Baseando-se nos apontamentos da sua vasta
investigação histórica, Luísa
Noronha explicou detalhadamente o processo de reconstituição
de um capítulo menos conhecido da colonização
açoriana para o Maranhão: o da escravatura que
acabou, num processo de refluxo histórico, ser introduzido
ao contrário, do Brasil para os Açores, mormente
para as ilhas do grupo oriental, São Miguel e Santa
Maria. Escutemos a sua douta comunicação:
“Não vou, evidentemente, falar de toda a
História dos Açores entre o Velho e o Novo Mundo.
E certamente que de tal ninguém está à
espera. Nem o tempo nem o meu conhecimento o permitiriam.
Centrar-me-ei nas relações dos Açores
com o Brasil, ou dito por outras palavras, na participação
dos Açores na construção do Brasil e
também, um pouco apenas, mas também, na participação
do Brasil na construção dos Açores –
uma vertente frequentemente esquecida, lamentavelmente esquecida
porque, há que relevar, o MOVIMENTO fez-se nos 2 sentidos
- Ia-se e regressava-se (vinham para cá e voltavam;e
tornavam a embarcar para o BRASIL) .
Mais do que uma conferência, o que irei será
levantar certas dúvidas, QUESTIONAR, PROBLEMATIZAR,
chamar a atenção. Tentar apontar novos CAMINHOS
DE PESQUISA, numa perspectiva de enquadramento, de relação
e de contextualização.
E o que aqui irá ser dito, centrar-se-á –
como, de resto não poderia deixar de ser - no Maranhão
e também, na ilha de Santa Maria. E porquê sobre
Santa Maria? Porque Santa Maria – não o vou esconder
e, aliás, já foi dito na apresentação
é uma ilha cuja história conheço relativamente
bem, é uma ilha que tenho estudado com bastante afinco
e pormenor; porque esse estudo incidiu sobre documentação
riquíssima para o tratamento desta questão.
Mas não só. Se, como se chegou à conclusão
na 5ª Semana de estudos Açoriana, realizada em
2004, pelo NEA da UFSC, pode ser dito, de certa form,a que
foi aqui que TUDO COMEÇOU – e, repito, de certa
forma, porque TUDO COMEÇOU de uma forma mais sistemática
e organizada, uma vez que há que não esquecer
que a vinda de açorianos para o Brasil remonta ao sec
XVI, - também pode ser afirmado que aqui tudo começou
com marienses - não só com eles, mas também
com eles – com gentes que, mais tarde, em meados do
século tiveram, sim, isso pode ser dito sem dúvida,
um grande peso, na colonização do Maranhão
e que vieram precisamente da ilha que é, simultaneamente,
a ilha mais oriental e meridional das nossas nove ilhas, e
que é a ilha onde, como é usual dizer-se, “tudo
começou”. A 1ª ilha a ser povoada nos Açores,
um arquipélago, encontrado ou, talvez apenas, quem
sabe, reencontrado no sec XV, um conjunto insular com uma
história romantica-fantástica ainda hoje, por
poucos, mas por alguns, consideradas como indubitáveis
res¬tos da Atlântida, mitologicamente ligadas aquele
continente perdido, à grande ilha que desapareceu submergida
no mar, mas que, para alguns deixou vestígios, porque,
como foi dito, em 1891, pelo Coronel Sam C. Reid: depois “dos
terramotos e inundações que levaram ao desaparecimento
da grande ilha, …. Depois o sol contou por talhas de
ouro, no horisonte occidental, os seculos que passaram, e
foi em 1432 que se descobriu Santa Maria, a primera ilha conhecida
dos Açores”.
.....
Santa Maria e São Miguel,
as ilhas do Grupo Oriental que mais
escravos oriundos do Brasil receberam
E a conferencista prosseguiu citando:
- "Os Açores vistos por um americano: o Coronel
Sam C. Reid". As encantadoras ilhas dos Açores:
um grupo de ilhas com uma historia romantica-phantastica -
indubitáveis res¬tos da Atlântida. (AA, 11,
p. 193-198. Traduzido do "Daily Alta Califórnia"
de 25 de Janeiro de 1891, publicado em S. Francisco, extraído
do "Washington Star".).
E também porque SMA participou e muito no importante
povoamento do Norte do Brasil, um povoamento que parece ter
caído no ostracismo e consequentemente parece não
formar uma peça conjunta de uma estratégia adoptada
pela Corte Portuguesa e Espanhola (quando juntas), ao longo
dos séculos XVII, XVIII e XIX. Na verdade, entre aqueles
que fundaram o Município de S. Luís do Maranhão,
encontram-se grande número de marienses, tendo sido
a ilha de Santa Maria, no decurso do século XVII e
com a saída de um grande número de pessoas,
largamente responsável pela ocupação
humana e desenvolvimento socio-económico do Maranhão
e do Pará.
Mas deixemos a mitologia e centremo-nos nesse maravilhoso
movimento feito nos 2 sentidos. E quero aqui começar,
não me levem a mal, como comecei precisamente em 2004,
em Santa Catarina e citando um gaúcho:
“Os Açores pertencem a nosso afeto e a nossa
memória coletiva. O Rio Grande do Sul, o Estado brasileiro
mais meridional, e aquele que recebeu o maior contingente
de açorianos, sente-se feliz e comprometido com esse
legado. Não é de hoje que as Ilhas de sonho
povoam nossas lembranças mais caras. E elas estão
em nosso rosto, em nossa pele, na cor de nossos olhos, em
nosso folclore, em nossa visão de mundo, em nosso modo
muito hospitaleiro, singelo e veraz de encarar a vida. Orgulhamo-nos
de quem descendemos, assim como nos orgulhamos pela próspera
realidade dos Açores de hoje.”
Com ele pretendi expressar ao Professor Luiz António
de Assis Brasil – que estava presente – e a muitos
catarinenses e sul-rio-grandenses e já nessa altura
aos hermanos de São Carlos de Maldonado, do Uruguai
–, aqui também e tão bem representados,
o que muito nos orgulhou – o sincero reconhecimento
e a profunda gratidão dos Açorianos. Pelo grande,
muito grande contributo que tem dado – e certamente
continuarão a dar – no que respeita à
“descoberta/redescoberta” recíproca dos
Açores e do Brasil Meridional e do seu prolongamento
uruguaio; um “achamento”que tem vindo a acontecer
de forma rápida nos últimos anos e que depressa
se converteu num verdadeiro desafio: o de comunicar, inquestionavelmente,
com o sentido da História e das Raízes, mas
também e, sem qualquer dúvida, com o sentido
da contemporaneidade do que são os Açores e
o Brasil, agora e no futuro. Daí que nos Açores
nos orgulhemos pelo facto de no Brasil se orgulharem com “a
próspera realidade dos Açores de hoje”.
Porque, efectivamente, os Açores são, cada vez
mais, diferentes, podendo até dizer-se que, no nosso
contexto insular, ultrapassámos as nossas limitações.
E se para isso contribuíram todos os Açorianos
– os que ficaram e ainda os que partiram, mantendo a
sua ligação – concorreram também
todos aqueles que visitam o nosso belo espaço arquipelágico
e todos os que, longe, bem longe, deste lado DO OUTRO lado
do Atlântico, trabalham no processo de construção
de uma autêntica Rede Atlântica; uma Rede que
importa construir sem hesitações, em homenagem
ao passado, para honrar o presente e desenhar o futuro. Uma
Rede que se impõe como necessária, não
só para resgatar dos limites do passado e do presente
como ainda, e muito, para transmitir ao futuro – um
futuro a condizer com o que estamos a construir para os Açores
- os sinais identificadores da nossa cultura nos mais diversos
pontos do globo.
Mas o passado – esse passado que não pretendemos
reeditar mas que queremos reconhecer nos traços modificadores
do presente e do futuro –, mesmo com todas as vicissitudes
de um percurso próprio da época, orgulha-nos,
porque os seus frutos estão patentes em diversos locais
da grande nação brasileira. Bem expressos no
Brasil Meridional, como magnificamente o demonstra a citação
que fizemos do Professor Luiz Antônio de Assis Brasil,
menos visíveis noutros lugares, porquanto tem sido
menor o trabalho da sua preservação e resgate,
esse frutos demonstram o papel de inegável importância
desempenhado pelos Açores no processo de povoamento
e colonização do Brasil.
De facto, a participação açoriana na
construção do Brasil não se limitou ao
muito conhecido fluxo emigratório que ocorreu no século
XVIII. Os Açores, aquele “arquipélago
da lonjura” que, desde a centúria quatrocentista,
deu a Portugal a sua projecção atlântica,
contribuiu um pouco para o povoamento e colonização
de todas as regiões do Brasil. E se é verdade
que tal contributo adquiriu especial significado, no século
XVIII, em Santa Catarina e no Rio Grande Sul, não é
menos certo que também o adquiriu, no século
XVII, no eixo Piaui/Maranhão/Pará/Amapá.
Daí que o mergulhar na História, com o sentido
de a partilhar entre os Açores e o Brasil, de modo
a honrar o que nos é comum com a dignidade e o respeito
merecidos, passe, necessariamente, pelo estudo dessa vasta
participação. E implique também, e indubitavelmente,
a consciência de que o movimento que então se
gerou foi um movimento nos 2 sentidos ou, ditas as coisas
por outras palavras, não esquecendo que se os Açores
participaram na construção do Brasil, o Brasil
também participou na construção dos Açores,
o que, de resto, não poderia ter deixado de acontecer.
Quando os navegadores da época henriquina "depararam"
com o arquipélago dos Açores estavam, por certo,
longe de imaginar o papel de inegável importância
que tais ilhas iriam desempenhar no processo de descoberta
e construção do Mundo Atlântico. Cedo
convertido em celeiro do Reino, o arquipélago era já,
na viragem da centúria quatrocentista para o século
seguinte, um importante ponto de apoio no avanço das
navegações portuguesas para ocidente, algumas
das quais partiram mesmo das suas ilhas, bastando lembrar,
a este respeito, os nomes de João Fernandes, o Lavrador
e dos bem conhecidos Corte-Reais.
Mas a precoce importância geoestratégica e socioeconómica
dos Açores será, fortemente, reforçada
com o rasgar das grandes rotas transoceânicas, nas viagens
de regresso à Europa. Numa primeira fase, a Volta da
Guiné ou da Mina, depois, a rota do Cabo, a rota do
Brasil, a rota do Rio da Prata e, muito particularmente, a
rota das Índias Ocidentais. Em resumo: foram poucas
as rotas marítimas vindas das periferias coloniais
que não procuraram fazer escala nos Açores.
Daí que o refresco, o repouso dos mareantes e a reparação
das embarcações, assim como o corso, a pirataria
e o contrabando, tenham conferido às nossas ilhas uma
excepcional importância geo-estratégica.
Dispersas ao longo de mais de 600 km, situadas em pleno
Atlântico e bem distantes dos continentes, as ilhas
dos Açores foram, na verdade, um entreposto quase obrigatório,
um ponto-charneira do movimento que ocorria no Oceano Atlântico.
Inserido, logo nos séculos XV e XVI, no complexo mediterrânico
através do comércio dos grãos, o espaço
açoriano participou ainda nas trocas com o complexo
atlântico, graças ao açúcar e,
sobretudo, ao pastel. Angra, a “Universal Escala do
Mar Poente”, afirmou-se, é certo, como centro
à escala regional, mas as restantes ilhas também
se integraram nesse movimento, ligando-se, assim, umas às
outras e ao Mundo.
Historicamente, as grandes rotas, e muito especialmente a
das Índias Ocidentais, deram unidade a ilhas que, geograficamente,
não conseguiam estabelecer inter-relações.
Com efeito, a descontinuidade geográfica do nosso arquipélago
só foi verdadeiramente contrariada quando as grandes
rotas transoceânicas passaram a unir as ilhas então
conhecidas como “florenses ou corvinas” às
demais “ilhas de baixo” e estas às do grupo
oriental. Porque só assim se forjou aquilo a que chamaram
uma “fruste identidade arqui-insular” e os Açores
puderam integrar-se totalmente na civilização
cristã ocidental. Na verdade, a sociedade açoriana
foi moldada, largamente, pelos contactos e relações
com o exterior. Desde cedo que a economia aliou o auto-consumo
à produção mercantilizada e que as populações
viveram da terra com olhos que, como disse Nemésio,
“mergulham no mar”; num mar que, mesmo entre duas
ilhas e ainda que próximas, era (é) “grosso
e desencontrado”; num mar por onde se efectuava a mundialização
das trocas dos bens, das informações e das pessoas
e por onde, desde cedo, partiram gentes de diversificadas
condições sociais que, ao fixarem-se noutras
paragens, participaram na construção de novos
domínios do ultramar português e de outros espaços,
com destaque, naturalmente, para o grande Mundo Atlântico.
No que à emigração diz respeito, pode
ser afirmado que ela tem sido desde o século XV e quase
até à actualidade, uma constante, um dos fenómenos
mais marcantes da História de Portugal, influenciada,
naturalmente pela descoberta e colonização de
novos espaços. Trata-se de um fenómeno que se
enquadra num movimento mais vasto, o da Expansão Europeia,
direccionado para o Novo Mundo. E é um movimento muito
difícil de quantificar. Efectivamente, as fontes não
são tão abundantes quanto o desejável,
sendo algumas de duvidosa fiabilidade, surgindo ainda, como
obstáculos a tal quantificação, a clandestinidade;
o retorno e o movimento dos que cumpriam algumas funções
burocráticas e militares; e ainda a mobilidade dos
extractos mais baixos e das franjas da sociedade. Porém,
o que é certo é que, como tem sido afirmado,
o Império Português se caracterizou por um permanente
fluxo e refluxo de gentes das mais variadas condições
sociais e com distintos objectivos.
Foi o que aconteceu com alguns milhares de açorianos
que, após a colonização, desde cedo,
muito cedo, procuraram noutros espaços a solução
para as muitas adversidades com que deparavam nas ilhas. Os
fenómenos sísmico-vulcânicos – não
constantes, episódicos, mas frequentes - e, sobretudo,
as estruturas socio-económicas arcaizantes, a par com
o espírito de aventura, o sonho, a vontade de ultrapassar
os limites apertados das ilhas e conhecer novos mundos, levaram
à saída de muitos. Saídas que ocorreram
em movimentos de colonização enquadrados pela
Coroa, mas também por iniciativa própria, legal
ou ilegalmente, e que, em certas épocas, chegaram a
condicionar a própria dinâmica populacional dos
Açores. Saídas de gentes com uma sabedoria experimentada
em aventuras e ousadias e em deslumbramento perante o nunca
dantes visto, mas também em capacidades de sofrimento
e de imaginação, persistência e muita
fé, argúcias e desembaraços e, ainda,
desdém pelos imprevistos; de gentes que foram, desde
cedo, aprendendo o sentido da agora muito invocada globalização,
integrando a escassa terra do seu arquipélago da lonjura
na relativa grandeza dos longínquos continentes.
Neste espaço que fomos – e ainda somos –
de dispersões, edificado por partidas e por chegadas,
as primeiras notícias sobre a possibilidade de saídas
datam de meados do século XVI. Pela carta do Corregedor
Dr. Manuel Álvares, de Maio de 1541, se vê que
já nessa época se considerava viável
recrutar gentes dos excedentes de que então se dispunha,
referindo o agente régio que de S. Miguel se podiam
tirar 300 cavaleiros, cada um deles acompanhado de dois peões.
Alguns anos depois, em 1550, a Coroa cometia ao Provedor das
Armadas Pêro Anes do Canto a tarefa de recrutar açorianos
que deveriam ser encaminhados para o Brasil, a fim de participarem
na fundação da Baía, disponibilizando
a Coroa, como se verificou depois, nas duas centúrias
seguintes, meios de transporte e prometendo, como forma de
aliciamento, a concessão de terras. Note-se, contudo,
que já cerca de 1529, e não obstante a recusa
do monarca, João de Melo da Câmara, irmão
do capitão do donatário de S. Miguel, propusera
a D. João III, em troca da atribuição
de direitos semelhantes aos concedidos aos seus antepassados
nas ilhas atlânticas, colocar, em 2 viagens, 1000 povoadores
na “Província de Santa Cruz”, sem qualquer
gasto para o tesouro régio.
Da saída de gentes de Santa Maria para o Brasil, em
1579, fala-nos o Cronista das Ilhas no seu Livro Terceiro
das Saudades da Terra. Diz o douto Gaspar Frutuoso: “O
mesmo Diogo Fernandes Faleiro tem na sua vinha, no meio da
rocha feito, um lagar de uma só pedra, muito bem feito,
em que faz todo o seu vinho, e o mesmo, no ano de mil e quinhentos
e se¬tenta e nove (porque não é bem passar
com silêncio uma obra de tanto louvor), sendo de muita
esterilidade, como haviam sido já outros atrás,
de que ficaram os moradores da ilha tão atribu¬lados
e pobres, que não se podiam manter nela, vendo ele
alguns parentes seus em semelhante aflição,
os persuadiu que se quisessem sair daquela miséria
e se fossem para o Brasil, para o que gastou com eles, provendo-os
de todo o necessário para sua embarcação,
duzentos mil reis, e mais não sendo ele tão
rico, que pudesse fazer tão grossa esmola, sem notável
trabalho seu e despesa de sua fazenda, ajudando-os, e, além
da dita despesa, com diligências e ocupações
de sua pessoa e dos seus, de sua casa, a embarcar, animando-os
com grande fervor e caridade". E é interessante
constatar que João de Fontes de Morais, natural de
Santa Maria, testou a 20 de Junho de 1633, na Vila de S. Bernardo
de Torriza da Fronteira, no Peru, onde diz estar há
mais de 36 anos.
Ao longo dos séculos XVII e XVIII, a emigração
açoriana para o Novo Mundo tornou-se cada vez mais
frequente, cabendo, muitas vezes, a iniciativa aos grupos
dirigentes, interessados em canalizar gente para terras brasileiras.
Alguns milhares de açorianos avançaram para
o Brasil e foram em elevado número os marienses que
integraram esse frequente e intenso fluxo emigratório.
A variada documentação de que dispomos para
a História da Ilha de Santa Maria põe em relevo
a existência desse fluxo. Testamentos, legados pios
e instituições vinculares, bem como diversos
actos notariais, entre os quais se salientam inúmeras
procurações, revelam todo um vasto e intenso
movimento; uma deslocação que, na centúria
seiscentista teve, fundamentalmente, como destino final o
Maranhão, mas que levou à fixação
de marienses em diversos locais do Brasil. Belém, Baía,
Recife, Olinda, Rio de Janeiro e diversas “Vilas e lugares
das Minas”, assim como Mato Grosso, foram locais de
instalação de marienses; de gentes, por vezes
de elevada condição social, que, ao fixarem-se
nesses “novos” espaços, concorreram para
a construção da realidade brasileira e, simultaneamente,
para a da sua própria ilha.
A Mestre-de-Cerimónias Flávia
Correia
A finalizar, e depois de citar inúmeros
documentos, mormente testamentos, ficámos a entender
um fenómeno curiosíssimo que é o da introdução
de uma parte da escravatura negra do Brasil em São
Miguel e Santa Maria por via de legados às famílias
dos que acumularam bens e propriedades no Maranhão
– neste caso específico. Ou seja: os escravos
eram considerados como bens idênticos a qualquer outra
propriedade móvel ou imóvel. Logo, parte integrante
dos testamentos por morte dos proprietários. Muitos
desses “bens” acabaram por vir parar às
mãos de herdeiros naturais e residentes nas ilhas.
A cor da pele e certos traços fisionómicos
podem esvanecer-se ao cabo de cinco gerações.
Contudo, o ADN, o genoma helicoidal permanece nas veias e
nos tecidos de muitos açorianos vivos. Como seria interessante
fazer um estudo actual sobre isso!