de atracação permanente, cujo molhe, entrando pelo mar adentro irá resolver o actual problema de atracação de barcos de pequeno e médio calado.

A coadjuvar o conferencista principal, esteve o Arquitecto José Marcelo do Espírito Santo, professor da UFMA e presidente do Instituto de Pesquisa e Planificação da Cidade de São Luís.

Espírito Santo: O Culto e a Festa em espaços Lusófonos
- Uma lição de História pela Dra. Antonieta Costa, da U. dos Açores

De tarde, a temática direccionou-se para a devoção ao Divino Espírito Santo, um denominador comum entre as gentes dos Açores e do Maranhão, tão viva nos dias de hoje como na altura em que foi introduzida no território do Brasil.


A Dra. Maria Antonieta Costa falando sobre as origens da Festa do Divino

A Prof. Dra. Maria Antonieta Costa fez uma dissertação completíssima que, pela sua clarividência, passamos a reproduzir para os leitores interessados e os amantes da história desta devoção tão especial.

Nos Açores – Geografia

O Arquipélago dos Açores, constituído por nove Ilhas, formando três grupos, está situado a meio do Atlântico Norte, sensivelmente à mesma latitude de Lisboa e Nova Iorque e a distâncias semelhantes entre as duas. Descoberto por Portugueses, cerca de 1430, dos primeiros povoadores fazem parte religiosos franciscanos, que dão grande apoio ao Culto do Espírito Santo.

Estrutura social

O Culto é promovido por grupos de pessoas sem nenhum tipo de preparação especial, que funcionam em regime de voluntariado, na sua maior dimensão em associações designadas "Irmandades do Espírito Santo", mas funcionando também em pequenos grupos estruturados segundo outros modelos.
Embora partilhando uma mesma base teológica, na definição da Terceira Pessoa da Santíssima Trindade, o Espírito Santo, estes grupos não têm ligação formal à Igreja Católica estabelecida.
No caso das Irmandades, entidades independentes, quer da Igreja Católica, quer entre si, no conjunto de algumas centenas distribuídas por todas as Ilhas do Arquipélago, são regidas apenas por estatutos e seguem um modelo de administração democrático, com delegações de poder distribuídas por todos os membros que assim o queiram. A independência que as caracteriza leva a que, oficialmente, seja desconhecido o seu número exacto.
Em geral, cada Irmandade ocupa um espaço demográfico que pode ser aleatório, numa população constituída, em média, por duzentas famílias, assumindo a responsabilidade da realização do ritual pelo menos uma vez por ano. Porém, grande número delas consegue sortear entre os seus membros o encargo dessa realização, em cada uma das sete semanas do tempo Pentecostal (entre o Domingo da Pascoela e o do Espírito Santo), ficando assim este tempo preenchido com celebrações simultâneas, nas centenas de Irmandades distribuídas pelos Açores.
Os realizadores dos rituais, Imperadores ou Imperatrizes (ou “Mordomos”, noutros casos), podem ainda provir das Promessas, espécie de contratos estabelecidos com a Divindade.
Tanto estes Imperadores, como os sorteados pela Irmandade, têm inteira autonomia na realização dos rituais, podendo alterá-los para melhorar a sua eficácia
.

Forma

O Culto realiza-se em períodos de tempo de uma semana, para cada organização, Irmandade ou pessoa individual que o promova.
1. O primeiro rito deste conjunto consta da apropriação, pela família encarregue da realização do Culto, da parafernália com ele relacionada (Coroa / Salva / Ceptro / Bandeiras, etc.). Em procissão, os objectos são conduzidos para casa do novo Imperador. Em algumas Ilhas o cortejo ainda é precedido pelos foliões, espécie de arautos e, por vezes, celebrantes.
2. Grupos organizados começam a preparação dos alimentos, que são partilhados entre diferentes públicos, durante os sete dias seguintes.
3. Preces e litanias têm lugar todas as noites, na casa do Imperador, frente à coroa do Espírito Santo.
4. No último dia dessa semana, no Domingo, é realizada a Coroação, na Igreja da freguesia. A Coroa é levada em procissão, para a cerimónia da sua “imposição”, realizada na Igreja, pelo Padre, regressando depois a casa do Imperador, onde é colocada sobre a mesa da refeição cerimonial, a principal do conjunto de sete dias de ritos.
5. Ao fim do dia, segue-se a procissão que leva os objectos sagrados a casa do novo Imperador.
6. Parte dos ritos realizados em casa do Imperador, quando são da organização da Irmandade, poderão alternativamente ter lugar num pequeno edifício de sua propriedade, semelhante a uma Ermida, designado Império, e elemento muito comum na arquitectura açoriana.
Esta descrição generalizada compreende os elementos mais regulares do ritual. Cada localidade, porém, tem a sua especificidade. João Leal (1994) analisou os rituais de Santa Maria.

 

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